sábado, 8 de abril de 2017

Se ele falar mentiras...

O Supremo Tribunal Federal homologou as delações premiadas do marqueteiro da ex-presidente da República petista, nos anos de 2010 e 2014, e da esposa dele, motivando com isso a convocação deles para depor no processo da cassação, pelo Tribunal Superior Eleitoral, da chapa PT/PMDB, da última eleição presidencial.
Diante disso, a ex-presidente, naturalmente incomodada diante da verdade sobre possíveis sujeiras acontecidas nas suas campanhas eleitorais, antecipou-se à revelação do conteúdo dos depoimentos de seus ex-colaboradores, lembrando do seu carinho pelo marqueteiro, mas tendo dito que terá "muita dificuldade" se ele falar mentiras sobre ela por ocasião da delação premiada, à vista do que o casal amigo tem sob segredo, por ter sido responsável pelo marketing das vitoriosas campanhas eleitorais dela.
A ex-presidente, segundo informações obtidas por uma famosa colunista política, já teria esmiuçado o depoimento do ex-presidente da Odebrecht ao TSE e escrito comentários sobre cada fato, tendo chegado à conclusão de que não acredita na existência de conta corrente entre o construtor e a campanha dela, mas sim entre ele "e quem dirigia a operação do João Santana, que todos diziam que era a Mônica Moura".
A referida conclusão simplista teria sido extraída de partes do depoimento do executivo da Odebrecht, que "... pagava ao João Santana dois, três anos depois (de serviços prestados em campanhas eleitorais). Se é verdade isso, há uma conta corrente, porque tem fluxo constante de caixa".
Ainda segundo a colunista, a ex-presidente também refuta a afirmação do empreiteiro de que foram pagos o valor de R$ 20 milhões ao seu marqueteiro, por meio do caixa dois, pelo marketing da campanha presidencial de 2014. Ela não se conforma com a situação e insiste na pergunta: "Por que eu pagaria R$ 70 milhões para o João Santana em caixa um (valor declarado oficialmente ao TSE) e R$ 20 milhões em caixa dois? Por que, hein?".
Acontece que os fatos falam por si sós e estão devidamente comprovados e documentados pelo executivo da empreiteira que bancou o mar de sujeira das campanhas eleitorais do partido que vem sendo culpado por toda imundície que abalou as estruturas econômico-financeiras da Petrobras, cujos fatos já foram reconhecidos pelo então marqueteiro, nos termos da sua delação.  
Não se pode olvidar que o delator a que a ex-presidente se refere é a mesma pessoa que a orientava, na campanha da reeleição dela, a contar longa e duradoura história mentirosa de que o Brasil se encontrava às mil maravilhas, com a economia surfando em mar de marinheiro, sem necessidade de ajustes no futuro, como afirmava, nem fiscal e muito menos econômico, quando, naquela época, as contas públicas já demonstravam astronômicos rombos, em razão justamente das absurdas pedaladas fiscais que, enfim, foram responsáveis, em muita boa hora, pelo impeachment dela.
É bom que o marqueteiro da ex-presidente tenha falado somente a verdade agora, porque, diferentemente da época das mentiras que rolavam soltas durante a campanha eleitoral, em benefício dela, que foi reeleita talve4z por conta disso, a Justiça está nos calcanhares dele agora, que precisa agir, desta feita, com dignidade e honestidade, principalmente porque o caso não diz respeito mais ao processo da reeleição, mas de se dizer somente a verdade, sob pena de a implacabilidade do juiz da Lava-Jato o deixar incomunicável pelo resto da sua vida, em que pese ser ter sido excelente comunicador, em nome das devastadoras mentiras que tanto prejudicaram os interesses nacionais.
Ao invés de indagar acerca da regularidade dos pagamentos de campanha, cumpre à ex-presidente prestar contas à sociedade sobre seus atos na vida pública, por meio da apresentação de documentos e elementos juridicamente válidos, que comprovem a lisura de sua gestão no comando da nação, demonstrando o origem lícita de todos os recursos utilizados nas suas campanhas eleitorais, inclusive aqueles destinados ao pagamento de seu principal assessor, responsável pelas mentiras disseminadas de forma absurda e irresponsável, que foram todas desmascaradas logo no início do seu segundo mandato, com os ajustes fiscal e econômico que havia sido negados na campanha eleitoral. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 8 de abril de 2017

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