Segundo
a mídia, a Holanda registrava, há dez anos, uma das maiores populações
carcerárias da Europa, mas esse quadro se transformou de forma positiva, na
atualidade, com a proporção de 57 pessoas presas em cada 100 mil habitantes, em
comparação com 148 por 100 mil no Reino Unido e 193 no Brasil, que padece da
crônica superpopulação carcerária, em presídios superlotados, comparáveis a
verdadeiros infernos terrestres.
Quase
todos os países do mundo se debatem com insuperáveis problemas de superlotação
no sistema carcerário, mas aquele país se encontra em estágio bastante avançado
de superação dessa drástica situação, ou seja, lá há escassez de criminosos para
trancafiar, a exemplo do fechamento, nos últimos anos, de 19 prisões e outras deverão
ser desativadas no próximo ano, em obediência ao decréscimo acentuado da
população carcerária.
O
diferencial para se alcançar esse avançado estágio de mentalidade carcerária
está na forma como o condenado é tratado, levando-se em conta o verdadeiro
sentido prisional, que tem por essência o cumprimento da pena e a recuperação
do ser humano que cometeu crime contra a sociedade.
Um
diretor do sistema carcerário afirmou que "Aqui na Holanda, nós olhamos para o indivíduo. Se alguém tem um
problema com drogas, tratamos o vício. Se é agressivo, providenciamos gestão da
raiva. Se tem dívidas, oferecemos consultoria de finanças. Tentamos remover o
que realmente causou seu crime. É claro que o detento ou a detenta precisam
querer mudar, mas nosso método tem sido bastante eficaz.".
O
diretor disse ainda que alguns reincidentes no crime normalmente recebem
sentenças de dois anos e programas personalizados de reabilitação e menos de
10% voltam à prisão, enquanto, em países como Reino Unido e EUA, cerca de 50%
dos detentos que cumprem pequenas penas voltam a ser presos nos primeiros dois
anos, após a libertação. Nas mesmas condições, no Brasil, estudos revelam que a
taxa geral de reincidência chega até 70%.
O
diretor deu o exemplo de uma prisão de segurança máxima que se encontra localizada
em área com bastante espaço, cujo pátio tem a dimensão de quatro campos de
futebol, onde têm carvalhos, mesas de piquenique e redes de vôlei, permitindo
que o ar fresco da região possa contribuir para reduzir o estresse tanto dos detentos
quanto dos guardas.
Nesses
locais, os detentos podem andar "à vontade
por áreas comuns como biblioteca, departamento médico e cantina, e essa
autonomia os ajuda na readaptação à vida em liberdade.”.
Não
obstante, os bem executados modelos de programas de reabilitação não são a
única razão para o sensível declínio de 43% no número de pessoas atrás das
grades naquele país, que registrava 14.468 detentos, em 2005, tendo alcançado vertiginosa
queda para 8.245 presos, em 2015.
O
pique da população carcerária verificado em 2005 foi expressivamente
contribuído depois da implantação do aumento e do aperfeiçoamento da segurança no
principal aeroporto de Amsterdã, tendo como consequência a gigantesca
quantidade de prisão de "mulas", que traficavam entorpecentes
proibidos.
Já
especialistas entendem que houve mudança das prioridades do policiamento, ou
seja, “Eles mudaram o foco das drogas
para concentrar esforços no combate ao tráfico humano e ao terrorismo".
Também
contribuíram para a diminuição da população carcerária as modalidades de penas
aplicadas aos criminosos, por meio de penalidades alternativas à prisão, a
exemplo de trabalhos comunitários, multas e monitoramento eletrônico, ficando
dispensado o encarceramento de pessoas.
A
diretora do serviço penitenciário da Holanda disse que o encarceramento se tornou
regra aplicável para os casos envolvendo criminosos de alta periculosidade ou
para detentos em situação vulnerável, que podem se beneficiar dos programas
disponíveis, com vistas à sua recuperação social.
