segunda-feira, 24 de abril de 2017

O desmascaramento da hipocrisia?

Apesar de os fatos descritos nas delações dos executivos da Odebrecht constituírem algo de pior que poderia ter ocorrido no país, à vista da forte indicação de que pode realmente ter havido neles degradação dos princípios inerentes à aplicação de recursos públicos, sabendo-se que a transparência em si é fato positivo e da maior importância para o Brasil, ante a enorme chance de haver pacto para o começo do fim da chaga da impunidade.
          A importância disso é que, pela primeira vez, estão vindo a público revelações com poder de desmascarar a hipocrisia disseminada de que não existe ninguém no planeta com maior honestidade, sob a vã presunção de que não houve crime contra a administração e o ordenamento jurídico, sob o medíocre argumento de que nunca foi pedido um centavo a ninguém, como se somente esse fato, por si só, fosse suficiente para provar a inculpabilidade de alguém, quando há tantos outros meios jurídicos de comprovação do crime ou da sua contestação.
Não há desconhecer que o culto à personalidade já atingiu níveis realmente alarmantes, levando-o a realmente se acreditar que teria atingido o patamar confortável de mito político, com poderes absolutos tanto para influenciar nos destinos do país, como se este fosse seu, como para se sentir intocável e inalcançável quanto à aplicação das normas jurídicas, não tendo qualquer obrigação de prestar contas a ninguém sobre seus atos praticados na vida pública.
De repente, é muito provável que esse mito começa a perder cor e desbotar de vez, fazendo com que gerações de idólatras ou de idiotas bem-intencionados ou não passem a refletir sobre a realidade bastante cruel e logo vão ter que engolir a ideia que seu ídolo tem pés de barro e, enfim, o reizinho está perdendo o trono do poder iluminado e infinito. 
          É inacreditável que alguém comparável aos maiores gênios da história da humanidade tenha tido a ingenuidade de cair na esparrela da sedução do descaminho em rumo à ilegalidade, mediante a aceitação, segundo sinalizam as delações e as investigações, de presentes e benefícios financeiros oriundos de propina, como fizeram as empreiteiras, com seus pomposos agrados financeiros, em troca de favores, principalmente por meio do tráfico de influência.
Trata-se, como se vê, de gigantesco equívoco equipará-lo aos gênios mundiais, por ser atitude acintoso e insultuosa aos verdadeiros gênios, ante a construção de uma das maiores farsas políticas da história brasileira, conforme mostram os fatos revelados pelas delações da Odebrecht e das investigações da Operação Lava-Jato, sendo que os procuradores desta o qualificam como sendo o comandante da organização criminosa.  
Na verdade, a história do grande líder político se baseia em fantasias e artifícios, formas comum de demagogia, com aproveitamento de astúcias e espertezas, que ainda contaram com a boa-fé de milhões de incautos e ingênuos para se operar o milagre da transformação de mero metalúrgico em presidente de importante nação como o Brasil, sem as devidas qualidades de verdadeiro estadista, uma vez que homem público de estirpe estaria longe até mesmo de suspeitas sobre malfeitos na vida pública.
A força do populismo se juntou ao oportunismo do espertalhão para explorar muito à sua esperteza a pouca cultura e a escassez de inteligência, tendo como aliados ao seu projeto político a força do povo desinformado e despolitizado e a elite intelectual ávida pelo endeusamento de alguém com a pulsação explodindo em excessivo sentimento de populismo, muito à sua imagem e semelhança.
O grande mito político foi construído em cima de absolutamente nada, porque o líder nada fez por merecer o título de grande estadista, pois nada de importante pode ser atribuído à sua autoria, que não teve capacidade para criar nem mesmo pensamento na sua área de atuação, embora seja considerado o pai dos pobres, por ter mantido e ampliado o programa Bolsa Família, que nada mais era que mera obrigação do Estado, operada com recursos dos contribuintes, de fomentar assistência às famílias carentes financeiramente, cujo programa foi espertamente transformada em importante viés eleitoreiro, ou seja, de forma silenciosa, ele passou a funcionar como instrumento eleitoreiro do partido governista. 
De forma somente explicável para a conquista do poder, seus adversários políticos do passado, aqueles que ele os considerava picaretas e corruptos da maior grandeza, tornaram-se prediletos aliados políticos e os concedeu cargos e mais cargos no seu governo, em harmonia com o indecente ideário fisiológico do toma lá, dá cá, que muito contribuiu para degenerar os princípios da administração pública, que foi transformada em celeiro de incompetência e ineficiência na prestação de serviços públicos.  
Diante dos fatos deletérios vindo à tona, que precisam ser confirmados ou reformulados, à luz da observância aos salutares princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório, à vista de tanta mediocridade da atuação de verdadeira farsa política, com sua exposição mais que aflorada e explorada à saciedade sem os confetes e o glamor do poder, os que sempre o apoiaram e acreditaram no seu poder de verdadeiro redentor da humanidade - os que mantêm um resquício de pudor, pelo menos - recolhem-se envergonhados pelos acontecimentos desabonadores da dignidade, em silêncio sepulcral.
É extremamente lamentável que o Brasil tenha sido governado por homens públicos de questionável índole política e de formação moral e cívica incompatível com a grandeza do país, por terem demonstrado, se confirmados os fatos denunciados, ausência da dignidade à altura dos cargos que lhes foram outorgados pelo povo, com as forças das honestidade e decência originárias do sufrágio universal, que têm por inarredável propósito o voto de confiança para a realização tão somente de ações e obras lícitas, em benefício do bem comum, mas, ao contrário disso, os fatos mostram que pode ter havido traição e golpe à vontade do povo, com a entronização e a vulgaridade à safadeza e à cupidez, em total banalização à desmoralização aos consagrados princípios da administração pública e da democracia. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 24 de abril de 2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário