segunda-feira, 17 de abril de 2017

Projeto de modernização política

Diante da evidente falta de credibilidade dos homens públicos em atividade, que se envolveram em escrachados casos de corrupção, notadamente com o recebimento de dinheiro sujo das empreiteiras para as suas campanhas eleitorais ou para outras finalidades ilícitas, qualquer reforma política não pode ser comandada por políticos, mas sim pelo povo, por meio da sociedade organizada, que precisa auscultar as ansiedades da população e transformá-las em projeto de reforma a ser votado pelo Congresso Nacional, tal qual como proposto pelo povo.
Na verdade, a primeira e principal reforma que precisa ser promovida no Congresso Nacional é a que se refere ao exame de consciência dos congressistas, no sentido de que cada um reflita sobre as suas atuações legislativas, para o fim de se aquilatar se elas correspondem exatamente às finalidades de trabalhar em defesa dos interesses do povo que os elegeu, ou se há conflitos de interesses, conquanto eles não estariam, conforme mostram os fatos, muito mais se aproveitando da delegação popular para usufruir as benesses e as influências do poder, em benefício pessoal e partidário, em completa inversão do sentido originário da função de parlamentar.
Entrementes, tem sido normal que alguns corruptos famosos continuam sendo reiteradamente eleitos, com expressiva votação, contribuindo para que pessoas de boa índole fiquem fora do sistema político, evidentemente em detrimento da essência da finalidade política, fato esse que contribui para se propugnar pela imperiosidade da reforma política que possa atender aos interesses exclusivamente da sociedade, tendo como princípios o enxugamento do Parlamento e a economicidade dos gastos no Poder Legislativo, em harmonia com as dificuldades econômico-financeiras do país.
A reforma política é essencial no momento, notadamente diante de sistema que não atende aos requisitos ínsitos da democracia, porque ele despreza completamente a verdadeira representatividade, por não confirmar a real responsabilidade política, jurídica e social recebida para o exercício do mandato, que é deturpada com a autonomia dos representantes em defender os interesses pessoais e políticos, em total repúdio aos eleitores, que são desrespeitados quanto aos lídimos atos de delegação outorgados nas urnas.
Nesta importante tarefa de reforma política, é preciso que o eleitorado seja conscientizado sobre a relevância do princípio da cidadania, em que o eleitor ganha destaque nesse processo de aperfeiçoamento e modernização do sistema político, de modo a entender que seu direito de cidadão funciona como principal mecanismo de responsabilidade cívica, por ser a essência do princípio democrático.
A mediocridade do sistema político-eleitoral tupiniquim, ante a evolução operada pela humanidade, não mais se adequaria às piores republiquetas, por evidenciar notórias e gritantes falhas, que se presta apenas para beneficiar a casta de inescrupulosos aproveitadores e péssimos políticos, conforme evidenciam os fatos da atualidade.
Enquanto as nações evoluídas e desenvolvidas tiveram a iniciativa de reformular, modernizar e aperfeiçoar seus sistemas político-eleitorais, adaptando-os às conquistas e aos avanços obtidos pela humanidade, em harmonia com os conhecimentos científicos e tecnológicos, em benefício do homem, o país tupiniquim não teve capacidade para promover, por minimamente que seja, a reformulação das estruturas do Estado, nos seus segmentos essenciais, principalmente os político e administrativo.
Urge que seja sepultada de vez a desmoralizada da prática política, que tem como inspiração a vocação pelo fisiologismo ideológico, pelo aproveitamento das benesses propiciadas pelo Estado, com a facilitação do tráfico de influência e principalmente pelo indecente toma lá, dá cá, mediante o loteamento de cargos públicos entre aliados, em troca de apoio político, em total desprezo aos salutares princípios da administração pública e da democracia.
Diante da falta de credibilidade da classe política dominante, não há dúvida de que nenhuma reforma séria, civilizada e razoável será aprovada pelo Congresso Nacional, porque ali não há interesse em alterar o status quo, no sentido de acabar as benesses, os privilégios, as regalias, as mordomias caríssimas e vergonhosas, bem assim das demais injustificáveis excrescências creditadas em favor e deleite dos congressistas.
Convém que o povo e a sociedade organizada reivindiquem o direito de promover as reformas essenciais à modernização das estruturas do Estado, de modo que o seu funcionamento orgânico político-administrativo se amolde aos princípios verdadeiramente democráticos, tendo a política como instrumento capaz de atender exclusivamente aos fins sociais, com embargo da politicagem espúria e deletéria consolidada na atual República, que se encontra ultrapassada e obsoleta, servindo apenas para satisfazer a ganância política de caciques de mentalidades medíocres, incapazes de vislumbrar as suas verdadeiras funções de homens públicos. 
É óbvio que não existe modelo perfeito ou sistema político-eleitoral que não contenha em si contradições e distorções, em face da diversificada cultura e da realidade brasileiras, mas se impõem esforços no sentido de que a reforma política não pode ser ignorada nem procrastinada, porque o medíocre sistema em vigor envergonha qualquer republiqueta, diante da realidade da evolução da humanidade já incorporada em benefício e usufruto da sociedade dos países sérios, civilizados e desenvolvidos democraticamente.
O Brasil precisa passar por verdadeiro processo de purificação, mas isso já ficou bastante assente que não será possível se depender da vontade da atual classe política, que não admite perder os arraigados e consolidados privilégios os mais amplos, imorais e injustificáveis, à luz da responsabilidade cívica e da conscientização patriótica.
Somente o povo e a sociedade organizada têm competência e capacidade moral, sob o prisma da imparcialidade e do desprezo às benesses do poder, para promover e implementar o importante projeto de modernização política, com vistas a realmente transformar o Brasil em país evoluído e desenvolvido, em termos políticos, quanto ao exercício correto dos salutares princípios republicano e democrático. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 17 de abril de 2017

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