segunda-feira, 20 de novembro de 2017

O sacrifício da avaliação prévia

A revista ISTOÉ apresenta, em reportagem de capa, fatos atribuídos ao deputado ultraconservador pelo Estado do Rio de Janeiro, mostrando extensa argumentação sobre seu perfil de político que já acumula, na vida pública, avantajado histórico de truculência e desrespeito aos direitos humanos.
A revista ressalta que ele vem tentando “vestir pele de cordeiro, mas não adianta. É um predador. Tornou-se conhecido exatamente pela truculência, pelos raivosos ataques às minorias, pelas ofensas às mulheres, aos homossexuais e pela defesa radical da tortura e dos regimes autoritários. Salta aos olhos sua verve flagrantemente totalitária – o parlamentar reage a críticas a coices de cavalo. Demonstra não admiti-las. A virulência com que contra-ataca qualquer reparo dispensado a ele é típica de quem não suporta ser fiscalizado. Imagine no poder? Como diria o filosofo espanhol Ortega & Gasset, parece faltar a Bolsonaro aquele fundo insubornável do ser. Ou seja, o mais íntimo pensamento na hora em que o indivíduo encara o seu reflexo no espelho e tenta reconhecer a própria face. Não raro, acusa os outros do que ele mesmo faz.”.
A reportagem esclarece que o deputado se elege “graças aos votos de pessoas aparentemente tão preconceituosas quanto ele. As que não o são, transmitem a impressão de estarem inebriadas pelo fenômeno eleitoral – os olhos vidrados e a postura quase catatônica de seu séquito, a entoar ‘mito, mito, mito’ a cada aparição de Bolsonaro pelas capitais do País, falam por si. Nos últimos meses, o parlamentar aproveitou a crise de segurança e a escalada da corrupção para ampliar sua faixa de simpatizantes.”.
Não obstante, agora, ele se apresenta como sendo o candidato moderado com o perfil ideal à Presidência da República, mostrando que é possível acreditar na recuperação da confiança na verdadeira e tradicional política, já tendo conquistado a simpatia de parcela expressiva de admiradores, conforme mostram as pesquisas de intenção de voto, onde ele tem sido o segundo candidato entre os demais apresentados até agora, só perdendo para o líder-mor do PT
A reportagem aborda com profundidade fatos relacionados ao pensamento e as atitudes nada animadoras sobre o deputado carioca, com direcionamento de extremo pessimismo sobre as suas pretensões, dizendo que, “Porém, que ninguém se engane. Bolsonaro significa um retrocesso para o Brasil. O pré-candidato leva Messias no nome, mas definitivamente não conduz o País para um bom caminho. Depois de um impeachment e de a Lava Jato arruinar a velha política e seus métodos condenáveis, as próximas eleições podem representar um momento de inflexão para o Brasil. Pelo menos é o que se espera. Sua candidatura, no entanto, é a antítese disso.”.
A revista continua com a mão carregada na avaliação bem pessimista sobre o deputado, quando disse que “Comete erro grosseiro quem não dá importância à ascensão do ex-capitão do Exército. O País pode estar diante do ovo da serpente. Embora sua candidatura seja legítima, e algumas de suas ideias passíveis de estarem em debate numa campanha, uma eventual eleição de Bolsonaro representa uma grave ameaça aos preceitos republicanos e democráticos. Do ponto de vista político, será como manter o País sob um Fla-Flu constante. E, pior, debaixo de um tacape manejado por um troglodita desprovido de freios. Ele sabe que grassa no eleitorado um sentimento de desolação e, para chegar lá, joga exatamente para essa plateia. Por isso, tornou-se um fenômeno nas redes sociais, com mais de cinco milhões de seguidores, além de admiradores fieis. Trata-se, no entanto, de um mito com pés de barros.”.
A reportagem deixou bastante clara a sua avaliação sobre o que pensa verdadeiramente acerca da capacidade do deputado, da seguinte forma: “As declarações de Bolsonaro costumam ser contraditórias e inconsistentes, um espelho de seu repertório raso. Mostram seu total despreparo para exercer altas funções no Executivo. Seu conhecimento sobre a economia brasileira é de uma superficialidade chocante para um homem com tantos anos de vida pública. Ele próprio admite que não entende nada do riscado. E diz que, se chegar à Presidência, bastará nomear um ministro da Fazenda que seja do ramo para ficar tudo certo. Quem conhece seu estilo centralizador, sabe que não é bem assim. Os próprios aliados reconhecem que delegar não é seu forte.”.
Conceituados veículos de comunicação internacional já cuidaram de analisar o fenômeno candidato ultraconservador, a exemplo da “Financial Times” e “The Economist”, da Inglaterra, que fizeram duras críticas a ele, sendo que o Financial o comparou aos presidentes dos EUA e das Filipinas, dizendo, ipsis litteris: “Um demagogo de direita com pontos de vista radicais”, enquanto a “The Economist” disse que ele não é um “Messias”, como seu sobrenome do meio, mas sim um “menino muito travesso”. A revista o descreve como um nacionalista religioso, anti-homossexual, favorável às armas e que faz apologia a ditadores que torturaram e mataram brasileiros entre 1964 e 1985. “Bolsonaro quer ser o Trump brasileiro”, constata “The Economist”.
