A esperança dos brasileiros é que a Operação Lava-Jato
continue firme e forte, mas a percepção que se tem é de que a dominante classe
política vai insistir na tentativa, a todo custo, de pôr ponto final nas
investigações e nas medidas visando à moralização pública, que seria a
verdadeira redenção do país, pela certeza do pleno emprego dos recursos
públicos nas finalidades estritamente orçamentárias.
Essa é a perspectiva que mostra a mais recente
pesquisa Pulso Brasil, do instituto Ipsos, acerca do futuro da maior e bem
estruturada operação anticorrupção já deflagrada no Brasil.
O diretor do aludido instituto disse que “A pesquisa mostra que o anseio por justiça
continua sendo melhor representado pela Lava-Jato, mas, ao mesmo tempo, indica
que a população não está indiferente ao poder de reação do mundo político aos
seus desdobramentos”.
A massa expressiva de 94% dos entrevistados disse que
“a Lava-Jato deveria continuar com as
investigações até o fim, custe o que custar”.
Por seu turno, em pesquisa realizada entre julho a
setembro, cresceu de 19% para 33% o índice dos ouvintes que acreditam que “a classe política vai acabar com a Lava-Jato”.
A pesquisa também revelou, em setembro, que, para
76% dos entrevistados, a operação “vai
fortalecer a democracia no Brasil”. Embora a esperança no poder
transformador da operação ainda seja significativa, que já foi maior, conforme
a pesquisa realizada em maio, em que 86% dos ouvintes se diziam confiantes na
contribuição dela para o amadurecimento da democracia brasileira.
Essa pesquisa mostra que 71% dos entrevistados concordam
que a Lava-Jato pode transformar o Brasil em país sério e que mais da metade
dos entrevistados (56%) acreditam que a operação está investigando todos os
partidos, enquanto 40% deles disseram já sentem o cheirinho de “pizza” no ar, saindo
do forno.
Um cientista político da consultoria política Pulso
Brasil disse que o desejo, quase unânime dos entrevistados, é de que a operação
“continue até o fim, custe o que custar.
Esse desejo ainda é resquício daquilo que
parecia ser um dos poucos consensos na sociedade: a importância da Lava-Jato. A
operação sempre esteve acima das instituições que ela investigou e investiga.
Por isso, ainda guarda esse prestígio entre a população.”.
O cientista ressaltou que, apesar do “prestígio” da população aos trabalhos da
operação, é evidente a percepção do forte contra-ataque político em relação aos
desdobramentos das investigações, diante da “A ideia de que a Lava-Jato não vai atingir os políticos começa a
crescer quando a operação esbarra no foro privilegiado, quando esbarra em nosso
próprio sistema e na lentidão dos julgamentos. É evidente que a tramitação no Supremo Tribunal Federal é diferente do
que acontece em Curitiba, com o juiz Sérgio Moro (que conduz a Lava Jato na
primeira instância). Às vezes, isso causa
confusão na população, que acaba entendendo que a própria Lava-Jato estaria
fraquejando na hora de condenar os políticos”.
Um cientista político e professor do Mackenzie tem percepção
de que o mundo político pode frear a Lava-Jato, dando o exemplo do
ex-presidente da República petista, nestes termos: “Veja o caso do ex-presidente. Embora condenado em primeira instância,
ele continua livre e fazendo campanha pelo Brasil contra a própria Lava-Jato.
Isso é muito forte. A Lava-Jato colocou empreiteiros na cadeia, mas não
conseguiu que Lula se tornasse um indivíduo como outro qualquer e fosse preso.”.
O professor ainda citou outros fatores em reforço
ao seu receio sobre o esmagamento da Lava-Jato, diante da crença de que “Além do Lula, o excesso de ativismo do
Judiciário também trouxe desgastes à operação. Também podemos colocar nesse
pacote as ações do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. A forma como
a delação dos irmãos Batista da JBS foi tratada serviu para o desprestígio da
investigação”.
Outro cientista político da Fundação Getúlio Vargas
disse que os resultados da pesquisa mostram que a Lava-Jato se prolongou demais:
“Apesar da duração da operação, a
população ainda não viu uma melhora do quadro político – e até alguns
apoiadores ferrenhos da Lava-Jato já foram pegos em casos de corrupção. Então, começa a arrefecer a sensação de que
a Lava-Jato pode acabar com os abusos da classe política. Ao contrário, aumenta
a sensação de que a classe política é quem vai triunfar.”.
Finalizando, o responsável pela pesquisa disse que
“É provável que as próximas pesquisas
ainda mostrem um crescimento desse receio de que a classe política acabe com a
Lava-Jato. Fatores como a recusa em aceitar a segunda denúncia contra o presidente
Michel Temer e a vitória do senador Aécio Neves no Senado podem aumentar a
desconfiança da população”. As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
À toda evidência, as pessoas sensatas, honradas e
dignas são capazes de enxergar que o trabalho sério, competente, eficiente e
responsável realizado pela Lava-Jato corresponde exatamente à ansiedade dos
brasileiros de bem, que aspiram a assepsia da corrupção na administração do
país e o fim da impunidade principalmente dos criminosos de colarinho branco,
que são os piores e mais agressivos rapinadores do dinheiro público.
Os fatos mostram que ainda há enorme distanciamento
do desejo de completa moralização das atividades públicas, mas a excrescência
do foro privilegiado tem contribuído para que haja essa gigantesca dicotomia
entre o desejável e o efetivado, em termos de depuração das impurezas, em razão
de o principal órgão jurídico-constitucional ainda não ter compreendido a real
necessidade de punir os corruptos, haja vista que, passados quase quatro anos
da deflagração dos procedimentos inerentes às investigações da Lava-Jato,
aquela instituição, de forma inexplicável e injustificável, não puniu, pasmem, absolutamente
ninguém.
É inadmissível que o Supremo Tribunal Federal
esteja na contramão dos fatos inerentes à Lava-Jato, por não ter nenhum
julgamento de criminoso de colarinho branco, enquanto o juiz de primeira
instância, que é responsável pela parte mais espinhosa das investigações, já
condenou à prisão dezenas de importantes corruptos políticos, empresários e
executivos, fato que demonstra que, se depender da ação vigorosa que se espera
da Corte Suprema, os 94% dos brasileiros que apoiam a Lava-Jato vão continuar
em estado de latência e desespero, decepcionados com a incompetência contra
esse câncer da corrupção.
Essa pouca efetividade do principal órgão da
Justiça contribui para o descrédito dos brasileiros quanto à vontade do
verdadeiro e indispensável combate à corrupção e à impunidade, justamente por
envolver tubarões na criminalidade, sendo que tem político investigado em quase
duas dezenas de processos, mas nada das punições que são esperadas contra ele e
esse fato tem o condão de se permitir que ele fique trabalhando com afinco e às
claras para dificultar e estorvar os trabalhos da operação, exatamente fazendo
uso do seu poder e da sua influência – usando dinheiro público - para emperrar
a dinâmica e a eficiência da operação que tem sido símbolo da busca da
moralidade e da dignidade dos atos da administração do país.
É preciso que os brasileiros resistam aos ataques
covardes dos políticos envolvidos no lamaçal da corrupção, para abraçar com
punhos fortes e apoiar essa causa importantíssima empreendida pela Operação
Lava-Jato, que é a única maneira de ainda se ter esperança na moralização
pública, com enorme possibilidade de, pelo menos, minimizar essas desgraças da
corrupção e da impunidade dos criminosos de colarinho branco. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 6 de novembro de 2017
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