Está
tramitando em caráter de urgência, no Senado Federal, o projeto que visa
disciplinar o abuso de autoridade, de autoria de alguns senadores que estão
sendo investigados na Operação Lava-Jato e foram denunciados nas delações
premiadas dos executivos da Odebrecht, sob suspeita de terem recebido doações
por meio do caixa 2.
O
referido projeto tem como claríssima diretriz forma de retaliação de políticos
aos procuradores e juízes que estão investigando os fatos denunciados, com
maior incidência no âmbito de homens públicos, sendo que alguns já são
investigados em mais de dezena de casos de recebimento de propina.
É
evidente que, não tendo argumentos e muito menos provas para contestar as
acusações sobre o recebimento de propinas, muitos congressistas encontraram o
jeitinho brasileiro como arranjo para facilitar sua saída desse imbróglio, por
meio de projeto de lei que resume medidas capazes de intimidar os procuradores
e juízes que os tenham denunciado ou julgado, sob o pretexto de interpretação
divergente, em outras instâncias da Justiça, o que poderá levá-los a responder
pela reparação do abuso de autoridade.
Alguns
sensatos juristas se insurgiram contra a mediocridade desses parlamentares e
elaboraram documento mostrando a dramaticidade do absurdo que eles pretendem implementar,
pasmem, em nome do combate ao abuso de autoridade, que pode realmente ter sido
cometido tamanha ignomínia, mas em face da revelação da real situação criminosa
daqueles que tiveram a indignidade de compactuar com esquemas de corrupção,
sendo favorecidos por meio do recebimento de dinheiro sujo.
Os
aludidos juristas entregaram moção nos gabinetes dos senadores, contendo
manifestação contrária ao malsinado projeto de lei de abuso de autoridade,
cujos autores estão intimamente envolvidos em falcatruas, não tendo, por isso,
a mínima legitimidade para propor medida sentido, por haver vício de origem,
quando a sua principal finalidade objetiva beneficiá-los com a reafirmação da
impunidade e do fortalecimento do câncer da corrupção, diante da robusta
possiblidade de a sua aprovação não ser mais viável a investigação sobre fatos
irregulares, ou seja, os desvios de recursos públicos, popularmente conhecidos
por corrupção passam a ser investigáveis.
Em
síntese, os juristas ressaltaram que “A
Nação Brasileira recusa a manobra de retaliação contra a Operação Lava-Jato
representada pelo projeto de Lei de Abuso de Autoridade, de autoria do Senador
Renan Calheiros (PMDB/AL) e relatado pelo Senador Roberto Requião (PMDB/PR). A
CCJ ao, eventualmente, aprovar este projeto, estará insuflando uma revolta
política de consequências imprevisíveis. O Senado não tem o direito de
desmoralizar e destruir as instituições do país para proteger as dezenas de
Senadores investigados por práticas continuadas de corrupção. A Cidadania brasileira
espera que o Senado Federal não se transforme numa organização de proteção aos
políticos corruptos.”.
À toda evidência, o projeto em
comento representa o que de pior se pode imaginar, em termos de medida
legislativa, porque ele significa ato que vem na contramão da evolução da
humanidade, no sentido de que o correto é haver, nos países sérios e
civilizados, o aperfeiçoamento de normas jurídicas para aprimorar o mais
amplamente possível os trabalhos pertinentes às investigações e ao julgamento
dos casos irregulares, tendo por base justamente a segurança jurídica,
inclusive possibilitando o salutar emprego da ampla defesa e do contraditório, que
permitem a apresentação de provas contestatórias, capazes de se infirmar os
fatos apurados.
Não há a menor dúvida de que a
medida cogitada por alguns senadores não tem cabimento nem mesmo nas
republiquetas, onde a mentalidade política se comporta em harmonia com a
evolução de seu povo, que não permite que, em pleno século XXI, seus políticos
tenham o direito de privilegiar causas pessoais, em detrimento do interesse
público e que ainda possam imaginar que a corrupção e a impunidade fazem parte da
cultura e das atividades políticas.
Urge que os brasileiros tenham
vergonha e dignidade suficientes para se insurgir, de forma veemente, contra os
maus homens públicos que fizeram da atividade política práticas criminosas, não
tendo o menor pudor de pretender usar os cargos outorgados pelo povo para
aprovar normas jurídicas em benefício próprio, como forma de anular o indecente
episódio das denúncias sobre o envolvimento em atos irregulares, pertinentes ao
recebimento de propina, por meio da absurda criação do instituo do combate ao
abuso de autoridade, permitindo com isso o fortalecimento do indigno império da
corrupção e da impunidade. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 24 de abril de 2017
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