terça-feira, 7 de novembro de 2017

Apagar a chama da esperança?

O ex-procurador-geral da República disse, em entrevista ao serviço em espanhol da rede de TV CNN, que "Chegamos ao fundo, sim. Já se pode ver um fim (da Lava-jato). Chegamos à cabeça da organização criminosa. Toda a organização criminosa hoje está desvendada. Fez-se a luz, que é o melhor desinfetante, sobre essa organização criminosa", sem precisar quem seriam as lideranças da organização.
          Ele foi responsável por duas denúncias apresentadas contra o presidente do país, sendo que ambas foram barradas pela Câmara dos Deputados.
Na acusação pelo crime de organização criminosa, o ex-procurador-geral afirmou que o presidente da República atuou como líder da quadrilha no seu partido, o PMDB.
Em outra denúncia feita por ele, desta vez contra políticos do PT, por suspeitas do crime de organização criminosa, o ex-procurador-geral também apontou o ex-presidente da República petista como "importante liderança" da organização criminosa, no período de 2003 até maio de 2016, que abrange os quatro governos do PT.
O petista também foi cognominado de "comandante máximo" do esquema de corrupção investigado pela Lava-Jato, por um procurador da República integrante dessa operação, mas o ex-presidente tem afirmado se tratar de "mentiras" as acusações feitas contra ele.
O ex-procurador-geral também disse que "A Operação Lava-Jato não pertence mais ao Ministério Público brasileiro. Ela pertence à sociedade brasileira. Pertence aos países atingidos por atos de corrupção e suborno praticados por empresas brasileiras".
Ele disse que "Acredita que, para os políticos, o legado é que as eleições devem ser limpas, com financiamento legal. E para o cidadão o legado é: devemos fazer nosso voto de maneira responsável e de maneira consciente".
No mês passado, o juiz de Curitiba já havia preconizado o fim das investigações sob a incumbência da Lava-Jato, pelo menos na sua jurisdição.
O juiz disse que, "Em Curitiba, a investigação sempre foi sobre os contratos da Petrobras que geraram valores e as pessoas que pagavam propinas. Grande parte já foi processada. As que recebiam e não tinham foro privilegiado, igualmente. Daí a minha afirmação de que acredito que está indo para o final, em Curitiba".
Contrariando a opinião do juiz, o coordenador dos procuradores integrantes da Lava-Jato fez outra avaliação, no sentido de que "Essa afirmação do juiz Sergio Moro, na minha impressão, reflete muito mais um desejo do que a uma realidade".
Certamente que os brasileiros honrados gostariam que o fim da Operação Lava-Jato somente acontecesse quando os corruptos fossem devidamente identificados, responsabilizados e punidos, porque não faz sentido que ela se acabe de forma melancólica, deixando sua missão no meio do caminho, sem que os criminosos de colarinho branco paguem por seus gravíssimos pecados e que as penalidades os impeçam de continuar livres e cometendo as costumeiras ilicitudes contra o interesse público.
É lamentável que, no Brasil, quem demonstra capacidade de trabalho com competência e eficiência esteja fadado a ter vida curta, muito aquém das expectativas e ansiedades dos brasileiros, que por certo são favoráveis não à extinção de instituição com essas qualidades, mas sim à criação de outras que se juntem em combate à praga da corrupção, porque esta tem sido verdadeiro câncer responsável pelo atraso socioeconômico do país.
É inadmissível que as autoridades disseminem a ideia do fim da Operação Lava-Jato, porque isso apenas contribui para frustrar o sentimento dos brasileiros quanto à possibilidade da moralização pública, porque isso ainda mantém acesa a chama da esperança do fim da corrupção e da impunidade, que somente será possível com a vida longa dessa operação, por se tratar do símbolo de trabalho imparcial, profícuo, competente e eficiente, que precisa permanecer em plenas atividades até mesmo para servir de estímulo ao funcionamento do Poder Judiciário, que precisa se desertar da letargia e agir com as devidas eficiência e efetividade. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 7 de novembro de 2017

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