domingo, 30 de abril de 2017

Exemplos de desperdícios

Segundo levantamentos realizados nos principais órgãos do país, compreendendo, em especial, a Presidência da República, a Câmara dos Deputados, o Senado Federal, o Supremo Tribunal Federal e a Procuradoria Geral da República, foi verificado que eles consumiram, em determinado ano, que serve de parâmetro, 85,5 milhões de folhas de papel.  
No total, esses órgãos tiveram despesas anuais médias, pasmem, do valor de R$ 1,2 bilhão somente para a compra de 170.988 pacotes de 500 folhas de papel A4, para uso de cerca de 23 mil servidores, com o consumo diário de 344,7 mil folhas.
Os dados mostram que, em geral, o uso vem diminuindo nos últimos anos, sobretudo por causa do avanço na digitalização dos documentos e da conscientização, mas, mesmo assim, dentro das repartições, os esforços pela redução do papel ainda esbarram na cultura de um tempo em que tudo, para ser oficial, tinha de estar impresso e carimbado com tinta.
É comum aparecerem com destaque para a mídia as imagens das pilhas de papel acumuladas no plenário do Supremo Tribunal Federal, durante os julgamentos da sua incumbência constitucional, ou sobre as mesas dos parlamentares integrantes das Comissões Parlamentares de Inquérito, como a demonstrar exaustivo volume de trabalho das autoridades da República.
Pesquisa realizada nos aludidos órgãos, para se saber como usado e consumido o papel com tanta fartura, foi verificada enorme variação de finalidades, não somente pelas diferentes atividades que cada servidor realiza, mas em especial pela quantidade discrepante deles.
A Câmara, que tem mais servidores – cerca de 10 mil lotados em Brasília –, tem o maior consumo de 64 mil resmas e o maior gasto de R$ 443 mil, mas por outro lado, o menor consumo per capita, sendo que cada servidor usou, em média, 6 resmas ou 3 mil folhas.
O Senado, por sua vez, apesar do número menor de servidores, pouco mais de 6 mil, tem consumo per capita maior que na Câmara, de 7,3 resmas por servidor. Para dar conta da alta demanda, foram consumidas 47 mil resmas, sendo que a Câmara Alta conta com poderosa gráfica semelhante à de um jornal de grande circulação, constituindo verdadeiro exagero, em se tratando de órgão público.
O Palácio do Planalto, com ainda menos servidores (3.300), tem consumo per capita pouco maior de 7,6 resmas por servidor, mas vem em seguida, com maior consumo per capita, a Procuradoria Geral da República, com 8,2 resmas por servidor. No topo do consumo, situa o servidor do STF, com 16 resmas de papel por servidor, em média.
Além das campanhas em favor do uso consciente do papel, a digitalização vem contribuindo, de forma significativa, para a redução do uso de papel, como no caso da Câmara, onde foi economizado mais de 30% do papel usado.
Muitos procedimentos têm sido adotados internamente nos órgãos, com o uso da comunicação por via da internet, com visível redução de papel.
O passo mais importante para a redução do papel se deu com a digitalização do processo legislativo, na tramitação dos projetos de lei, desde a versão da proposta até a aprovação final, cujos procedimentos ficam disponíveis online, com a devida atualização das modificações e discussões.
A introdução da "pauta digital", com a instalação de telas digitais para cada parlamentar, proporcionou a redução de 20 a 40 cópias de calhamaço de papel, contendo a pauta do dia (com dezenas de projetos de lei na fila de votação e respectivos pareceres), que era impressa para mera consulta e depois despejada, em calhamaços, no lixo, causando enorme prejuízo aos cofres públicos.
Na Câmara, cada projeto de lei ainda precisa ter original de papel, por segurança, mas também porque Executivo e Senado só enviam ou recebem propostas em meio físico.
O responsável pela digitalização do processo legislativo disse que "Não eliminamos o processo físico, mas estamos nesse caminho. Mas não é só um processo tecnológico, é também um processo cultural".
Embora no Senado já tenha programa ambiental para incentivar a redução do consumo de papel, são consumidas, em média anual, mais de 40 mil resmas de papel, o que significa gasto excessivo de papel.
O diretor da Presidência da República disse que "A própria tecnologia móvel, com acesso a e-mail em tablets e smartphones, tem estimulado a ideia de que não precisa imprimir tanto".
Outro servidor da Presidência afirmou que "É possível (economizar), pois com toda essa redução, nada deixou de ser feito. E nossa meta é ser referência, pois somos modelo (para os demais órgãos públicos)”.
A cultura do uso papel ainda é imperativa nos trabalhos burocráticos, gerando desperdício de recursos que poderia ser evitado caso houvesse permanentes avaliações sobre o uso desmensurado e abusivo de papel.
Graças à intensificação do uso dos sistemas informatizados e de maiores investimentos nesse setor, a tendência é de que haverá redução expressiva do uso de papel, como forma de se contribuir para a preservação do meio ambiente.
O ideal é que houvesse, de forma efetiva, a tão alardeada preservação das florestas, mas o desmatamento está em ritmo acelerado e descontrolado, em contraposição à evolução da humanidade, que tanto precisa da integridade do meio ambiente.
Outra importante lição que os governos não aprendem é sobre a premente necessidade de se evitar desperdício de recursos, por meio do uso racional da utilização da máquina pública, mas as montanhas de dinheiros destinadas somente para o uso de papel explicam que economizar não está no dicionário dos administradores públicos.
Importante exemplo do uso racional do papel vem dos países evoluídos, que fazem campanhas incentivando o bom uso de papel e as melhores formas de se economizá-lo, a exemplo da impressão e venda dos livros digitais (PDF), que já ultrapassaram a venda de livros de papel, por causa do preço e da praticidade do seu manuseio digital, mas isso é impraticável no Brasil, onde o livro digital (PDF) custa quase o mesmo preço do livro de papel.
Neste país de homens de mentalidades bem reduzidas, somente se economiza competência, que tem sido bastante escassa nos órgãos da administração pública, habitada densamente por administradores e assessores pouco interessados no aprimoramento dos trabalhos da máquina pública, que exige urgente reforma de suas estruturas funcionais e administrativas.
Enquanto não houver conscientização das autoridades públicas quanto à necessidade de priorização das questões nacionais, a exemplo no que se refere à racionalização da máquina pública, este país será sempre exemplo de desperdício e de deficiência prejudiciais ao interesse público, que não merece ser tratado com desprezo próprio de país distanciado das nações evoluídas e interessadas na economicidade dos recursos públicos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 30 de abril de 2017

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