Em visita aos Estados Unidos da América, a
ex-presidente da República petista afirmou, em sua defesa, que o processo de impeachment
que a tirou do poder foi golpe e que ela se preocupa com a eventual prisão do
ex-presidente que a antecedeu, também do partido dela.
A ex-presidente enfatizou, quando proferia palestra
na Brazil Conference, evento
organizado por alunos brasileiros na Universidade Harvard, em Boston (EUA), que
"Me preocupa muito que mudem as
regras do jogo democrático. Me preocupa que prendam o Lula. Me preocupa que
tirem o Lula da parada (sic)".
Segundo a ex-presidente, há "possibilidade concreta" de que o
seu padrinho político ganhe as eleições presidenciais de 2018, se concorrer.
Ela ressaltou que, "Infelizmente para as oposições, ele tem nas pesquisas 38%, com tudo o
que fizeram com ele" (Ela não declinou o que fizeram com o petista) e
concluiu: "Deixa ele concorrer para
ver se ele não ganha.".
Por ter falado pouco antes, no mesmo evento com o
juiz da Lava-Jato, a petista fez crítica ao "uso político e ideológico da Lava-Jato" e disse que é "inadmissível" juiz falar
publicamente, fora do processo.
Na opinião dela, "Não é admissível juiz falar fora de processo, em qualquer lugar do
mundo. Não concordo com nenhum uso de
law fare (uso da lei com fins políticos), porque compromete o direito de defesa. Não podemos em nome das
vantagens desse combate (da Lava-Jato), que
é reduzir a distorção do gasto público brasileiro destinado à corrupção,
comprometer o sistema democrático no Brasil".
A ex-presidente aproveitou o ensejo para também criticar
o PMDB, tendo dito que teria sido "hegemonizado
pela direita mais radical do Brasil", na figura do ex-deputado e
ex-presidente da Câmara dos Deputados.
A ex-presidente reconheceu, lamentando-se, que um
de seus erros foi "não ter percebido
na dimensão necessária" que a coalizão pela qual foi eleita, com o
então vice-presidente, estava no fim, o que não é verdade, porque as relações
entre o PMDB e o seu partido vinham se esgarçando a passos largos, diante do estreitamento
dos constantes desentendimentos entre os referidos partidos.
Ela afirmou que "Um centro que é hegemonizado pela direita deixa a coalizão muito
difícil. O centro democrático do
Brasil foi hegemonizado pela direita. O MDB velho de guerra foi hegemonizado
pelo Eduardo Cunha. E o Eduardo Cunha não é grave porque ele é corrupto. Ele é
grave porque é uma pessoa conservadora em termos econômicos, de civilização e
extremamente preconceituosa.".
A crítica o juiz da Lava-Jato é absolutamente
improcedente, em se tratando que, mesmo como juiz, tem todo direito, como ela,
de participar das atividades não relacionadas com os processos que preside,
tendo em vista que os fatos são distintos e a participação dele no mesmo evento
não conflita com as matérias e processos sob o exame dele, não havendo o menor
comprometimento do sistema democrático brasileiro.
Em se tratando da relevância de quem já foi
presidente do país com a grandeza do Brasil, causa perplexidade que o vernáculo
seja tão maltratado como consta no texto transcrito, onde qualquer criancinha
da iniciação no alfabeto sabe muito bem que não se inicia frase com pronome
obliquo, dando a entender que o conteúdo da palestra não foi revisado por
pessoa qualificada.
Quando
à convicção da ex-presidente de que o seu antecessor ganhará a eleição por ter
38% nas pesquisas, isso não passa de grotesca interpretação de consulta popular
de pouco mais de dois mil eleitores, quando se sabe que o país tem aproximadamente
150 milhões de eleitores aptos a votar, cuja avaliação teve 67% dos
entrevistados que disseram que não sabiam em quem votar, quando não foram
fornecidos os nomes dos candidatos, ou seja, foi altíssimo o índice daqueles
que não tinham candidato.
Por seu turno, a ex-presidente não mencionou recente
pesquisa de opinião realizada somente no Estado de São Paulo, também com pouco
mais de dois mil eleitores, em que o prefeito e o governador, com destaque para
primeiro, desbanca o favoritismo do ex-presidente, quando ambos têm mais de 25%
da preferência dos pesquisados, enquanto o petista atinge menos de 15%, fato que
demonstra que somente foi feita a menção favorável ao petista, embora com base
absolutamente frágil e de pouca consistência.
Por sua vez, não faz sentido se pensar em candidato
que esteja respondendo a cinco processos na Justiça, quando a relevância do
cargo de mandatário do país exige que o titular tenha comprovada conduta
ilibada e sequer esteja com seu nome envolvido em denúncia sobre possível
prática de atos irregulares, o que vale dizer que qualquer brasileiro somente
deva pensar em se candidatar a cargo público eletivo estando devidamente com o
nome acima de quaisquer suspeitas.
Pensar
diferentemente disso não condiz com o que de melhor se imagina para o país,
cujo povo tanto anseia pela completa moralização e pela conscientização de que
a pretendida mudança de mentalidade política não pode ser operada com as velhas
práticas políticas que somente agradam parcela dos brasileiros, que se
beneficiam de programas assistenciais, muitos dos quais com finalidade
eleitoreira, quando o ideal é que todos sejam contemplados com o porvir de
melhores perspectivas para a verdadeira transformação de políticas
progressistas e desenvolvimentistas, em benefícios dos brasileiros.
Não se admitem mais as coligações espúrias do
passado, que tinham a impregnação da absoluta dominação das classes política e
social e da perenidade do poder, principalmente com o emprego do escrachado e
abominável fisiologismo centralizado na coalizão de governo, onde prevalecia o
toma lá, dá cá, com a entrega de ministérios e empresas estatais em troca de
apoio no Congresso Nacional, em completa degeneração dos princípios da
competência e da eficiência no serviço público.
A lastimável consequência disso foi a precária
prestação dos serviços públicos à população, entre tantas deficiências que
precisam ser revistas e reformuladas por práticas políticas modernas e
adequadas aos salutares princípios evoluídos da administração pública,
empregados com inteiro sucesso nos países sérios, civilizados e desenvolvidos
democraticamente. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 9 de abril de 2017
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