O presidente da República, em reunião com
auxiliares, determinou o destravamento de nomeações de cargos no governo, com vistas
a atender, pasmem, pleitos de cerca de 40 deputados da base aliada, em troca de
votos favoráveis à reforma da Previdência.
É vergonhoso se saber que o atendimento dos pleitos
dos inescrupulosos congressistas encerra imposição por parte daqueles contrários
ao projeto do governo, que havia reivindicado ao Palácio do Planalto nomeação
de afilhados para órgãos do governo, os quais não tinham sido atendidos, mas
agora, com a liberação das nomeações, os referidos aproveitadores da coisa
pública passam a ser favoráveis à aprovação, com a garantia de seus votos.
Para tanto, o governo já começou o desbloqueio de indicações
para a Polícia Rodoviária Federal e prometeu solucionar imediatamente outras pendências
nas estruturas estaduais de órgãos e entidades vinculadas à União, exatamente
para satisfazer às exigências de parlamentares.
Assessores do presidente avaliam que há necessidade
de se dar mais atenção ao chamado "baixo
clero", que é integrado por deputados de menor expressão política, porquanto
as cúpulas dos partidos já foram devidamente contempladas.
O governo deu a entender que vem agindo de forma
preventiva para a aprovação da reforma em apreço, ao cobrar empenho de
ministros em suas bancadas, até com ameaça do corte de cargos de "traidores", passando pelo condicionamento
do apoio no Congresso à liberação de mais emendas para parlamentares.
A verdade é que não tem sido fácil para o governo
sinalizar de forma positiva para o mercado e ainda mostrar que não sofreu
grande abalo com os desdobramentos da Lava-Jato, tanto que vem se empenhando para
obter placar robusto em duas votações previstas para esta semana na Câmara dos
Deputados, quais sejam: a renegociação da dívida dos Estados e a urgência para
votação da reforma trabalhista.
É
inacreditável que, em pleno século XXI, quando os países já alcançaram
dimensões evoluídas, em termos democráticos, o país tupiniquim ainda seja
obrigado a conviver com práticas condenáveis e desprezíveis do toma lá, dá cá
tão repugnantemente adotadas no governo anterior, que foi afastado justamente
por incompetência administrativa e práticas contrárias à Constituição, como as
famosas pedaladas fiscais e os esquemas de corrupção.
Em
se tratando de matéria de interesse nacional, não pode haver nada mais
humilhante e ridículo do que o presidente do país precisar negociar com
parlamentares a concessão de cargos públicos e outras pequenezas semelhantes para
aprovação de matéria de interesse nacional, dando a impressão de que se trata
de algo que tem o valor da compra da consciência dos congressistas, como se eles
não tivessem responsabilidade cívica pelo caso, que diz respeito à competência institucional
dos cargos que exercem, que é a aprovação de matérias que realmente precisam de
aperfeiçoamento para melhorar o funcionamento da máquina pública, porque, se
não fosse assim, não haveria necessidade de absolutamente nada.
Nesse
caso, o governo, que se mostra fragilizado e impotente, deveria ter a dignidade
de apenas dizer ao Congresso Nacional que o assunto é importante para a
melhoria da governabilidade do país, pelos motivos tais e quais, e passar a
responsabilidade para o Parlamento votar ou não, conforme a sua consciência
cívica, sem necessidade de negociatas ou quaisquer concessões espúrias e sempre
imorais e deprimentes para os padrões de civilidade e moralidade que se exigem
nos países sérios e desenvolvidos democraticamente.
Nem
mesmo nas republiquetas os governos e parlamentares são subservientes com
relação à gestão dos recursos públicos, que devem ser empregados exclusivamente
em razão do atendimento às causas de interesse público, que não combinam com
negociatas com vistas à aprovação de medidas necessárias, quanto mais em se
tratando que isso faz parte da função legislativa.
É
por essa e outras condutas desprezíveis e repudiáveis, que o Parlamento
brasileiro cada mais contribui para mostrar a sua verdadeira índole antipatriótica
e interesseira, quando integrantes fazem barganha explícita até para a aprovação
de matéria de interesse nacional, como é o caso da reforma da Previdência, que
precisa do aperfeiçoamento justamente pela vontade soberana de congressistas
que chegam a ter a indignidade de exigir, de forma vergonhosa e imoral,
compensação com cargos públicos. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 19 de abril de 2017
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