Ela
disse que "Às vezes é melhor que
pessoas fiquem em seus empregos e suas famílias, e que cumpram a pena de outra
forma. Como temos penas mais curtas e
uma taxa de criminalidade em queda, isso está levando a celas vazias".
Naquele
país, as prisões desativadas estão sendo convertidas em centros de triagem para
refugiados, que se traduzem em oportunidade de trabalho para guardas que
perderam o emprego. Mas uma unidade nas imediações de Amsterdã foi convertida
em um hotel de luxo.
Aproveitando
o esvaziamento de presídios, o governo holandês passou a alugar as celas
ociosas para prisioneiros de países com problemas de superlotação carcerária,
como os vizinhos Bélgica e Noruega.
Nesses
casos, os guardas são holandeses, mas o sistema penal norueguês é mais liberal
que o holandês, porque os prisioneiros da Noruega têm a liberdade para dar entrevistas
e assistir aos DVDs que quiserem, entre outras liberalidades, sob o império do princípio
básico da normalização, ou seja, o de que a vida na prisão deve ser o máximo
possível parecida com a do mundo fora dela, justamente para contribuir à reintegração
dos presos.
O
diretor do sistema carcerário disse que "Fazemos as coisas de maneiras diferentes. Aqui (na Holanda), tomamos ações disciplinares assim que um
prisioneiro quebra as regras, ao passo que os noruegueses primeiro abrem
inquérito e depois tomam providências. Esse estilo confundiu os guardas no
começo. Mas, no geral, compartilhamos
os mesmos valores básicos sobre como administrar uma prisão".
Trata-se,
como se vê, de questão que demanda, em muito, a vontade política para que o
sistema carcerário funcione com eficiência e possa corresponder exatamente às
expectativas que dele se espera, que é a recuperação e reintegração do
criminoso na sociedade, como pessoa capaz de contribuir para o bem comum.
Os
países que conseguiram diminuir a população carcerária tiveram a dignidade de
equacionar os problemas prisionais e a decência de implantar as medidas
necessárias à sua solução, por meio de métodos atualizados de tratamento e
compreensão com as pessoas fragilizadas pela sua condição de delinquente, que
normalmente não passam de verdadeiras párias da sociedade.
A
realidade mostra que ninguém, muito menos as autoridades públicas incumbidas de
cuidar e zelar pelo sistema carcerário, demonstra o menor esforço para mudar
esse quadro degradante que é imposto nos presidiários tupiniquins, que são
jogados às verdadeiras masmorras medievais, quando não são piores ainda, porque
elas são normalmente infectas, superlotadas e ainda recebem cruéis, terríveis e
generalizados desprezos, motivando constantes e naturais rebeliões diante dos
tratamentos indignos e desumanos.
Em
que pese o volumoso dispêndio com os presos, bem superior em relação ao gasto
com educação, em caso específico, conforme denunciou a presidente do Supremo
Tribunal Federal, o governo não esboça nenhuma iniciativa com vistas a estudar,
tendo por base brilhantes medidas implantadas em países desenvolvidos, com
vistas a solucionar, ou atém mesmo minimizar, a gravíssima situação do sistema
penitenciário brasileiro, que se traduz em vergonhosa pobreza em termos de humanização,
que ainda tem o condão de animalizar cada vez mais as pessoas encarceradas,
diante do tratamento desumano que ali é dispensado pelo Estado.
Urge
que o arcaico e obsoleto sistema carcerário brasileira passe por completa reformulação,
mediante os indispensáveis aperfeiçoamento e modernização que se impõem, à
vista das conquistas da humanidade, que exigem que as pessoas sejam tradadas
com dignidade, respeito e humanidade, sob o princípio de que a degradação das
pessoas trancafiadas nas masmorras tupiniquins, nas condições atuais, somente
contribui para destruir moral e psicologicamente ainda mais o verdadeiro
sentido de ser humano, cujo trauma pode servir para a consolidação do ímpeto
natural de delinquência. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 15 de novembro de 2016
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