O
que já estava delineado, terminou exatamente como queria o Centrão, em entregar
à sua facção, como forma de loteamento, o Ministério das Cidades, alvo da maior
cobiça entre os partidos que o integram, a um parlamentar que se disponha a
oferecer amplas condições para atender às reivindicações dos congressistas
amigos, eis que se trata de pasta onde se concentra parcela expressiva de
recursos destinados ao atendimento também dos projetos dos parlamentares.
Essa
foi a forma sábia e simplista, ao estilo transverso encontrada pelo presidente da
República para agradar a chamada base aliada composta pelo famigerado Centrão e
diminuir a resistência à aprovação da tão ansiada reforma da Previdência, em
mais uma demonstração deprimente do balcão de negociata do Planalto, em reforço
do vergonhoso toma lá, dá cá, que se consolida em torno da necessidade da aprovação
de projeto do governo.
A
situação fisiológica chegou ao auge da indignidade, quando se cogitou a divisão
daquele ministério para atender às várias legendas, diante da tremenda cobiça
pelos cargos que poderiam se encaixar, de forma pontual, aos interesses do
Centrão, com a fragmentação de uma em várias pastas menores, que teria o condão
de atender aos abutres do Congresso, que brigam eterna e desesperadamente por
cargos na Esplanada.
O
nome de consenso já foi encontrado, que coube ao presidente da Câmara dos
Deputados a primazia e a regalia da indicação, como forma de agrado do
presidente do país a ele, que pretende que a reforma da Previdência finalmente
tenha tramitação facilitada, com mais esse indecente agrado do Palácio do
Planalto, em nome do recriminável toma lá, dá cá, como se essa excrescência
fizesse parte do ritual normal na República, porque todos se lambuzam nessa
indescritível pratica.
Comenta-se
que o ministério em questão, que vinha sendo comandado por um deputado tucano, teria
sido estruturado para facilitar o atendimento das questões do interesse do PSDB,
evidentemente à revelia do presidente do país, cuja situação chegou à exaustão,
com rebelião no Centrão contra as manobras do antigo titular da pasta.
Diante dessa vexatória situação, o então ministro havia
sido convocado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara para explicar
eventual direcionamento de ações da pasta, como o Minha Casa, Minha Vida, para
o atendimento de redutos eleitorais de tucanos.
Os atos do presidente do país beiram à
mais desprezível maneira de gestão pública, como o indigno loteamento de
ministérios e empresas estatais, em que se nomeia o seu titular pelo valor
meramente político-eleitoral, em completo desprezo ao critério da competência e
da experiência que são indispensáveis para o desempenho de cargos de
assessoramento do presidente, no primeiro escalão de governo, de quem se exige
o mínimo de comprometimento com a causa pública, mas a única certeza que se tem
é a de que o titular terá apenas o compromisso de ser fiel aos princípios
estabelecidos pelo Centrão, no melhor possível do atendimento às reivindicações
de seus integrantes, fato esse extremamente inadmissível, por não se harmonizar
com o atendimento do interesse público.
Nesse ponto, não há a menor dúvida de que o Brasil se firma
como verdadeira republiqueta, por demonstrar desprezo aos comezinhos princípios
da valorização e da eficiência na administração pública, que é aviltada, de
forma reiterada, por quem tem o dever constitucional de defender os interesses
da integridade, moralidade e dignidade republicanas.
É
indiscutível que a entrega de ministério, em forma de simples loteamento,
constitui verdadeiro escárnio, em clara negação aos mais sagrados princípios que
devem ser observados pelos agentes públicos, como forma de moralização pública.
Trata-se
de mais uma implementação de ato da República que tem o condão de afrontar
gravemente os princípios republicano e democrático, para o que se exige, no mínimo,
investigação por parte dos órgãos de controle e fiscalização, diante do
indiscutível ferimento das normas de administração orçamentária e financeira,
com vistas à identificação de responsabilidades de quem tenha contribuído, de
forma clara e efetiva, para os prejuízos causados ao erário. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 23 de novembro de 2017
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