As
negociações para a eleição da nova direção do Congresso Nacional se encontram
em intensa atividade, onde o Palácio do Planalto joga suas cartas, tendo poderoso
cacife a seu favor, por meio do uso da caneta, cujo dono promete liberar emendas parlamentares e nomear cargos públicos
para quem aderir a esse projeto.
O
presidente da República demonstra interesse nesse processo e vem interferindo,
porém de forma indevida e injustificável, por se tratar de poder estranho ao
Executivo, porquanto compete exclusivamente ao Legislativo eleger seus
presidentes, o que vale dizer, evidentemente, sem a interferência indevida de
mais ninguém.
A
verdade é que o atual presidente da Câmara dos Deputados constituiu enorme obstáculo
às pretensões do Palácio do Planalto, ao criar dificuldades na tramitação de
projetos e reformas de interesse do governo, permitindo apenas a aprovação de
matérias de pouca visibilidade para o governo, fato que também contribuiu para
prejudicar os interesses do Brasil.
A
esperança do governo é a de que o próximo comando do Congresso, que terá início
em 1º de fevereiro vindouro, seja mais favorável aos seus destinos, mas, nem por
isso, o presidente possa ter o direito de se imiscuir onde, constitucionalmente,
não é cabível nem republicanamente permitido, mesmo diante dos empecilhos já havidos.
Ainda
há outro aspecto que tem interesse direto ao presidente do país, que é o que
diz respeito à competência privativa de o presidente da Câmara de segurar ou
dar sequência aos pedidos de impeachment que o ameaçam, porque eles já ultrapassam
de 40, mas, nem assim, seria aceitável que o chefe do Executivo pudesse se
intrometer onde rigorosamente não deve.
O
atual presidente da Câmara disse que “O governo está desesperado para tomar
conta da presidência da Câmara”, e o faz tentando, a todo custo, rompendo a
hegemonia oposicionista, ao patrocinar a candidatura do deputado que é líder do
Centrão, que também é acusado de envolvimento em investigações sobre prática de
irregularidades com dinheiro público, embora ele, mesmo nessas condições, pode
contabilizar o apoio de 160 deputados.
Por
enquanto, já se sabe que o governo tem prometido a liberação de emendas
parlamentares ao apoio do seu candidato, já contando verbas constante do
projeto de lei que abriu crédito suplementar do valor de R$ 6,1 bilhões (PLN
30).
Nas
indecentes negociatas, o presidente também está disposto a envolver ministérios
dentro do Palácio do Planalto, como a Secretaria de Governo, de modo que as composições
possam cooptar simpatizantes e facilitar a eleição de seu candidato, em processo absolutamente fora
dos padrões e dos princípios republicano e democrático.
Além
disso, o presidente do país ainda vem acenando com a entrega aos aliados de ministérios
a serem recriados, sem a menor necessidade, senão servir de agrado aos
fisiologistas aliados, com o indevido uso de recursos públicos.
Para
agradar aliados, imagina-se a recriação dos Ministérios dos Esportes e do Desenvolvimento, exatamente para
a acomodação dos líderes de partidos que se associarem à desesperada causa
defendida pelo insensato presidente tupiniquim.
A
disputa pela presidência chegou a nível tão rasteiro e deprimente que o
candidato do governo, segundo notícia da imprensa, já até procurou o PT, que tem
54 deputados, e já acenou com negociação de apoio a ele, desde que haja a aceitação
de três temas prioritários para a legenda petista, que é o combate à Operação
Lava-Jato, a revisão da lei da Ficha Limpa e a aprovação de nova forma de
financiamento dos sindicatos, medidas essas nada impossíveis de aderência por
parte do governo, porque algo bem pior do que isso seria a negociação com o
Centrão, mas ele já convive com ele em ambiente da maior intimidade lamacenta,
como se fossem adoráveis irmãos siameses.
É
pena que esse estágio de acentuada deplorabilidade moral do homem público esteja
acessível ao conhecimento restritíssimo da sociedade, que cabe avaliar, com
maior abrangência, o nível da mentalidade político-administrativa de quem governa
o Brasil, que nem se compara com aquela do candidato muitíssimo cônscio sobre
os efeitos perniciosos e imundos causados pelo desvio da ética e da moralidade
pelo homem público.
Sobre
esse tema, o então candidato à Presidência da República se pronunciava usando palavras
de ordem, de maneira reiterada e insistentemente, contra as práticas sebosas da
velha política, do prejudicial fisiologismo com o uso de recursos públicos e da
aderência ao jeitinho do “toma lá dá cá”, que tinham como autênticos defensores
os integrantes do famigerado Centrão.
Não
era nenhuma novidade que o Centrão recebia, certamente com justas razões, as
piores e ácidas críticas do candidato ao cargo de presidente do país, por ele
entender que se tratava de grupo político da pior qualidade, em termos de
prática política, mas, nos últimos tempos, por força da imperiosa conveniência
pessoal, surgida precisamente em razão da incompetência administrativa, obrigou
aquele que se comportava como pudico homem público a perder a dignidade e
passar a ser, hoje, fiel e forte aliado daquele abominável grupo, inclusive brigando
para que um de seus líderes seja presidente da Câmara, para que ele seja seu
principal defensor na Câmara baixa e isso só demonstra o nível do verdadeiro político,
que se comporta exatamente conforme às suas circunstanciais conveniências.
Em
síntese, a eleição, em especial do presidente da Câmara, vem mostrando a
verdadeira face do presidente da República, que evidencia, às claras, a total
perda da seriedade, da sensatez e da dignidade na vida pública, quando ele
participa ativamente de processo que não tem competência, ao se associar, de
maneira espúria, com político sem credibilidade e ainda utiliza meios, como a máquina
pública e recursos públicos, por patrocinar farra com dinheiro público, sob a
forma de emendas parlamentares e criação de ministérios absolutamente desnecessários,
para comprar a consciência ética de parlamentares.
Nesses
procedimentos, há evidente caracterização de que o presidente da República perdeu
de vez o senso da razoabilidade, porque tudo isso configura dissonância com os saudáveis
princípios republicano e democrático, fatos estes que ajudam muito a compreender
o quanto o homem público precisa ser avaliado, exatamente pelo tamanho das suas
ambições e dos seus interesses, apenas à medida da satisfação da sua
mentalidade, que normalmente vem sendo feito no exato detrimento do interesse
público, como indiscutivelmente fica evidenciado no caso em comento.
Brasília, em 14 de dezembro de 2020
Nenhum comentário:
Postar um comentário