sexta-feira, 14 de abril de 2017

E a comprovação da conduta ilibada?

Tão logo o ex-presidente do Grupo Odebrecht ter afirmado que o ex-presidente da República petista é o “amigo” registrado na planilha de propinas milionárias da empreiteira, o petista disse simplesmente ser vítima de “vazamentos mentirosos” todos os dias e que não aceita essa “bobagem toda” em torno de uma eventual prisão.
Incontinenti, como que rebatendo as acusações de seu envolvimento com atos irregulares, o ex-presidente disse que, se for necessário e o PT precisar, está disposto a ser novamente candidato a presidente da República.
O petista não citou diretamente o depoimento do aludido executivo, mas disse que, há três anos, é vítima de especulações sobre seu suposto envolvimento ilícito com empresários e reafirmou que não há provas contra ele.
Ele ressaltou que “Todo santo dia tem vazamentos mentirosos, alguns canalhas vazando as coisas propositalmente, alguns canalhas divulgando da forma mais irresponsável possível, isso cansou o Brasil”.
O petista enfatizou que duvida que haja algum empresário no país, “preso ou livre”, que diga que “o presidente Lula pediu cinco centavos ou dez centavos para ele. Não posso ficar aceitando essa bobagem de quando é que vão prender o Lula. Podem prender quem quiser para me denunciar. Eu estou muito tranquilo e espero que apresentem uma prova contra mim, só isso”.
Ele disse que espera a oportunidade para prestar depoimento e que os acusadores precisam ter provas contra ele, para condená-lo, e não “convicção”, em alusão ao pronunciamento do procurador-coordenador da força-tarefa da Operação Lava-Jato.
O ex-presidente tem depoimento marcado com o juiz federal de Curitiba, no próximo dia 3, por responder a ação que é réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no caso a que se referem o famoso tríplex e o transporte de seu acervo pertinente à mudança do Palácio da Alvorada.
O petista reafirmou sua disposição de se candidatar ao Palácio do Planalto, na próxima eleição, mas adiantou que a definição pende da necessidade e da demanda de seu partido, ou seja, “Se for necessário, se o PT precisar, eu estou disposto a voltar a ser candidato a presidente da República outra vez. Sinceramente, acho que o povo brasileiro tem saudade do tempo em que eu fui presidente. Eles sabem que as coisas foram melhores.”.
Ele disse ainda que se sente “muito preparado” para voltar a governar o país, tendo aproveitado para atacar os adversários que pretendem concorrer ao cargo, sem citar nomes, ao afirmar que “Quanto menos eu penso em concorrer, mais eles me provocam e mais eu vou ficando com vontade de concorrer. E eles sabem que eu sou capaz de consertar esse país. Não por mérito meu, mas porque eu tenho capacidade de ouvir o povo”.
O ex-presidente criticou o presidente da República, tendo afirmado que o governo do peemedebista está destruindo tudo aquilo que o PT construiu durante o período em que esteve no poder.
Por último, ele se declarou otimista sobre o futuro do país, porque já provou que ele pode ser melhor e sentenciou: “O povo não pode perder a esperança, estou convencido que a gente pode consertar esse país como a gente já fez nos anos em que eu governei o Brasil”.
É lamentável que o ex-presidente se baseie em fatos do passado para propugnar pelo possível sucesso de sua candidatura à Presidência do país, ao alegar inclusive “... que o povo brasileiro tem saudade do tempo em que eu fui presidente. Eles sabem que as coisas foram melhores.”.
O petista precisa se conscientizar de que as revelações da Lava-Jato, dando conta da total destruição moral do país, ocorrida exatamente nos governos petistas, têm o condão de mudar por completo esse quadro que ele pinta como sendo maravilhoso e que, por isso, os verdadeiros brasileiros não se arriscariam, a exemplo do que já aconteceu no último pleito eleitoral, em votar novamente em candidato com o sinete do PT, principalmente nele, que carrega intermináveis queixas sobre possíveis envolvimento com a corrupção, lembrando que seu partido foi transformado em símbolo da antiética e da desmoralização, à luz das conclusões da citada operação. 
Ademais, os fatos conspiram contra às pretensões dele, ao mostrarem que os resultados dos governos petistas foram desastrosos, tanto para a economia como para a moralidade, quando houve acentuada recessão, juros elevados, inflação nas alturas, dívida pública impagável, desemprego batendo recorde, falta de investimentos público e privado, descrédito das agências de classificação de risco, retirada do capital estrangeiro, precariedade da prestação dos serviços públicos, fisiologismo deletério, além das mazelas referentes à infestação da corrupção, com os escândalos do mensalão e do petrolão, que contribuíram para o flagelo do governo, que terminou sendo afastado pela prática do crime de responsabilidade fiscal, por infringências às normas de administração orçamentário-financeira.
O ex-presidente tem toda razão em repudiar os vazamentos, mentirosos ou não, quanto mais que eles se referem a acusações sobre fatos irregulares que jamais deveriam ter acontecido, em se tratando que a pessoa acusada de os ter praticado tem o dever ético e moral de realmente demonstrar retidão no exercício de cargos públicos.
O Brasil precisa muito acreditar nas palavras do ex-presidente, que também há de entender que é racionalmente inconcebível que alguém pretenda se candidatar ao principal cargo do país, mesmo respondendo a cinco processos na Justiça, como réu, sob a grave acusação da prática de crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, organização criminosa, tráfico de influência e obstrução à Justiça, tudo isso totalmente incompatível com o exercício de cargo público, exatamente por haver dissonância com os princípios da ética, moral, legalidade, dignidade, entre outros.
Possivelmente, nem nas republiquetas algum homem público se atreveria a pensar em se candidatar estando em situação tão precária como essa de ser denunciado na Justiça, em cinco processos, representando crimes da maior gravidade contra a administração pública, sem que antes consiga demonstrar a sua inculpabilidade, porque nada justifica que seja afrontada a exigência constitucional segundo a qual os cargos públicos somente podem ser exercidos por alguém que comprove conduta ilibada e não tenha qualquer registro de mácula no seu currículo, quanto à prática de atos irregulares na vida pública. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 14 de abril de 2017

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