terça-feira, 4 de abril de 2017

A sanha do destempero

Os fatos mostram, com clareza meridiana, que muitos homens públicos, desesperados no seu interior, diante das acusações de prática de corrupção, tentam agredir, com atitudes e palavras repletas de ofensas e críticas pesadas aos integrantes, em especial os coordenadores, da Operação Lava-Jato, como é o caso do principal político brasileiro, pretenso candidato à Presidência da República, no próximo pleito, deixando explícita e deliberada colisão de seus atos com o ordenamento jurídico.
Isso fica muito claro no tom raivoso do maior político da atualidade, que qualificou de “moleque” um procurador, em demonstração de indignação pelo resultado das investigações que revelam indícios da prática de corrupção atribuída ao político, que não se conforma com a situação de ter sido ex-presidente, ao imaginar que estaria acima de qualquer suspeita, tanto que se intitula o homem mais honesto da face da Terra.
É evidente que a citada menção de moleque pode ter como consequência o enquadramento de quem a proferiu, no mínimo, no crime de injúria e desacato à autoridade, se ele não consiga provar que fala a verdade, ou seja, caso ele não tenha como comprovar que o procurador é realmente homem sem palavra e/ou sem integridade – segundo a definição do dicionário do Aurélio.
Não há a menor dúvida de que declarações e citações agressivas e levianas dessa natureza configuram desacato à autoridade e podem implicar a prisão de seu autor, por caracterização de crime contra a honra de pessoa.
Ultimamente, os seguidos ataques ao Judiciário e aos seus integrantes têm sido banalizados e não encontram paralelo na história contemporânea do país, fato este que precisa da adoção de urgente contrapeso contra o arrobo daqueles que imaginam que o poder do passado ainda tem o condão de influenciar no presente, tendo em vista que a continuidade da sanha de incontrolável desespero verborrágico possa contaminar a seriedade e a dignidade daqueles que têm o dever de defender a integridade do Poder Judiciário.
Embora já respondendo a cinco processos na Justiça, como réu, o político não teve a menor preocupação, na qualidade de estrela maior do seminário patrocinado por seu partido, de dizer, em claro e bom som, impropérios contra as autoridades que o investigam e julgam na Operação Lava-Jato, como no caso de um procurador, que foi tachado de “moleque”, enquanto o juiz do caso e um delegado da Polícia Federal, segundo a versão dele, não tinham “a lisura, a ética e a honestidade” que ele alega ter.
Na ocasião, o político disse que sua condução coercitiva pela Polícia Federal, foi “a coisa mais sem vergonha da história deste país”, dando a entender que o juiz teria extrapolado o limite da legitimidade, que nunca foi reconhecido pela Justiça.
Há toda evidência de que o político procura enfrentar os processos jurídicos como se eles fossem de índole política, inclusive tentando por todos os meios a deflagração de sua prisão por desacato à autoridade, para o fim de transformá-lo em “preso político”, em consonância com ardiloso estratagema petista para livrá-lo da Justiça e das garras do implacável juiz de Curitiba, sob o já manjado apelo da vitimização e da perseguição política.
Ao que tudo indica, o político percebe que sua prisão é inevitável e a sentença nesse sentido, se reafirmada pelo Tribunal Regional Federal da Região Sul (TRF-4), poderá impedir que ele seja candidato em 2018, por ter se tornado ficha suja.
Causa perplexidade se perceber que os políticos preferem partir para a verborragia, em cristalina atitude de despreparo e desprezo às autoridades, destilando palavras de puras agressividade e brutalidade contra os responsáveis pelas investigações sobre denúncias de irregularidades, que são absolutamente impróprias à conduta de homens públicos que, ao contrário, precisam agir e atuar com o máximo de dignidade e acatamento aos princípios republicano e democrático, como fazem normalmente os políticos dos países sérios, civilizados e evoluídos.
É muito estranho que autoridades incumbidas da investigação sobre denúncias de irregularidades envolvendo políticos sejam ultrajadas, de forma reiterada, na sua honra funcional e pessoal, em cristalina demonstração de desmoralização e de intimidação sem paralelo na história republicana, fato que evidencia promiscuidade por parte daqueles que têm o dever de primar pela consolidação dos princípios construtivos e de civilidade.
Não obstante, os políticos investigados se comportam como verdadeiros deuses do Olimpo, como se estivessem imunes à prestação de contas sobre seus atos praticados na vida pública, ao agirem sempre com a ferocidade própria de quem se encontra acima das leis e de tudo, em total desprezo aos princípios civilizatório e constitucional, que recomendam a reciprocidade de tratamentos respeitosos entre os semelhantes.
A demonstração de desespero ultrapassou os limites da razoabilidade, a partir do momento da agressão moral e pessoal, notadamente como tentativa de desqualificação da competência das autoridades, que apenas cumprem com correção e dignidade suas atividades próprias de servidores públicos, cônscios, no caso, da importante incumbência de investigar graves denúncias de irregularidades, que precisam ser esclarecidas, como forma de aclarar os fatos deletérios, que, no caso, arruinaram as estruturas econômico-financeiras da principal estatal brasileira.
O certo é que as autoridades ofendidas precisam reagir e adotar medidas que levem à reparação das indevidas irracionalidades e ofensas desferidas contra a dignidade de agentes públicos da maior expressão da República, que merecem ser tratados com urbanidade e respeito, na forma da lei.
Convém que as autoridades ofendidas e ultrajadas nas suas honras promovam as devidas ações, na esfera competente, com o fim de se promover a reparação que os casos exigem, de modo que a aplicação de penalidades exemplares aos destratadores e insultadores de autoridades sirvam de lições pedagógicas para os homens públicos insensatos e deseducados.
A falta de reação por parte das autoridades desacatadas e desabonadas quanto ao seu desempenho pode causar mal ainda maior, por evidenciar condescendência absolutamente inaceitável, eis que os insultos e os destemperos partem justamente por quem tem o dever constitucional de primar pelo engrandecimento da honra e da dignidade das autoridades da República. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 4 de abril de 2017

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