sábado, 11 de novembro de 2017

À espera de autêntico estadista

O deputado federal ultradireitista, pré-candidato à Presidência da República, enviou documento ao site O Antagonista, intitulado de "Carta aos Brasileiros", no qual se diz avesso a regimes autoritários e que trabalha junto a professores e intelectuais sobre temas econômicos, tendo mencionado o nome de um pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
No comunicado aos brasileiros, o parlamentar, basicamente, diz o seguinte: “(...) podemos antecipar que já contamos com um sólido grupo, composto por professores de algumas das melhores universidades do Brasil e da Europa. Indivíduos que são referência na academia, com vários papers publicados em revistas ranqueadas, com larga experiência profissional e sem máculas em seus respectivos históricos. Evidentemente que nenhum dos membros de nossa equipe defende ideias heterodoxas ou apreço por regimes totalitários. Sabemos que estamos lidando com a vida e o futuro de centenas de milhões de pessoas. Assim, afirmamos que, absolutamente, todas as propostas serão pautadas pelo respeito aos contratos, respeito às leis e pelo TOTAL respeito à Constituição Brasileira. Um amplo trabalho vem sendo desenvolvido há alguns meses e já existiram dezenas de reuniões. Não se tratando de algo rápido ou superficial. Sabemos do momento dramático pelo qual o Brasil atravessa e estamos cientes que o nome de Jair Bolsonaro representa esperança de dias melhores para mais de duzentos milhões de brasileiros. Todavia, pedimos um pouco mais de paciência a todos, para que tudo seja feito de forma profissional, séria e ética. Como sempre será feito! Brasil acima de todos e Deus acima de tudo.”.
À primeira vista, o deputado ultradireitista pretende se apresentar para os brasileiros com a cara de quem gostaria de contrariar o real sentimento da população sobre o verdadeiro caráter dos políticos tupiniquins, cuja cultura já se consolidou, e isso não é novidade, como sendo aqueles se se profissionalizam na vida pública para satisfazer seus objetivos e defender seus interesses, em total detrimento das causas nacionais.
Em princípio, ele tenta passar a ideia de que o fisiologismo político, uma das pragas que prevalece há décadas na administração pública, pode dar lugar à prática política da competência, eficiência e responsabilidade na gestão pública, como forma de privilegiar as políticas verdadeiramente sérias de Estado, como fazem os estadistas que honram seus compromissos de campanha, com fidelidade aos princípios republicano e democrático, normalmente respeitados nos países sérios, civilizados e evoluídos, no exato sentido da política de verdade e de respeito aos sentimentos dos cidadãos.
Muitos políticos que prometeram combater a picaretagem, a roubalheira, a corrupção, enfim, a desonestidade na vida pública, devem ter seus motivos por terem traído a confiança dos brasileiros, mas, agora, convém se esperar que o político que tem a fama de disseminar a truculência, a discriminação, o preconceito, a homofobia, o autoritarismo e outros sentimentos contrários aos princípios humanos, possam transformar tudo isso em pessoa capaz de perceber que as grandezas e riquezas humana e econômica do Brasil podem ser transformadas e administradas por alguém sensível, sensato e responsável, com capacidade para compreender que o país não merece ser comandado por organizações criminosas, assim classificadas pelo Ministério Público Federal, na forma de denúncias formuladas pelo então procurador-geral da República.
O deputado considerado ultraconservador precisa mostrar a sua verdadeira e definitiva face para os brasileiros e assumir seu compromisso revolucionário de trabalhar exclusivamente em defesa dos salutares princípios da dignidade e da moralidade, em harmonia com o desenvolvimento dos pilares dos direitos humanos e dos princípios democráticos, respeitando, sobretudo, os valores e a individualidade do ser humano.
Convém que seja dito que os brasileiros já se frustraram com a ascensão ao poder de falsos, aproveitadores e mentirosos políticos que prometeram, em especial, a ética e a moralidade nas atividades político-administrativas, tendo prevalecido, ao contrário, monstruoso mar de corrupção.
Não obstante, é possível que ainda tenha restado espaço reservado para pingo de esperança de que possa aparecer, enfim, político com qualidades de estadista de verdade, que tenha capacidade para realmente modificar esse terrível quadro de indignidade intrínseca de homens públicos tupiniquins, que sempre se mostraram sensíveis às mazelas que grassam no país, mas as ignoraram por completo quando ascenderam ao poder, procurando priorizar tão somente ações capazes para render dividendos eleitoreiros, motivos suficientes para a perenidade no poder.
Urge que os homens públicos brasileiros sejam imbuídos do autêntico espírito de estadistas interessados e zelosos pelas causas relacionadas à satisfação das carências de bem-estar social, mas que tenham também a inteligência de priorizar as políticas gerais e abrangentes de governo, com destaque para as ações que interessam ao desenvolvimento socioeconômico e à modernidade das estrutura e conjuntura do Estado. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 11 de novembro de 2017

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