quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Os perversos efeitos do olho grego

Certa feita a ex-presidente da República petista, conhecida por ser bastante supersticiosa, teria contado a alguns de seus assessores que entrara em 2016 carregando no pulso esquerdo sua antiga pulseira de olho grego, que ela considerava poderoso talismã para espantar o mau olhado e as energias negativas.
Não sabia ela que, à vista da economia em frangalhos, fruto da sua incompetência, com a popularidade dela em acelerado ritmo de queda, sob grave crises política e administrativa e pouquíssimo apoio no Congresso Nacional, o olho grego não teria a mínima condição de reverter as terríveis turbulências que inevitavelmente aconteceram no decorrer do ano que ela imaginava atravessar sem os transtornos que a levaram ao ostracismo político.
Ainda acreditando no seu talismã, a ex-presidente dizia aos seus interlocutores que o processo de impeachment contra ela jamais vingaria e ela triunfaria sobre seus opositores.
Ainda em 2015, a petista, no alto da sua petulância, pontificava: “Não acharam nem vão achar uma vírgula que possa me incriminar. Tem gente que quer que o céu caia sobre a minha cabeça, mas eu aguento bem a pressão. A única pessoa que pode derrotar você é você mesma”.
Em que pese a retórica, que não passou de mera tentativa de resistência, na verdade, a ex-presidente foi obrigado a enfrentar dramáticos momentos de depressão, antes e depois da largada do processo de impeachment, cujo desespero foi ao auge depois da eleição de chapa composta por maioria de oposicionista para a Comissão Especial que tinha a incumbência de analisar o pedido de seu afastamento.
Nesse momento, a petista teria perguntado a assessores: “Quer dizer que vamos perder tudo?”, uma vez que a estratégia utilizada pelo então presidente da Câmara dos Deputados, com a adoção do voto secreto, teria o condão de favorecer a sanha da oposição contra ela.
Não obstante, logo depois, o Supremo Tribunal Federal contribuía para aliviar momentaneamente a tensão, quando decidiu que a Câmara deveria dar a palavra final sobre o impeachment em votação aberta, contrariando o entendimento estabelecido pelo então presidente da Câmara.
Ainda na mesma ocasião, um ministro do Supremo, que votou contra o governo, disse que “Se um presidente não tem apoio de 1/3 dos deputados, fica difícil a governabilidade”.
Quando a situação só piorava, o ex-presidente passou a reclamar da sua “criatura”, ao dizer que ela não o ouvia e só dava “notícia ruim” e ainda deixava que o ajuste fiscal e a Lava-Jato dominassem a agenda do país e alfinetou, dizendo que “Eu não posso falar mal dela, mas também não tenho motivos para falar bem”, mas a então presidente ficou furiosa quando o petista disse que tanto ele como a sucessora estavam “no volume morto”, em alusão ao baixo nível das águas do reservatório do Cantareira, em São Paulo.
A então presidente se sentiu no inferno administrativo quando o Tribunal de Contas da União rejeitou a prestação de contas do governo, referente ao ano de 2014, porque os fatos ganharam contornos de gigantesca dramaticidade, diante da abertura do caminho muito bem pavimentado para o impeachment, com base nas pedaladas fiscais, que são manobras que consistiam em atrasar repasses do Tesouro aos bancos oficiais, para pagamento de programas sociais, com destaque para o Bolsa Família, sempre considerado a bola mágica de cristal do governo, por ele ter sido escolhido como o programa garantidor de muitos votos, com capacidade para ganhar qualquer eleição.
Já com processo do impeachment em tramitação, a casa da então presidente caiu de vez com a retirada do PMDB do governo, que entregou os cargos que ocupava e partiu para se aliar aos ferrenhos opositores, em especial com o PSDB, em viva demonstração de que o processo de impeachment era realmente irreversível e definitivo.
