sábado, 4 de novembro de 2017

Sensibilidade para repudiar

O arquivamento de duas denúncias contra o presidente do país teve custo astronômico para os contribuintes, conforme revela o site Congresso em Foco, uma vez que, desde que ele foi acusado pela primeira vez, em junho último, foram liberados recursos da ordem de R$ 6,6 bilhões em emendas parlamentares destinadas a deputados e senadores.
A ONG Contas Abertas detalha que, no período de janeiro a maio do fluente ano, tinham sido liberadas verbas no valor de R$ 102,6 milhões, mas, somente em junho, que coincidiu com a primeira denúncia, o valor atingiu o patamar de R$ 2 bilhões e, já no mês seguinte, os gastos continuaram aumentando, tendo atingido o valor de R$ 2,2 bilhões e voltando a diminuir em agosto, quando foram registrados R$ 199 milhões.
Durante o período da segunda denúncia, compreendendo de setembro a outubro, foram liberados em emendas parlamentares os valores de R$ 1 bilhão e R$ 1,2 bilhão, respectivamente.
As Contas Abertas, entidade privada, afirmaram, com base em acompanhamento da execução orçamentária da União, que “A cronologia dos empenhos orçamentários demonstra, claramente, que as emendas estão sendo utilizadas como moedas de troca. Ainda que sejam obrigatórias, o governo realiza os empenhos estrategicamente às vésperas das votações do seu interesse”.
Não há a menor dúvida de que a antecipação de recursos de emendas parlamentares, nas circunstâncias, caracteriza a prática de vários crimes, eis que, estando os cofres na penúria como é reiteradamente alegado por fonte oficial, a única forma possível da liberação de verbas somente pode ocorrer por meio do desvio de recursos de outras fontes também já sacrificada pela escassez de caixa, para o atendimento de interesse particular do mandatário brasileiro, que teria agido de maneira completamente irresponsável, ao certamente prejudicar a execução de programas governamentais, justamente pela indevida retirada de recursos deles.
Nessas condições, a situação se torna ainda mais criminosa porque o desvio de recursos tem por finalidade socorrer situação pessoal do presidente, que estava com a corda no pescoço e somente se livrou dela fazendo uso de dinheiro público já minguado e que certamente não havia previsão antes do tempo, caso esse que, necessariamente, implica a apuração de responsabilidades, para o fim de se identificar a autoria dos atos delituosos e se imputar a culpa àqueles que teriam se beneficiado da indecente compra de votos, tendo, com isso, causado danos ao patrimônio dos brasileiros, que precisa ser devidamente reparado.  
Nos países sérios, civilizados e evoluídos, em termos políticos e democráticos, essa vergonhosa compra da consciência dos deputados, com recursos públicos, seria imediata e rigorosamente investigada pelos órgãos de controle e fiscalização, com vistas à apuração dos valores realmente comprometidos com as negociatas, à responsabilização dos envolvidos, à reparação dos danos causados aos cofres públicos e à aplicação das penalidades criminais cabíveis, tendo ainda como propósito que as medidas adotadas possam servir de exemplo disciplinar e pedagógico, como forma de se evitar a reincidência, no futuro, de casos semelhantes.
Convém que os brasileiros tenham a sensibilidade para repudiar, com veemência, os atos do presidente do país e dos congressistas que não se harmonizem com os salutares princípios da ética, da moralidade, da probidade, da legalidade, da dignidade, do decoro, entre outros que são imperativos na gestão dos recursos públicos, exigindo que os órgãos de controle e fiscalização, como o próprio Congresso Nacional, o Tribunal de Contas da União e o Ministério Público Federal, exerçam prontamente o seu dever constitucional e legal de apurar os fatos inquinados de irregulares, como forma de atender e satisfazer ao interesse público, inclusive com a reparação dos prejuízos causados à nação. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 4 de novembro de 2017

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