quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Em nome da indignidade

Há poucos dias, o Brasil experimentou o ápice do fisiologismo desavergonhado e inescrupuloso, com a romaria de parlamentares, com a cara mais lisa, se dirigindo ao Palácio do Planalto, levando a tiracolo relação interminável de reivindicações para a implementação de projetos pessoais e da sua base eleitoral, evidentemente que, em troca e garantia do atendimento de seus pleitos individuais, os congressistas sacramentaram o sepultamento da segunda denúncia apresentada contra o igualmente desonrado presidente brasileiro, que tudo fez para agradar os casos da indignidade político-administrativos.          
Nessa luta renhida envolvendo os deputados e o presidente do país, houve verdadeira disputa de posição, onde os ganhadores do jogo de força foram a indignidade dos homens públicos, onde estavam no cenário o presidente do país e deputados representantes do povo, cujos interesses pessoais foram tranquilamente atendidos, com o emprego dos já minguados recursos públicos, que são desviados, no peito e na raça, para a satisfação daqueles que têm o dever moral de zelar pela integridade do patrimônio dos brasileiros e boa e regular aplicação dos recursos públicos.
O retrato mais fiel do lastimável fisiologismo político ficou explícito antes da votação da segunda denúncia apresentada pela Procuradoria Geral da República contra o presidente do país, pelos crimes de organização criminosa e obstrução de Justiça, que foi rejeitada, sem que antes o principal interessado tivesse atendido às barganhas de multidão de parlamentares, em verdadeira profusão de pleitos enfeixados em indecoroso balcão do “famoso” e recriminável sistema do toma lá, dá cá, que é a marca patenteada da rasteira política tupiniquim.
Além da autorização do pagamento de bilhões de reais em emendas parlamentares, foram distribuídos cargos a aliados e banidos outros, com a perda de postos de trabalho na Esplanada dos Ministérios para aqueles que votaram a favor da admissibilidade da denúncia, ou seja, contra o governo.
Nesse momento de desespero palaciano, para salvar a pele do presidente, muitas concessões foram feitas, para agradar os deputados, como a renúncia fiscal de tributo, a redução de dívida referente ao Funrural e a desistência de leilão de aeroporto e empresas públicas deficitárias, que são controlados, de forma injustificável, por parlamentares, o que demonstra o elevado grau de irresponsabilidade dos políticos envolvidos nessas negociatas, visivelmente em prejuízo do interesse nacional.
A realidade que sobressai desse Congresso é a autêntica desmoralização materializada na velha máxima cunhada por São Francisco de Assis, de que “é dando que se recebe”, só que, no caso, de forma degradante, não importando se isso tem ou não reflexo nos princípios republicano e democrático, que deveriam ter sido observados pelos representantes do povo.
O sacrifício do governo foi tamanho que houve necessidade de raspar o caixa dos ministérios, para direcionar dinheiro aos projetos indicados pelos deputados, a fim de atender às suas bases eleitorais.
O certo é que o rolo compressor imposto pelo Congresso não deixou a menor alternativa para o Palácio do Planalto senão a de atender aos pleitos indicados pelos aproveitadores parlamentares que, por sua vez, cumpriram fielmente o seu compromisso de salvar o cargo do presidente.
 Não obstante, a permanência do presidente no cargo teve preço altíssimo para os brasileiros, que são obrigados a pagar com o sacrifício da restrição orçamentária e da falta de investimentos em obras e serviços públicos, de vez que as medidas implementadas e os recursos envolvidos não estavam previstos nas metas governamentais, ficando a real impressão de que essa classe política, compreendendo o próprio presidente do país e parlamentares, não merece o mínimo respeito dos brasileiros, diante de atitudes desprezíveis e irresponsáveis protagonizadas por eles, que desprezaram o interesse público, em nome de causas pessoais. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 15 de novembro de 2017

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