sábado, 15 de abril de 2017

O continuado drama da seca

Em que pese o enorme sacrifício dos brasileiros, para tornar realidade a transposição das águas do Rio São Francisco para o interior do Nordeste, com a finalidade do permanente abastecimento de água para os sertanejos, esse importante objetivo ainda não passa de mero sonho, porque o benefício pretendido foi transformado em gigantesca frustração.
Os moradores próximos do canal pertinente foram privilegiados pela belíssima imagem referente à passagem da água, mas a realidade é que isso não tem a menor serventia para eles, haja vista que ainda não foram disponibilizados os equipamentos necessários ao abastecimento de água para a população carente.
Um agricultor que mora ao lado do citado canal, na cidade paraibana de Monteiro, disse, com indignação, que “São seis anos de seca que a gente vem tentando escapar. O que mais dói é ver a água passando e a gente não poder tirar essa água. Não está para consumo humano, nem para consumo animal.”, em que pese o líquido correr placidamente, há mais de mês, em direção ao seu destino final, onde tem servido apenas para o banho de moradores, enquanto a população ainda é castigada e submetida, de forma incoerente e inadmissível, à maldade do racionamento.
Naquela cidade, onde desagua o precioso líquido, até pouco tempo, a população alimentava o sonho de ser beneficiada com o imediato reabastecimento, mas as torneiras continuam com pouquíssima utilidade, diante da escassez do líquido da vida, que ainda se encontra desaparecido.
Não obstante, as autoridades incumbidas das políticas de abastecimento de água garantem que a normalização do fornecimento será possível quando aumentar o volume dos reservatórios que abastecem a cidade, ou seja, ainda sem data para o saneamento da questão, deixando a população em continuada aflição.
À vista da cruel realidade, a frustração tem sido generalizada, conforme a expressão de um morador, que disse: “A gente estava com a esperança de que, quando chegasse a água no rio, também chegasse nas torneiras. Mas, até agora, a gente não tem água”.
Enquanto isso, alguns pequenos produtores reclamam que não podem produzir nada, por falta de água, em que pese terem recebido auxílio do governo para o plantio.
A mesma situação de penúria também tem sido enfrentada pelos moradores das localidades que margeiam o canal, porque os poços artesianos secaram e o abastecimento, por carro-pipa, foi suspenso por decisão altamente prejudicial à população.
Nesse ínterim, o costumeiro jogo de empurra e de acusação já foi estabelecido na região, com o Ministério da Integração Nacional esclarecendo que é sua a responsabilidade pela disponibilização da água para o estado, porquanto “O apoio financeiro é do governo federal, mas a execução é feita pelo Estado – que pode responder sobre o assunto. A responsabilidade de tratar e distribuir a água é da companhia estadual de abastecimento”.
Por seu turno, o presidente da Associação de Agricultores de Monteiro disse que “Eles falam que vai ter uma encanação, que vai ter água encanada na casa de cada um (agricultor). Mas enquanto isso não acontece, as famílias estão passando por uma situação difícil”.
O governo da Paraíba garantiu que vem cadastrando os moradores próximos do canal, mas não fez previsão para o fornecimento da água, argumentando apenas que a prioridade é para o abastecimento nas cidades, enquanto o padecimento da população urbana só aumenta com a escassez da água.
Como se percebe, de todo lado aparecem queixas da população, que reclama da falta de providências concretas para tornar eficiente o abastecimento de água, isso apenas na região localizada nas proximidades do canal que atravessa o município de Monteiro, podendo se intuir que a questão da falta de água é terrível e preocupante com relação às demais localidades nordestinas situadas bem distantes do canal em tela, por existir completa impossibilidade de abastecimento por meio das águas do Rio São Francisco, o que demonstra que a cruel desigualdade de tratamento ainda vai persistir por muito tempo entre os martirizados nordestinos.   
Não há a menor dúvida de que a dor do sertanejo é muito grande e a decepção é pior ainda quando se tem carência do precioso bem da vida, como a água, e ela passa na sua porta apenas de passagem, sem a menor possibilidade de acesso a ela, como que zombando da sua extrema impotência imposta pela incompetência das autoridades públicas, que não se sensibilizam sobre as dificuldades e precariedades que martirizam, anos após anos, os sertanejos, que estão calejados do costumeiro desprezo por parte de quem tem a incumbência legal de assistir às necessidades básicas deles.
É absolutamente inadmissível que, em pleno século XXI, ainda seja possível se passar por situação deprimente como essa de se perceber a existência de água em abundância e ainda de boa qualidade, na sua proximidade, mas a população se sente absolutamente incapaz de acessá-la, em razão da notória incompetência governamental, que demonstra não ter a mínima priorização para solucionar as graves questões sociais, mais especificamente como essa da alarmante falta do imprescindível líquido da vida, nas casas de muitos sertanejos.
Trata-se de situação de extremas crueldade e maldade contra população carente, não somente para aquela que mora na proximidade do canal, mas de toda região nordestina, que atravessa enormes dificuldades diante da falta de água e o mais grave é que os investimentos destinados às obras da transposição das águas do Rio São Francisco visavam exatamente suprir a descomunal carência de água no Nordeste, mas isso é totalmente impossível.
Convém que a população nordestina se mobilize para repudiar esse descaso e denunciar, com veemência, essas práticas bastantes prejudiciais à dignidade do ser humano, como forma de mostrar a omissão e a irresponsabilidade por parte daqueles que têm o dever legal de prestar serviços públicos de qualidade à população.
Os fatos denunciados pela população demonstram o descaso de sempre com relação ao atendimento dos serviços públicos de incumbência primária do Estado, que arrecada tributos exatamente para suprir as carências em serviços básicos e essenciais à vida humana, que precisa ser valorizada e compreendida nas suas reivindicações mais que justas e inadiáveis, como o abastecimento de água, que não pode mais esperar para ser solucionado, porquanto trata-se de situação emergencial que precisa ser resolvida o mais rapidamente possível, porque a vida humana não pode ficar à mercê das inadmissíveis incompetência e insensibilidade das autoridades públicas. Acorda, Paraíba!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 15 de abril de 2017

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