quarta-feira, 19 de abril de 2017

Ideia absurda

As arrasadoras delações dos executivos da Odebrecht trouxeram importantes revelações sobre como funcionava o esquema de corrupção no governo, inclusive com os detalhes do funcionamento de milionária poupança para o ex-presidente da República petista, que se defende dizendo, pasmem, que não pediu nada, como se isso o isentasse de culpa por possíveis crimes.
Apesar das fortes denúncias contra o petista, que é alvo do implacável juiz da Lava-Jato, por não ter foro privilegiado, alas do Partido dos Trabalhadores acreditam que o Supremo Tribunal Federal permitirá a sua candidatura em 2018.
Segundo informações de uma importante colunista da Folha de S. Paulo, a maior parte da legenda dá como certa a condenação do petista, em primeira e em segunda instâncias, fato que o impedirá de se candidatar.
Enquanto isso, o ex-presidente afirma que não teme ser preso, porque "Eu estou há três anos esperando e duvido que tenha um empresário nesse país que possa dizer em alto e bom som que algum dia o ex-presidente Lula pediu dinheiro para ele".
Por seu turno, os partidários do ex-presidente acreditam que o Supremo Tribunal Federal pode garantir a presença dele na cédula eleitoral, sob o argumento de que barrar a candidatura seria muito drástico, principalmente porque faltaria o pronunciamento das cortes superiores para a condenação definitiva dele.
Se o que está escrito é verdade, esses cidadãos do partido mais antiético da face da terra, conforme mostram à saciedade investigações e delações dando conta da maior esculhambação, em termos de desmoralização da administração pública, estão indo muito longe com tamanha sandice, ao imaginar que os sapientes e experientes magistrados da relevância do Supremo Tribunal Federal seriam capazes de fechar os olhos para situação de extremo descumprimento das normas constitucional e legal, quanto à obrigatoriedade da comprovação de conduta ilibada e de nenhuma mácula com relação à prática de atos na vida pública, indispensáveis para o cidadão ocupar cargos públicos eletivos, porquanto a situação de quem responde a ações na Justiça, obviamente já na condição de réu, não condiz com a pretensão de ninguém para ser representante do povo, precisando, antes de se candidatar, acertar suas contas com a Justiça, provando a sua inculpabilidade.
Trata-se de brutal desrespeito à dignidade dos juízos da Excelsa Corte de se pensar que eles concordariam com candidatura que não preencha os requisitos exigidos pela Lei Maior do país, haja vista que é da incumbência deles justamente zelar pela consolidação e firmeza dos princípios da Constituição.
Essa inadmissível ideia de se permitir que candidato envolvido com a Justiça possa pretender ser representante do povo não passa de tremenda loucura, além de agredir, de forma grosseira, a honorabilidade dos ministros do Supremo, indo na total contramão dos sentimentos cívico e patriótico dos verdadeiros brasileiros, que estão ávidos pela urgentíssima moralização das práticas políticas, principalmente com a completa renovação dessa desmoralizada classe política, diante da cristalina demonstração de que a sua continuidade certamente trará enormes prejuízos aos interesses dos brasileiros, pelo tanto das práticas erráticas que se acumularam nos últimos anos e causaram danos de toda ordem ao país.
O momento político aconselha reflexão no sentido de que, para o bem dos brasileiros, convém a eliminação da vida pública dos políticos que, mesmo se dizendo honestos, têm gigantescas dificuldades para provar a sua inculpabilidade nos casos cuja autoria lhe é atribuída, precisando esperar ou imaginar que a Justiça seja condescendente com explícita situação de irregularidade, evidentemente na certeza que será julgado e condenado por seus malfeitos, quando deveria ter disposição e garra para provar a sua inocência, mediante a comprovação de provas e elementos juridicamente válidos para contestar as denúncias, a exemplo do que é feito normalmente pelos políticos dos países sérios, civilizados e desenvolvidos democraticamente.
Não há dúvida de que essa ideia estapafúrdia representa atitude antidemocrática e deve ser considerada como tapa na cara das pessoas que estão acreditando que este país ainda tem jeito, obviamente a partir da conscientização dos brasileiros sensatos e cônscios da sua responsabilidade cívica, que não podem mais permitir que os espertos possam dificultar os mecanismos capazes de contribuir para a limpeza das retrógradas práticas políticas, porque o Brasil não merece continuar nesse sufoco de ser dominado por classe política estratificada com a firme ideia de que o país pertence a partido político, a grupos políticos, e tudo que contrarie esse triste pensamento é tratado com desprezo e incompreensão.
Não é possível que situações absurdas e contrárias aos princípios democráticos possam ainda ter guarida nos Tribunais Superiores, quando os fatos acenam para a necessidade da clarividência da verdade, inclusive no sentido de que as cortes do país se levantem em nome da grandeza e da dignidade dos brasileiros, para rechaçar incontinenti ideia imaginável como essa de se pretender a chancela de candidatura visivelmente contrária ao interesse público, por se tratar de quem é réu por possível prática de graves crimes contra a administração pública. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 19 de abril de 2017

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