Naquele momento, a situação da então presidente já era mais do que crítica e não adiantariam inúteis esboços de estratégias de reação ao agravamento das crises, com vistas à salvação do governo, que estava com suas estruturas fragilizadas e minadas pelos transtornos decorrentes da inflação em alta, do desemprego galopante, do “pibinho” derretendo a economia, da perda do grau de investimento, da falta de investimentos, entre tantas mazelas que ajudavam a encurralar a presidente ao canto mais estreito de sua gestão, que se comprimia pelos insucessos da gestão e pelas revelações sobre o escândalo dos esquemas criminosos operados pelo PT e aliados na Petrobras, a ponto de destruir as estruturas da maior empresa do país.
A avalanche de casos de total destruição dos interesses do país contribuiu para o afastamento definitivo da então presidente, que teria sido responsável por governo de extrema insensatez, quando não teve condições gerenciais de perceber o sucateamento dos hospitais, a decadência e precariedade da educação, o assustador crescimento da criminalidade e da violência, a alarmante elevação do desemprego, o rombo nas contas públicas, entre inumeráveis situações degradantes que contribuíram para infernizar a vida dos brasileiros.
Na realidade a sociedade foi obrigada a conviver com governo que tinha como único objetivo a absoluta dominação das classes política e social e a perenidade no poder, sempre empregando, para tanto, mecanismos visivelmente contrários aos princípios da moralidade, competência e ineficiência, em proveito de interesses pessoais e partidários, conforme mostram os fatos vindo à tona.
Um pouco de perspicácia poderia ter levado a então presidente a se olhar no espelho, onde poderia ter encontrado, de corpo e alma, a sua maior adversária, porque se encontrava ali a pessoa refletida no espelho que conseguiu causar os piores e dramáticos problemas ao seu governo e de consequência ao país, por meio da omissão, incompetência e deficiência de toda ordem, permitindo a desestruturação administrativa e a desmoralização da nação.
À época, à vista do que se ouvia da população sobre a gestão da petista, era verdade que os brasileiros gostariam que o céu caísse sobre a cabeça dela, conforme a sua conclusão, diante da fúria e da antipatia que eram sentidas contra a sua gestão, que teria sido a pior possível para a nação, que digam os brasileiros, por não suportarem mais tanta incompetência na gestão dos recursos públicos, principalmente com a gastança que causara enorme rombo nas contas públicas, a par da recessão econômica que tiveram como consequência os inaceitáveis desemprego, aumento da inflação, da taxa de juros e das dívidas públicas, redução da arrecadação, desindustrialização, falta de investimentos públicos e privados e tantas mazelas que contribuíram fortemente para atravancar o desenvolvimento do país.
Infelizmente, o governo petista foi incapaz de evitar que agências de classificação de risco retirassem o selo de "bom pagador" do país, fazendo com que os investidores deixassem de acreditar que o Brasil pudesse garantir o retorno do dinheiro aplicado por eles, fato que teve como consequência a inexistência de investimentos, que são indispensáveis ao desenvolvimento da economia.
Também não poderia ter deixado de sopesar a intensificação da corrupção na administração pública, em especial na Petrobras, cujos esquemas foram capazes de desestruturá-la operacional, financeira e economicamente, tornando-se empresa sem expressão no contexto internacional, devido ao seu altíssimo grau de endividamento e de descapitalização.
Ou seja, diante dos malefícios que a gestão da então presidente fez contra os brasileiros, a queda do céu na sua cabeça, que realmente aconteceu com o seu impeachment, funcionou como verdadeiro prêmio para os brasileiros, diante da possibilidade do estancamento das políticas ineficientes e improdutivas, que somente prejudicavam os interesses nacionais e beneficiavam os projetos pessoais e partidários de quem se encontrava no poder, que foi pródigo em fisiologismo, aparelhamento e beneficiamento a entidades sociais apoiadoras dos programas estrategicamente estruturados para a consolidação da plena dominação e da perenidade no poder. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 02 de novembro de 2016

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