terça-feira, 14 de novembro de 2017

A falta da dignidade

A menos de um mês da reunião que elegerá a nova direção do PSDB, o senador tucano mineiro, que é o atual presidente afastado da sigla, fez gesto brusco de reassumir a presidência do partido, afastando um senador cearense do cargo, que a vinha comandando, de forma interina.
Mas, segundo a sua assessoria, o senador mineiro houve por bem não ficar na direção do partido e, ato contínuo, indicou um ex-governador de São Paulo para a presidência interina do PSDB.
Segundo a imprensa, os senadores mineiro e cearense se chocaram em conversa ríspida, quando o primeiro pediu que o colega o entregasse o cargo de volta, mas o segundo disse que preferia que a decisão partisse do próprio mineiro.
Para destituir o cearense do cargo, o senador mineiro criou o argumento que queria "isonomia" na disputa pela presidência do PSDB.
O confronto entre os dois caciques serviu para acirrar a divisão entre as duas alas do PSDB: a que defende o afastamento do governo (próxima ao grupo do cearense) e a que prega a continuidade da aliança com o presidente do país, com proximidade ao senador mineiro.
O senador cearense se lançou candidato à presidência do partido, empunhando o discurso, com forte apelo ao combate à corrupção e ao reconhecimento de erros, medidas essas que vieram acompanhadas do anúncio da adoção de regras de compliance para os filiados.
A candidatura do cearense se opõe à do governador de Goiás, que é apoiado pelo grupo do senador mineiro.
O senador cearense havia assumido interinamente o comando do partido, logo após o senador mineiro se licenciar do cargo, por ter sido gravado pedindo R$ 2 milhões de propina ao empresário e delator dono da JBS.
A atitude brusca e autoritária do senador mineiro mostra que PSDB está no olho da crise interna sem precedentes, em que os cacique não se entendem e põem à prova a unidade da sigla, que começou a se esfacelar com o envolvimento do senador mineiro com a indecorosa negociata referente ao famoso “empréstimo” da mala, cuja desmoralização teve o beneplácito do partido, quando deveria ter o expulsado de suas fileiras, uma vez que o ato desqualificado por ele praticado não condiz com o exercício de cargo público eletivo, sendo motivo da perda do mandato, mas o partido preferiu apoiá-lo nessa imundície.
À vista do ato indecoroso praticado pelo senador mineiro, que foi aceito, apoiado e protegido, com a maior passividade, pelo partido, não há como se esperar mais credibilidade dele, que ficou desmoralizado juntamente com o próprio senador, que não teria a mínima condição de manter influência no comando do PSDB.
Como a política brasileira é ridícula, ao se perceber que partido que já foi sinônimo de dignidade e moralidade é controlado por pessoa sem a menor condição ética e moral para comandá-lo, diante do escândalo protagonizado por ele, que foi flagrado no imbróglio da mala recheada de dinheiro de propina.
Não se sabe quem, nesse caso, é mais desmoralizado e indigno, se o partido, que não teve a decência de expulsá-lo, pelo ato indecoroso por ele praticado, ou o próprio senador mineiro, que traiu a confiança do eleitor mineiro, que certamente não merece ser representado por político que não se digna a honrar a delegação a ele conferida nas urnas.
A existência de político como o senador mineiro na vida pública é apenas a confirmação de que as atividades político-partidárias não merecem a mínima credibilidade, quando homem público sem o devido respeito moral ainda dá as cartas nos destinos do seu partido, que, desde o citado incidente deveria, no mínimo, tê-lo afastado se seus quadros, por respeito aos princípios da seriedade e da civilidade que precisam ser fielmente preservados nas atividades públicas, em nome da nobreza da política. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 14 de novembro de 2017

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