sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Espantosa corrupção?

Um ministro do Supremo Tribunal Federal esteve dando palestra em Buenos Aires (Argentina), na Universidade Metropolitana pela Educação e o Trabalho, versando sobre corrupção, que foi assistida por público composto, na essência, por juristas de vários países da América Latina.
O ministro brasileiro afirmou que a corrupção no Brasil se espalhou de modo "espantoso", tendo acrescentado com o dito de que "onde você destampa, vê coisa errada, seja na Petrobras, Caixa Econômica Federal, BNDES" e que as evidências "saltam de qualquer compartimento que se abra", referindo-se a "áudios, vídeos, malas de dinheiro, apartamentos".
O magistrado disse que o direito penal brasileiro havia sido "incapaz de punir a criminalidade de colarinho branco que criou um país de ricos delinquentes".
O ministro se referiu ao presidente brasileiro e ao ex-presidente da República petista, ainda que sem citá-los pelo nome, afirmando que "É impossível falar sobre o momento institucional brasileiro sem constatar que o presidente foi denunciado duas vezes, por corrupção passiva e obstrução de Justiça. Além disso, um ex-presidente foi condenado por corrupção passiva, em primeiro grau de jurisdição.".
Ele também ressaltou que a Operação Lava-Jato marca “um antes e um depois" na história do país, por ter mostrado que o que vinha ocorrendo era um "fenômeno generalizado, sistêmico e plural, que envolveu empresas estatais e privadas, partidos políticos, membros do Executivo e do Legislativo, com esquemas profissionais de arrecadação e distribuição de dinheiro desviado".
O ministro declarou que as investigações da Lava-Jato "desvendaram um pacto oligárquico de saque ao Estado brasileiro, por empresários, políticos e burocratas.".
Em reforço da sua explanação, o ministro afirmou que as cerca de 140 condenações emitidas até agora (ele não disse que foram condenações exclusivamente na primeira instância, que não é caso da esfera dele) tornam o Brasil "um dos poucos que tiveram a capacidade de abrir suas entranhas". Com informações da Folhapress.
Convém que se diga que o Supremo tem significativa parcela de culpa nesses episódios de corrupção, mas o ministro não a assumiu, justamente por não ter demonstrado, de forma efetiva, interesse no combate à corrupção e à impunidade, visto que até agora, ele permanece no cenário da podridão da delinquência apenas como mais um importante expectador, por não ter julgado um único das dezenas ou até centena de processos ali tramitando em fase de investigação dos criminosos de colarinho branco, enquanto as 140 condenações - citadas pelo ministro - ocorreram sob a incumbência de um único juiz de primeira instância, ou seja, o magistrado da Justiça Federal de Curitiba, que tem sido símbolo de competência, eficiência e efetividade.
É preciso que os integrantes do Supremo reconheçam que a degeneração da corrupção atingiu patamares alarmantes e preocupantes graças à leniência com a impunidade, principalmente com o beneplácito de quem tem o dever constitucional de agir prontamente contra os agentes públicos envolvidos nesse câncer disseminado na administração do país, que sempre menosprezaram, e com razão, conforme ainda mostram os fatos, o desinteresse da Justiça de atuar com o necessário patriotismo contra os atos praticados por criminosos de colarinho branco, aqueles lembrados pelo ministro.
Conquanto o ministro do Supremo explana com singular desenvoltura sobre a imperiosidade do princípio da moralidade, carece de extrema representatividade por parte daquela Corte para julgar as ações pertinentes à matéria, como forma de demonstração efetiva do atendimento à ansiedade dos brasileiros, pela moralização pública.
Aliás, por último, o Supremo vem prestando enorme desserviço a essa causa nobre de moralização, quando alguns ministros se aliam para liberar da cadeia criminosos de colarinho branco e também concedem ao Congresso Nacional o direito de dar a palavra final sobre as punições aplicadas pelo Supremo a parlamentares, retirando da competência constitucional da Corte tão importante incumbência, que passa a ser símbolo de impunidade, porque o Senado Federal e a Câmara dos Deputados não têm o menor interesse, por plasmado dever corporativista, em punir ninguém, por mais que o crime seja revestido de gravidade, conforme mostram os fatos.
É lamentável que um magistrado do Supremo tenha a exata dimensão do que aconteceu e ainda ocorre nas entranhas da República, por ser mais do que transparente, mas, para a Excelsa Corte de Justiça, não passa disso, de apenas enxergar os estragos da roubalheira e até agora não ter condenado nenhum integrante do seleto grupo de colarinho banco, no caso, os parlamentares donatários do excrescente foro privilegiado, os quais têm espantoso histórico de processos acumulados naquela Corte, mas julgamento que é bom não acontece por mais que a sociedade implore, clame e exija o fim da impunidade no país.
Não obstante, é de bom alvitre se saber que ministro do Supremo Tribunal Federal reconhece que realmente existe o mar de lama que precisa ser varrido da face da República, mas que depende e muito da ação do daquela Casa, como forma de bem cumprir a sua importante missão constitucional de, pelo menos, julgar as ações sob a sua jurisdição e de justificar o título de Corte Suprema de Justiça do país, que precisa, com urgência, dar exemplo de efetividade sobre a sua nobre missão institucional. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 10 de novembro de 2017

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