Apesar
de os fatos descritos nas delações dos executivos da Odebrecht constituírem algo
de pior que poderia ter ocorrido no país, à vista da forte indicação de que
pode realmente ter havido neles degradação dos princípios inerentes à aplicação
de recursos públicos, sabendo-se que a transparência em si é fato positivo e da
maior importância para o Brasil, ante a enorme chance de haver pacto para o começo
do fim da chaga da impunidade.
A importância disso é que, pela
primeira vez, estão vindo a público revelações com poder de desmascarar a
hipocrisia disseminada de que não existe ninguém no planeta com maior
honestidade, sob a vã presunção de que não houve crime contra a administração e
o ordenamento jurídico, sob o medíocre argumento de que nunca foi pedido um
centavo a ninguém, como se somente esse fato, por si só, fosse suficiente para provar
a inculpabilidade de alguém, quando há tantos outros meios jurídicos de
comprovação do crime ou da sua contestação.
Não
há desconhecer que o culto à personalidade já atingiu níveis realmente
alarmantes, levando-o a realmente se acreditar que teria atingido o patamar
confortável de mito político, com poderes absolutos tanto para influenciar nos
destinos do país, como se este fosse seu, como para se sentir intocável e
inalcançável quanto à aplicação das normas jurídicas, não tendo qualquer
obrigação de prestar contas a ninguém sobre seus atos praticados na vida
pública.
De
repente, é muito provável que esse mito começa a perder cor e desbotar de
vez, fazendo com que gerações de idólatras ou de idiotas bem-intencionados
ou não passem a refletir sobre a realidade bastante cruel e logo vão ter que
engolir a ideia que seu ídolo tem pés de barro e, enfim, o reizinho está perdendo
o trono do poder iluminado e infinito.
É inacreditável que alguém comparável
aos maiores gênios da história da humanidade tenha tido a ingenuidade de cair
na esparrela da sedução do descaminho em rumo à ilegalidade, mediante a
aceitação, segundo sinalizam as delações e as investigações, de presentes e
benefícios financeiros oriundos de propina, como fizeram as empreiteiras, com
seus pomposos agrados financeiros, em troca de favores, principalmente por meio
do tráfico de influência.
Trata-se,
como se vê, de gigantesco equívoco equipará-lo aos gênios mundiais, por ser
atitude acintoso e insultuosa aos verdadeiros gênios, ante a construção de uma
das maiores farsas políticas da história brasileira, conforme mostram os fatos
revelados pelas delações da Odebrecht e das investigações da Operação
Lava-Jato, sendo que os procuradores desta o qualificam como sendo o comandante
da organização criminosa.
Na
verdade, a história do grande líder político se baseia em fantasias e
artifícios, formas comum de demagogia, com aproveitamento de astúcias e espertezas, que ainda
contaram com a boa-fé de milhões de incautos e ingênuos para se operar o
milagre da transformação de mero metalúrgico em presidente de importante nação
como o Brasil, sem as devidas qualidades de verdadeiro estadista, uma vez que
homem público de estirpe estaria longe até mesmo de suspeitas sobre malfeitos
na vida pública.
A
força do populismo se juntou ao oportunismo do espertalhão para explorar muito
à sua esperteza a pouca cultura e a escassez de inteligência, tendo como
aliados ao seu projeto político a força do povo desinformado e despolitizado e a
elite intelectual ávida pelo endeusamento de alguém com a pulsação explodindo
em excessivo sentimento de populismo, muito à sua imagem e semelhança.
O
grande mito político foi construído em cima de absolutamente nada, porque o
líder nada fez por merecer o título de grande estadista, pois nada de
importante pode ser atribuído à sua autoria, que não teve capacidade para criar
nem mesmo pensamento na sua área de atuação, embora seja considerado o pai dos
pobres, por ter mantido e ampliado o programa Bolsa Família, que nada mais era que
mera obrigação do Estado, operada com recursos dos contribuintes, de fomentar
assistência às famílias carentes financeiramente, cujo programa foi
espertamente transformada em importante viés eleitoreiro, ou seja, de forma silenciosa,
ele passou a funcionar como instrumento eleitoreiro do partido governista.
De
forma somente explicável para a conquista do poder, seus adversários políticos
do passado, aqueles que ele os considerava picaretas e corruptos da maior
grandeza, tornaram-se prediletos aliados políticos e os concedeu cargos e mais
cargos no seu governo, em harmonia com o indecente ideário fisiológico do toma
lá, dá cá, que muito contribuiu para degenerar os princípios da administração
pública, que foi transformada em celeiro de incompetência e ineficiência na
prestação de serviços públicos.
Diante
dos fatos deletérios vindo à tona, que precisam ser confirmados ou
reformulados, à luz da observância aos salutares princípios constitucionais da
ampla defesa e do contraditório, à vista de tanta mediocridade da atuação de
verdadeira farsa política, com sua exposição mais que aflorada e explorada à
saciedade sem os confetes e o glamor do poder, os que sempre o apoiaram e acreditaram
no seu poder de verdadeiro redentor da humanidade - os que mantêm um
resquício de pudor, pelo menos - recolhem-se envergonhados pelos acontecimentos
desabonadores da dignidade, em silêncio sepulcral.
É
extremamente lamentável que o Brasil tenha sido governado por homens públicos de
questionável índole política e de formação moral e cívica incompatível com a
grandeza do país, por terem demonstrado, se confirmados os fatos denunciados,
ausência da dignidade à altura dos cargos que lhes foram outorgados pelo povo,
com as forças das honestidade e decência originárias do sufrágio universal, que
têm por inarredável propósito o voto de confiança para a realização tão somente
de ações e obras lícitas, em benefício do bem comum, mas, ao contrário disso,
os fatos mostram que pode ter havido traição e golpe à vontade do povo, com a
entronização e a vulgaridade à safadeza e à cupidez, em total banalização à
desmoralização aos consagrados princípios da administração pública e da
democracia. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 24 de abril de 2017
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