sexta-feira, 3 de novembro de 2017

A verdade foi vencida

O presidente brasileiro disse, em momento de imensa insensatez, que “a verdade venceu”, ao se referir à votação, na Câmara dos Deputados, que barrou a segunda denúncia apresentada pela Procuradoria Geral da República contra ele. 
O peemedebista disse o seguinte: “Quero até aproveitar para agradecer às deputadas e aos deputados que na votação de ontem (dias atrás) reafirmaram o compromisso comigo e com o nosso governo”.
Na ocasião, o presidente afirmou que as instituições do país foram “testadas de forma dramática nos últimos meses” e que chegou o momento de “ter foco no que interessa ao nosso povo”.
O mandatário afirmou que “O Brasil é sempre maior do que qualquer desafio. E ficou ainda mais forte depois de ter suas instituições testadas de forma dramática nos últimos meses. No fim, a verdade venceu. Prevaleceram as garantias individuais e institucionais da nossa Constituição”.
No pronunciamento para a internet, ele voltou a repetir dados da economia, como a queda da inflação e da taxa de juros, tendo reforçado o discurso de que a recessão ficou para atrás, com recuperação do poder de compra dos trabalhadores e manutenção dos programas sociais.
O presidente disse que “Essa é a maior obra de meu governo. Com a melhora da economia, estamos reencontrando os empregos, os investimentos estão voltando, o consumo das famílias está crescendo”.
Em conclusão, o presidente disse que, na sua gestão, “o trabalho venceu a recessão” e a “perseverança derrotou o medo”.
Com o apoio de 251 votos contra 233 contrários, a Câmara rejeitou o segundo pedido de investigação do presidente, formulado pelo Supremo Tribunal Federal.
A decisão em tela permite que o presidente só pode responder à acusação do Ministério Público após o término do mandato presidencial, em 31 de dezembro de 2018.
O peemedebista foi denunciado pela Procuradoria Geral da República, ante a suspeita da prática dos crimes de organização criminosa e obstrução de Justiça, mas, diante da decisão em tela, os fatos pertinentes não podem ser investigados enquanto ele estiver no Palácio do Planalto.
A única verdade que realmente prevaleceu, nesse imbróglio, foi a indignidade do próprio presidente e dos deputados que negociaram, em verdadeiro balcão de troca, a liberação de verbas pertinentes a emendas parlamentares, a nomeação de cargos nos ministérios e nas empresas estatais, a concessão fiscal, entre outas indecências que não se harmonizam com os princípios republicano e democrático.
A verdade que restou vencida foi a que o Brasil passou a ficar sabendo que os deputados que apoiaram o presidente se venderam pelos preços negociados com o Palácio do Planalto e que a República foi transformada em verdadeira organização criminosa e a prova inconteste disso é a que o líder dela permanece no cargo principal da nação.
Não é verdade que as instituições republicanas tenham sido testadas, sobretudo porque o principal pivô da denúncia da prática era o próprio presidente - e não as instituições -, o qual somente conseguiu escapar da degola graças às negociatas e as manobras que resultaram na compra da consciência de inescrupulosos deputados, conforme o desfecho desse lamentável episódio envolvendo a principal figura pública do país.
Em absoluto, não “Prevaleceram as garantias individuais e institucionais da nossa Constituição”, mas sim a indignidade e a insensatez, por parte de parlamentares, que chancelaram, de forma injustificável, a permanência no comando do país de alguém suspeito da prática de crimes incompatíveis com a liturgia do relevante cargo de presidente da República, que não seria possível se o Brasil fosse uma nação séria.
Se o Brasil fosse um país sério, civilizado e evoluído, em termos políticos e democráticos, certamente que os órgãos de controle e fiscalização sobre a regularidade dos atos da administração pública seriam devidamente apurados, para o fim de, se for o caso, atribuir-se responsabilidades aos envolvidos, com vistas à reparação dos danos causados aos cofres públicos, cujos resultados serviriam para lição disciplinar e pedagógica para os homens públicos, como forma preventiva da incidência de casos semelhantes.
          O que houve mesmo de verdade foi a manipulação da consciência de deputados que, em defesa de seus interesses, aderiram, em puro oportunismo, aos agrados palacianos, para trabalhar para a omissão da verdade, que somente seria possível se saber se houvesse a autorização de que trata o pedido para o Supremo Tribunal Federal investigar o presidente do país, na forma da denúncia em apreço. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 3 de novembro de 2017

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