quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Abominável cartão

Na semana passada, a ex-presidente da República petista solicitou ao governo federal o cartão-combustível, sob a alegação de que os ex-presidentes do país têm direito à vantagem em apreço.
Trata-se da cota correspondente ao valor de R$ 3 mil mensais que já são concedidos aos dois presidentes anteriores a ela, embora, sob a ótica da legalidade, não se vislumbre amparo plausível para a esdrúxula concessão desse benefício.  
À toda evidência, é caso de puras insensibilidade e insensatez demonstradas por ex-presidentes que, entre outras regalias, ainda reivindicam benefício de sensível exorbitância, eis que o valor do cartão-combustível supera a suficiência para a aquisição de mais de 800 litros de gasolina, quando, por mais que haja consumo, jamais qualquer um ex-presidente conseguiria atingir um terço do valor autorizado.
Não é de se surpreender que os demais ex-presidentes solicitem o benefício em tela, mas é muito estranho que o ex-presidente tucano seja integrante dessa abominável mamata, em se tratando que todos têm suas aposentadorias e, convenhamos, ninguém usa os veículos em benefício do interesse público, mas sim em finalidade pessoal.
A aceitação do cartão-combustível pelos ex-presidente somente contribui para demonstrar a pequenez daqueles que embolsam a “bolsa gasolina”, porque, além de não ser justo, certamente o valor corresponde excede às necessidades mensais de consumo e pode significar abuso de autoridade e até mesmo de apropriação indébita, ante a inadequação entre o consumo de combustível e o valor repassado aos beneficiários.
Três mil reais, por mês, compra mais de 800 litros de gasolina, o que revela a tremenda falta de critério para a concessão de vantagem para quem nada produz em benefício do interesse público.
Enquanto os ex-presidente estiveram no exercício do cargo, eles foram regiamente remunerados, com os vencimentos e as mordomias próprias dos Palácios do Planalto e da Alvorada, não sendo justo que eles continuem percebendo qualquer vantagem ou benefício, ante a grave crise econômica do país.
Depois da saída dos presidentes do cargo, não há motivo algum que possa justificar qualquer benefício para eles, porque nada serve de parâmetro para justificar e corresponder ao generoso bônus propiciado para eles, eis que eles não exercem mais qualquer função pública.
Com certeza, nos países sérios, civilizados e desenvolvidos econômico e democraticamente, além de não existir norma assegurando vantagem com tamanha extravagância orçamentária, os homens públicos têm sensatez e dignidade de não demandar ação para se obter algo indecente e indevido, como o famigerado cartão-combustível.
Essa farra com dinheiro público precisa ser urgentemente revista, em consonância com a grave crise econômica por que passa o país, cuja reparação dos estragos não pode ser atribuída somente aos já sobrecarregados contribuintes, que ainda são obrigados a arcar com gastos abusivos e absurdos, como as eternas mordomias de ex-presidentes, os quais certamente inexistem nas republiquetas, em especial porque nada justifica tamanha generosidade, ainda em pleno século XXI, com recursos públicos.
Urge que o governo federal se conscientize sobre a necessidade de serem revistos os dispêndios indevidos e injustificáveis, por que não atendem ao interesse público, na linha do desperdício como o consignado com o cartão-combustível e outros assemelhados a ele, como forma de contribuir para a contenção e a austeridade indispensáveis neste tão grave momento de crise econômica, em que o sacrifício precisa ser compartilhado, de forma isonômica, com os brasileiros. Acorda, Brasil! 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 17 de novembro de 2016

Nenhum comentário:

Postar um comentário