sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Interpretação de forma equivocada?

Por incrível que possa parecer, o ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo teria recebido unânime apoio de líderes dos partidos da base aliada, em tom de desagravo, por meio de discursos enaltecendo a extraordinária importância dele no governo, em que pesem as graves acusações sobre o emprego do cargo público para influenciar a administração pública a adotar medida em benefício de seu interesse.
Para confirmar o apoio ao interlocutor político do governo, os líderes assinaram documento que foi entregue em solenidade formal, na sede do governo, que já havia chancelada a permanência do ministro no cargo até a data de hoje, quando ele pediu exoneração, que foi aceita pelo presidente.
O líder do governo na Câmara dos Deputados fez questão de ressaltar que o documento a favor de ministro baiano havia sido elaborado na segunda-feira, mas a sua entregue é feita somente depois porque os líderes gostariam de estar presentes ao ato, evidentemente em demonstração de solidariedade ao até então “inatingível” ministro.
O líder do DEM reconheceu que o ex-ministro errou ao envolver o governo federal em assunto “pequeno”, “paroquial”, mas justificou que “todos somos falíveis”. Para ele, o ministro cometeu “falha humana” ao “tratar de um assunto que não caberia”, mas ponderou que “é preciso passar por cima disso e pensar nos grandes problemas nacionais, ainda mais que o pedido (para interceder na manutenção da obra de interesse dele) não foi aceito”.
O citado líder comentou que o comportamento do ex-ministro “não é adequado”. “Mas temos problemas enormes no país para resolver”. O parlamentar amazonense disse ainda que o ministro deu explicações e todos entenderam e que houve “interpretação de forma equivocada” por parte do ex-ministro da Cultura.
Embora o prefeito de Salvador tivesse assegurado que “não há nenhum problema com o empreendimento”, o ex-ministro da Cultura acusa o ex-interlocutor político de tráfico de influência, por defender a liberação de um prédio em área histórica, que havia sido embargado pelo Iphan, no qual o ministro tem um apartamento, comprado na planta.
Ou seja, para os líderes da base do governo, tudo não passou de “interpretação de forma equivocada” por parte do ex-ministro da Cultura, que teve terrível dificuldade para entender a real finalidade do ex-ministro baiano, que não era exatamente pedido indecente e indigno, no sentido de macular a nobreza do exercício de cargo público.
Ao que tudo indica, o desastroso equívoco de interpretação por parte do ex-ministro quase põe por terra não somente o edifício em questão, mas a “ilibada” reputação do ex-interlocutor político do governo, que somente se houve no caso com as melhores das intenções, ao ponderar que o embargo da obra poderia prejudicar a segurança jurídica dos investidores do empreendimento, além de comprometer muitos empregos.
Ainda bem que os líderes tiveram a “sensatez” e a “sensibilidade” que faltam aos brasileiros honrados e honestos, que são incapazes de compreender a magnanimidade do ex-ministro baiano, que soube tratar com muita “diplomacia” assunto que o ex-ministro foi insensível ao não compreender as “boas” intenções de seu ex-colega de governo.
Ante o desenrolar dos acontecimentos, vê-se que o país precisa evoluir com muitíssima rapidez para conseguir acompanhar a “visão” futurista dos líderes do Parlamento, de modo a não censurar injustamente mera "falha humana", porque, na realidade, a intenção do ex-ministro baiano não era absolutamente o que muitos estão imaginando, ante a falta de maldade na conduta dele, em defender bravamente a liberação do empreendimento onde ele tem uma unidade residencial, exatamente na parte embargada, o que vale dizer que ela não será construída, caso a obra continue embargada, que parece ser o destino dela.
O certo é que o episódio mostra, com todas as letras, o quanto os políticos tupiniquins não conseguiram aprender absolutamente nada sobre o mar pútrido que banhou, no passado recente, as mentes de muitos homens públicos, cujas avalanches resultaram nas crises moral, política, econômica, administrativa, entre outras, que levaram o país ao estado lamentável que ele luta para superá-lo.
A atitude de cumplicidade do presidente do país com o malfeito de seu agora ex-ministro tem efeito complicador, porque ele se torna refém do sistema de banalização da impunidade que toma conta da administração pública, com o explícito apoio a uma situação visivelmente deplorável que só teria uma solução para o caso, qual seja, o imediato afastamento do ministro do cargo, com a finalidade da imparcial apuração do affaire, em demonstração da autoridade da República, que se impõe em casos graves como os inadmissíveis tráfico de influência e abuso de poder. Acorda, Brasil! 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
         Brasília, em 25 de novembro de 2016

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