Embora o ministro da Cultura, depois de ter assumido
o cargo, em novembro de 2016, tenha criticado em público, por várias vezes, que
os governos petistas cuidaram de promover o aparelhamento da máquina pública,
em tão pouco tempo no cargo, ele já conseguiu nomear 18 correligionários para
cargo em comissão, para atuar em assessorias, secretarias, diretorias,
entidades vinculadas e representações regionais da pasta.
Em janeiro último, ele disse à VEJA que "Lamentavelmente, um ministério que teria
muito a dar ao país ficou voltado para atender a interesses de facções
políticas", tendo atribuído as nomeações ao "projeto de poder" do PT e do PC do B.
Como de praxe, as referidas nomeações beneficiam
correligionários do ministro que perderam eleições recentes, sendo candidatos
no partido dele, não constando que nenhum nome nomeado estivesse ocupando cargo
público eletivo, dando a entender que se trata de atendimento exclusivamente de
fins político-partidários, em contrariedade ao interesse público.
Saliente-se que o ministro da Cultura anterior
exonerou 81 pessoas de cargos de confiança, sob o argumento da constatação de aparelhamento
na pasta. Na ocasião, o então ministro disse que "os cargos de chefia serão exercidos, preferencialmente, por servidores
de carreira", mas o atual ministro parece que, na prática, age como
nos velhos tempos, em que sempre há espaço para os amigos de partido.
Em que pese a polêmica quanto ao aparelhamento no
Ministério da Cultura, o ministro procura se defender, ao afirmar que as
questionadas nomeações foram feitas com nomes "qualificados, eficientes, idôneos, republicanos e que gozam de minha
mais absoluta confiança, independentemente de terem ou não filiação partidária".
O ministro disse que não há peso de seu partido
(PPS) nas questionadas nomeações e que "A escolha dos nomes para a equipe se dá por critérios republicanos. Nossa
preocupação é com a competência, a experiência, a idoneidade e a conduta
ilibada dos funcionários que aqui atuam.".
Ele não soube dizer quais seriam esses critérios,
sobretudo para a ocupação de vagas de cunho técnico, tendo afirmado que, na sua
gestão, as nomeações de pessoas "que
gozam de minha mais absoluta confiança" independem de filiação
partidária, o que não caracterizaria aparelhamento do MinC, embora as dezoito
nomeações dizem respeito a pessoas filiadas ao partido dele.
O ministro foi enfático, ao afirmar que "É algo bem distinto de aparelhar toda a
estrutura do ministério em função de um projeto político, como ocorreu durante
o governo anterior." E que "Não
faria o menor sentido manter em cargos de confiança e postos de direção aliados
de um governo que sofreu impeachment".
Em conclusão, ele afirmou "que não há e não houve, em nenhum momento
sob a atual gestão, qualquer tipo de discriminação ou perseguição a
funcionários e servidores em função de suas preferências partidárias –seja
internamente, no âmbito das diversas estruturas do MinC, ou no relacionamento
com as forças políticas do país.”.
Não
obstante, o simples fato de o ministro ter nomeado, para ocupar cargos
comissionados da pasta que dirige, correligionários que perderam suas eleições,
já confirma e comprova a vergonhosa tese do apadrinhamento e do aparelhamento
por ele repudiado, no passado, com relação a governos anteriores.
Em
um ponto, o ministro tem razão, quando afirma que não faz sentido manter em
cargo de confiança pessoas aliadas ao governo afastado, mas, de igual modo, é
absolutamente injustificável que sejam colocadas no seu lugar pessoas de seu
partido, como é o caso citado na reportagem, dando a entender que somente é
condenável, nas mesmas condições, aquilo praticado por outrem, deixando a
impressão de que não há hipocrisia nem demagogia quando se trata de caso
pessoal, por haver respaldo em desculpas as mais esfarrapadas possíveis,
visivelmente em dissonância com os salutares princípios da administração
pública, notadamente no que diz respeito a impessoalidade, que tem por base
repúdio a qualquer forma de nomeação no serviço público pelo abominável
critério, entre outros, de filiação partidária, como é o caso em comento.
Não
se sabe até quando as explicações fajutas vão ser dadas para justificar o
injustificável no atual governo, quando o próprio mandatário do país tem o
dever de determinar a seus assessores que a composição do quadro de pessoal do
serviço público, mesmo nos casos de cargos de confiança, precisa ser
exclusivamente pelo critério da competência e da eficiência
técnico-especializadas, diante da necessidade da consecução da melhor forma de
se prestar serviços públicos de qualidade à população.
Diferentemente
disso, conviria que houvesse a destituição do cargo dos principais assessores
do governo, no caso, daqueles que derem causa às nomeações prejudiciais ao bom
desempenho das suas atividades administrativas, como é o reconhecido compadrio
das nomeações para cargos de confiança de lídimos correligionários, em forma
indiscutivelmente de afronta aos princípios da impessoalidade, moralidade e
dignidade, entre outros que devem ser fielmente observados por quem tem o dever
constitucional de dar o bom exemplo de licitude, competência e eficiência na
execução das políticas públicas, por envolver a aplicação de recursos dos
contribuintes, que precisam ser gastos sob a devida e comprovada efetividade.
Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 6 de abril de 2017
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