É evidente que o deputado não deve ter gostado nada sobre as avaliações feitas pelas citadas revistas, mas certamente ele deve ter ficado fora de si, a exemplo do que achou de críticas feitas por uma famosa jornalista, que havia questionado seu despreparo com relação à economia, quando ele disse que “Miriam Leitão, a marxista de ontem, continua a mesma. Seu lugar é no chiqueiro da história”, em revide que demonstra o destempero dele para tratar das críticas e dos questionamentos, quando há completo desprezo aos princípios do cavalheirismo, da educação e da diplomacia, próprios dos verdadeiros estadistas.
Os verdadeiros estadistas têm a obrigação, como norma de princípios, de compreender e entender que as críticas, por mais deselegantes que sejam, devem ser analisadas e respondidas em tom apropriado à liturgia harmoniosa com o cerimonial de alto nível, em demonstração de maturidade, elegância e sabedoria próprias dos homens públicos sensatos e responsáveis.
O que mais pesa negativamente contra o candidato ultraconservador é a sua normal vocação pelo hábito da intolerância contra os direitos humanos, mesmo sendo uma das garantias fundamentais insculpidas na Carta Magna, a exemplo dessa sua afirmação: “Precisamos dar um cavalo de pau na política de direitos humanos”, que foi chancelada com esses infelizes e irracionais dizeres, também da sua autoria: “Direitos Humanos, esterco da vagabundagem” e “Sou preconceituoso com muito orgulho”.
À toda evidência, o deputado tem inegável currículo carregado de declarações polêmicas, eivadas de racismo e de forte desprezo à mulher, como o caso que ficou famoso, quando ele agrediu com violentas palavras uma deputada do PT-RS, em 2014, ao dizer que ela “não merecia ser estuprada porque ela é muito ruim, porque é muito feia. Não faz meu gênero. Jamais a estupraria”. Por causa disso, ele foi condenado pelo Superior Tribunal de Justiça a pagar o valor de R$ 10 mil a ela e de se retratar, na mídia.
A revista, depois de exaustiva descrição de fatos circunstanciais sobre a vida do deputado ultraconservador, disse, em tom cristalino de verdadeiro e importante alerta, que “Que ninguém perca de vista: as consequências da eleição de um político radical e agressivo podem ser funestas à nação. O Brasil começa a se erguer de um longo período de recessão. E tenta reencontrar o caminho do crescimento e, por que não, da pacificação. A saída, portanto, não é o extremismo. Ao contrário. O País precisa de união. Bolsonaro sem máscaras, aquele que (quase) todos conhecem, passa longe disso.”.
Tem uma história vivida em peças teatrais e filmes sob o sugestivo título que diz: "Meu passado me condena", tendo como mote, nesse caso, as estripulias engraçadas vivenciadas por um casal.
A fiel narrativa sobre a história do mais polêmico candidato ultradireitista à Presidência da República parece, com um pouco de boa vontade, se encaixar perfeitamente no aludido título, uma vez que a vida real dele pode ter ficado muito bem retratada, com os mínimos detalhes na reportagem, tendo o condão de despertar a atenção da sociedade para questão de suma importância, que é a entrega dos destinos do Brasil sob o comando de pessoa que ainda não demonstrou preparos e condições suficientes para o desempenho de missão de extrema relevância, cujos encargos das políticas nacionais são de gigantescas responsabilidades, onde não há possibilidade para aprendizagem nem experimentação, diante do dinamismo das ações gerenciais.
          Polêmica à parte, convém que os brasileiros, diante de tantas histórias de pessoas ultradespreparadas, com viés próprio dos eternos aproveitadores na política, que já comandaram o país, aproveitem o longo tempo que ainda falta para o pleito eleitoral para profunda reflexão e avaliação sobre a real contribuição, em termos de benefício para a nação e seu povo, com a escolha de representantes com o perfil de extremos desequilíbrios psicológico e de personalidade, com características absolutamente contrárias ao pensamento mediano e normal do ser humano, que tem como princípio o respeito aos sentimentos da dignidade e da individualidade, assegurados na Carta Magna, que delineia a igualdade entre os brasileiros, quanto aos direitos e às obrigações, em que deve prevalecer, sobretudo, o respeito aos direitos humanos e aos princípios democráticos, o que implica o supremo direito à individualidade e a opção à diversidade, tudo em harmonia com o desenvolvimento da humanidade.
          Diante de péssimos e degradantes exemplos de políticos despreparados, incompetentes e até desequilibrados psicologicamente, que conseguiram conquistar milhões de votos sob os artifícios da mentira, da hipocrisia e de tantas falsidades, próprias de ideologias retrógradas e destoantes da realidade brasileira, que foram desmistificadas logo em seguida aos pleitos, não seria conveniente que os brasileiros se sacrificassem, agora, em melhor avaliação sobre se o passado de políticos com tantas histórias destrutivas na vida pública já não seria mais do que suficiente para condená-los, em definitivo, antes que o final desse caso seja infeliz e extremamente prejudicial aos interesses do país e de seu povo? Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 20 de novembro de 2017

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