domingo, 9 de abril de 2017

Apelos às saudáveis práticas políticas

Em visita aos Estados Unidos da América, a ex-presidente da República petista afirmou, em sua defesa, que o processo de impeachment que a tirou do poder foi golpe e que ela se preocupa com a eventual prisão do ex-presidente que a antecedeu, também do partido dela.
A ex-presidente enfatizou, quando proferia palestra na Brazil Conference, evento organizado por alunos brasileiros na Universidade Harvard, em Boston (EUA), que "Me preocupa muito que mudem as regras do jogo democrático. Me preocupa que prendam o Lula. Me preocupa que tirem o Lula da parada (sic)".
Segundo a ex-presidente, há "possibilidade concreta" de que o seu padrinho político ganhe as eleições presidenciais de 2018, se concorrer.
Ela ressaltou que, "Infelizmente para as oposições, ele tem nas pesquisas 38%, com tudo o que fizeram com ele" (Ela não declinou o que fizeram com o petista) e concluiu: "Deixa ele concorrer para ver se ele não ganha.".
Por ter falado pouco antes, no mesmo evento com o juiz da Lava-Jato, a petista fez crítica ao "uso político e ideológico da Lava-Jato" e disse que é "inadmissível" juiz falar publicamente, fora do processo.
Na opinião dela, "Não é admissível juiz falar fora de processo, em qualquer lugar do mundo. Não concordo com nenhum uso de law fare (uso da lei com fins políticos), porque compromete o direito de defesa. Não podemos em nome das vantagens desse combate (da Lava-Jato), que é reduzir a distorção do gasto público brasileiro destinado à corrupção, comprometer o sistema democrático no Brasil".
A ex-presidente aproveitou o ensejo para também criticar o PMDB, tendo dito que teria sido "hegemonizado pela direita mais radical do Brasil", na figura do ex-deputado e ex-presidente da Câmara dos Deputados.
A ex-presidente reconheceu, lamentando-se, que um de seus erros foi "não ter percebido na dimensão necessária" que a coalizão pela qual foi eleita, com o então vice-presidente, estava no fim, o que não é verdade, porque as relações entre o PMDB e o seu partido vinham se esgarçando a passos largos, diante do estreitamento dos constantes desentendimentos entre os referidos partidos.
Ela afirmou que "Um centro que é hegemonizado pela direita deixa a coalizão muito difícil. O centro democrático do Brasil foi hegemonizado pela direita. O MDB velho de guerra foi hegemonizado pelo Eduardo Cunha. E o Eduardo Cunha não é grave porque ele é corrupto. Ele é grave porque é uma pessoa conservadora em termos econômicos, de civilização e extremamente preconceituosa.".
A crítica o juiz da Lava-Jato é absolutamente improcedente, em se tratando que, mesmo como juiz, tem todo direito, como ela, de participar das atividades não relacionadas com os processos que preside, tendo em vista que os fatos são distintos e a participação dele no mesmo evento não conflita com as matérias e processos sob o exame dele, não havendo o menor comprometimento do sistema democrático brasileiro.
Em se tratando da relevância de quem já foi presidente do país com a grandeza do Brasil, causa perplexidade que o vernáculo seja tão maltratado como consta no texto transcrito, onde qualquer criancinha da iniciação no alfabeto sabe muito bem que não se inicia frase com pronome obliquo, dando a entender que o conteúdo da palestra não foi revisado por pessoa qualificada.
          Quando à convicção da ex-presidente de que o seu antecessor ganhará a eleição por ter 38% nas pesquisas, isso não passa de grotesca interpretação de consulta popular de pouco mais de dois mil eleitores, quando se sabe que o país tem aproximadamente 150 milhões de eleitores aptos a votar, cuja avaliação teve 67% dos entrevistados que disseram que não sabiam em quem votar, quando não foram fornecidos os nomes dos candidatos, ou seja, foi altíssimo o índice daqueles que não tinham candidato.
Por seu turno, a ex-presidente não mencionou recente pesquisa de opinião realizada somente no Estado de São Paulo, também com pouco mais de dois mil eleitores, em que o prefeito e o governador, com destaque para primeiro, desbanca o favoritismo do ex-presidente, quando ambos têm mais de 25% da preferência dos pesquisados, enquanto o petista atinge menos de 15%, fato que demonstra que somente foi feita a menção favorável ao petista, embora com base absolutamente frágil e de pouca consistência.  
Por sua vez, não faz sentido se pensar em candidato que esteja respondendo a cinco processos na Justiça, quando a relevância do cargo de mandatário do país exige que o titular tenha comprovada conduta ilibada e sequer esteja com seu nome envolvido em denúncia sobre possível prática de atos irregulares, o que vale dizer que qualquer brasileiro somente deva pensar em se candidatar a cargo público eletivo estando devidamente com o nome acima de quaisquer suspeitas.
          Pensar diferentemente disso não condiz com o que de melhor se imagina para o país, cujo povo tanto anseia pela completa moralização e pela conscientização de que a pretendida mudança de mentalidade política não pode ser operada com as velhas práticas políticas que somente agradam parcela dos brasileiros, que se beneficiam de programas assistenciais, muitos dos quais com finalidade eleitoreira, quando o ideal é que todos sejam contemplados com o porvir de melhores perspectivas para a verdadeira transformação de políticas progressistas e desenvolvimentistas, em benefícios dos brasileiros.
Não se admitem mais as coligações espúrias do passado, que tinham a impregnação da absoluta dominação das classes política e social e da perenidade do poder, principalmente com o emprego do escrachado e abominável fisiologismo centralizado na coalizão de governo, onde prevalecia o toma lá, dá cá, com a entrega de ministérios e empresas estatais em troca de apoio no Congresso Nacional, em completa degeneração dos princípios da competência e da eficiência no serviço público.
A lastimável consequência disso foi a precária prestação dos serviços públicos à população, entre tantas deficiências que precisam ser revistas e reformuladas por práticas políticas modernas e adequadas aos salutares princípios evoluídos da administração pública, empregados com inteiro sucesso nos países sérios, civilizados e desenvolvidos democraticamente. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 9 de abril de 2017

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