segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Desabafos contra a imoralidade

Em desabafos ao Fantástico da Rede Globo de Televisão, o ex-ministro da Cultura disse que “Ficou patente que altas autoridades da República perdiam tempo com um assunto absolutamente paroquial.”, no qual ele aproveitou para apresentar os reais motivos para justificar a decisão de pedir demissão do cargo, que implicou na detonação de crise aguda que já dura, no governo, por mais de uma semana.
Na versão dele, os fatos foram motivados pela forte pressão que teria sofrido por parte do então colega ministro da Secretaria de Governo, para a liberação de construção de edifício de alto padrão em Salvador, no qual o baiano teria adquirido uma unidade, cujo empreendimento teria sido embargado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em razão da sua localizado em área tombada como Patrimônio Cultural da União.
Os fatos mostram que o imbróglio chegaria a envolver o nome do próprio presidente do país e resultaria na exoneração do ministro da Secretaria de Governo, potencial interessado na aprovação do projeto em questão.
O ex-ministro da Cultura confirmou que fez gravações de conversas com nomes importantes da cúpula do governo, inclusive do presidente do país, conforme depoimento já prestado à Polícia Federal, no qual ele disse que o presidente brasileiro o havia “enquadrado”, ao sugerir saída do caso por meio da Advocacia Geral da União, embora o peemedebista tenha admitido que apenas tentou buscar “arbitrar conflito” entre ministros e negado que o tivesse pressionado por saída para o caso.
O presidente classificou de “indigno” possível ato de gravar suas conversas.
Não obstante, o ex-ministro da Cultura disse que “até por sugestão de alguns amigos na Polícia Federal”, gravou várias ligações telefônicas para se municiar de elementos nas denúncias que faria. Só uma dessas gravações – de conteúdo “protocolar”, nas suas palavras – teria sido com o presidente, mas “Foi a conversa da minha demissão”, tendo deixado no ar, sem precisão, possíveis gravações com ministros, dizendo que “Não posso responder a essas perguntas”, para não prejudicar a investigação em curso.
Ele teria se queixado de ser alvo de “boataria” de ter pedido segunda audiência com o presidente, no mesmo dia, só para gravar a conversa, tendo afirmado que, “Por ser diplomata, eu jamais entraria no gabinete presidencial para fazer isso”.
O ex-ministro da Cultura disse que o presidente, em conversa inicial, deu razão a ele diante sobre a decisão adotada no caso em tela, mas em um segundo encontro, em seguida, ele teria se decepcionado ao ouvir o presidente falar em outro tom menos amistoso, nestes termos: “Marcelo, eu tenho muito apreço por você, mas essa decisão do Iphan nos causou bastante estranheza.”.
O presidente reclamou que a decisão do Iphan teria causado “dificuldades operacionais”, porque “... o ministro Geddel teria ficado muito irritado.”. Foi quando o presidente o recomendou que o caso fosse encaminhado à Advocacia Geral da União, tendo ponderado, em tom de consolo: “Marcelo, a política tem dessas coisas.”.
O diplomata rejeitou insinuações de que teria sido desleal, ao afirmar que “O servidor tem de ser leal, mas não cúmplice. Me choca ver que interesses particulares ainda prevaleçam”.
Em conclusão, ele deu sua interpretação para as razões da crise: “Eles acharam que eu faria qualquer coisa para preservar meu cargo de ministro. Mas não faria nada que não concorde, por cargo nenhum.”.
Não há a menor dúvida de que chega a ser incrível e dificílimo ser honesto no meio de plêiade de desonestos, que ainda conseguem enganar o povo, ao se passarem por pessoas capacitadas e cheias de bons propósitos, mas, nos bastidores, continuam agindo e aprontando com suas presepadas em nome de seus inescrupulosos interesses pessoais e, muitas vezes, corporativistas, em detrimentos das verdadeiras causas nacionais, conforme mostram os fatos.
Os homens públicos precisam se conscientizar sobre o que seja exatamente o sentido da expressão “interesse público”, como forma de se entender também a dimensão dos temos “dignidade” e “honestidade”, para simplesmente não acharem que ser gravados são coisas de mau caráter, de indignidade, porque gravações em si podem servir para  mostrar exatamente o verdadeiro sentido da dignidade, quando nelas encerram não somente as versões, mas os fatos acontecidos, que precisam prevalecer para sempre, por conterem a verdade incontestável.
Não somente choca, como também estarrece que, em pleno século XXI, presidente do país, com as potencialidades do Brasil, ainda tenha a insensibilidade de ficar arbitrando interesse particular de pessoa ligada ao seu gabinete, simplesmente porque ela teria ficado irritada por não ter conseguido manobrar o direcionamento de questão na forma que pudesse atender facilmente seus objetivos particulares, mais precisamente o desembaraço de projeto imobiliário no qual ela havia adquirido uma unidade.
Essa desculpa fajuta de conflito de interesses entre órgão do governo não tem cabimento, tendo em vista que se tratava mesmo era de interesse contrariado do ex-ministro de interlocução do governo, que se desesperou ao ver que seu intento não progredia na forma por ele planejada, qual seja, na base da sua poderosa influência dentro do governo, onde foi mobilizado batalhão de servidores públicos da nata da administração, desde ministros até o próprio mandatário do país, em absurda estratégia que é extremamente reprovável e inadmissível, notadamente em termos ético e moral.
Convém se notar que jamais haveria tanto empenho na aprovação de projeto imobiliário pelo ex-ministro baiano se não tivesse em jogo interesse prejudicado no negócio, que rolara de ladeira abaixo com o embargo promovido pelo Iphan, que apenas teria agido em conformidade com a legislação de regência, sem necessidade alguma de haver estudo jurídico para se dirimir conflito de entendimento, eis que a decisão final foi adotada por quem tem competência legal para assim proceder.
Certamente que, nem nas republiquetas, ainda possam ocorrer situações vexatórias como essa envolvendo a máquina pública, porque lá há consciência sobre a real finalidade do que seja a aplicação dos princípios ético, moral, legal e impessoal, entre outros, na administração pública, onde deve sempre prevalecer o primado do interesse público.
O governo precisa ter a humildade de reconhecer que errou gravemente e que a lição extraída desse caso deva servir de exemplo para que fatos semelhantes a ele jamais voltem a ocorrer na administração do país, porque os esforços desperdiçados nesse imbróglio poderiam ter sido aproveitados em outras atividades em benefício do país, ou seja, do interesse público. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
         Brasília, em 28 de novembro de 2016

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