Enquanto praticamente todos os outros países estão
vacinando ou vão começar a imunizar a sua população contra a Covid-19, o
presidente do Brasil voltou a minimizar a demora para a liberação e a aquisição
de vacinas, por parte do governo.
No entendimento do presidente brasileiro, à vista de
mercado consumidor “enorme” no país, os laboratórios é que deveriam estar
interessados nos pedidos de autorização junto à Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) e em vender a vacina ao Brasil, deixando antever que ele não
qualquer incumbência nem responsabilidade nessa questão da maior relevância
para os brasileiros, quando se trata de interesse nacional, relacionado com a
saúde pública, visivelmente desprezada pelo governo.
Ele completou seu célebre raciocínio, afirmando que
o “Pessoal diz que eu tenho que ir atrás. Quem quer vender (que tem)”.
O presidente fez a seguinte indagação: “O Brasil
tem 210 milhões de habitantes, um mercado consumidor de qualquer coisa enorme.
Os laboratórios não tinham que estar interessados em vender para a gente? Por
que eles não apresentam documentação na Anvisa?”.
Na mesma ocasião, o mandatário brasileiro repetiu a
bizarra história de que as bulas de vacinas apontam que a responsabilidade
sobre o uso do medicamento e possíveis efeitos colaterais são do consumidor e
também que não irá tomar vacina, pois já contraiu covid-19.
O presidente esclareceu que já teria assinado “o
cheque de R$ 20 bilhões” para a compra de vacinas, produto esse que já devia
ter sido comprado bem antes, caso o governo demonstrasse interesse em cuidar
com competência e responsabilidade dos brasileiros, ao invés de ficar falando
nada interessante ao caso.
Ele afirmou, sem qualquer sentido lógico e desnecessariamente,
que “Tem muita gente de olho nesse dinheiro. Impressionante como uma
ou outra pessoa que a gente conhece, não vou dizer o nome aqui, jamais se
preocuparia com a vida do próximo. A preocupação é outra. Não vou falar qual
que é”.
Como deve ser o único presidente nessas condições,
ele repetiu, sem o mínimo de remorso, que só demonstra despreocupado com o
início da campanha de vacinação no país, pois o processo depende da Anvisa,
deixando claro que, disse ele, “Se eu vou na Anvisa e digo ‘corre aí’, vão
falar que estou interferindo”.
O
curioso é que o presidente, diante das bizarrices, ainda tem frase de efeito
pronta, para justificar seus atos, quando sacou essa: "Certas coisas
você não pode fazer correndo, está mexendo com a vida do próximo. A imprensa
meteu o cacete em mim. (...)".
O
laboratório Pfizer esclareceu que ainda não pediu o registro emergencial na
Anvisa porque, segundo eles, o contrato para fornecimento do imunizante com o
governo brasileiro ainda não foi fechado.
A
Pfizer disse que o governo brasileiro recebeu vários contatos do laboratórios a
partir de agosto, mas, segundo ela afirma, nenhum foi respondido, o que demonstra
visível falta de interesse sobre a aquisição da vacina produzida por ela.
Somente
há cerca de um mês é que o Ministério da Saúde começou a negociar a compra de
70 milhões de doses, quantidade apenas suficiente para vacinar 35 milhões de
pessoas, mas ainda não foi fechado o contrato, o que vale dizer que o Brasil
vai esperar para ser atendido, uma vez que há outros contratos já em atendimento
prioritário.
A
Pfizer informou que a previsão de entrega de 8,5 milhões de doses no primeiro
semestre, mas apenas cerca de 500 mil em janeiro, e o laboratório já informou
que, agora, não tem condições de acelerar a entrega para o Brasil,
evidentemente porque os demais países se anteciparam nas negociações e quem
chega primeiro tem preferência sobre os retardatários e despreocupados com a
saúde da sua população e esse fato é da maior importância para se conhecer o
grau de interesse do governo brasileiro de cuidar da saúde pública.
Diante
dos fatos, fica muito claro que o governo deixou tudo para ser resolvido no
apagar das luzes, quanto todos os países já estão em plenas condições de
promover a vacinação contra a Covid-19, que é medida extremamente necessária à proteção
dos brasileiros, mas isso não será possível agora porque o presidente entende
que quem precisa agir é o laboratório, que está interessado no cheque que ele
já até assinou, dando a entender que o dinheiro é muito mais importante do a
saúde da população, diante de mentalidade tão diminuta, à vista da enorme gravidade
da crise enfrentada para a solução do problema referente à imunização, que já deveria
ter sido declarada prioridade número um do governo, desde agosto.
O
presidente chega a demonstrar insensibilidade para questão pública da maior
importância, ao dizer que não está preocupado com pressão sobre o acesso às
vacinas, tendo dito, sem o menor constrangimento, que "não dá bola para
isso", ou seja, faz lembrar velho e surrado bordão de programa
televisivo de humor, onde um artista sempre concluía a sua fala dizendo: “o
povo que exploda”.
Além
das negociações com a Pfizer, o Brasil já tem acordo para fornecimento de doses
da vacina feita em conjunto entre a AstraZeneca e a Universidade de Oxford, por
meio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que estima entregar doses em fevereiro,
mas também não há ainda pedido de registro desta vacina junto à Anvisa.
O presidente da República não precisa pedir nada a
órgão algum para a agilização de medidas da sua alçada, muito menos à Anvisa,
porque a sua obrigação primacial é adotar as medidas administrativas de
incumbência do governo, com a devida antecedência e os cuidados exigidos no
caso de pandemia, onde tudo deve funcionar em condições de prioridade,
repita-se, por envolver preciosas vidas humanas, objeto principal de todo
trabalho que ainda não foi capaz de sensibilizar, como deve, a autoridade maior
da nação, que apenas vem fazendo de conta que a pandemia não é tão preocupante
como alardeado pelas ciência e mídia.
Todo
esse imbróglio envolvendo negociações sobre a compra de vacinas tem o condão de
evidenciar, com bastante clareza tanto a falta de interesse como a completa
incompetência do governo no trato de assunto de natureza emergencial, que já deveria
ter sido resolvido desde o mês de agosto, com o que já teria possibilitado o
início da vacinação ainda neste ano.
A
indiscutível negligência por parte do governo, que agora não se ruboriza por
tentar inverter o papel, ao jogar a responsabilidade pelo registro das vacinas
para os laboratórios, quando o interesse da vacina é do Brasil, somente será permitida
a imunização depois da segunda quinzena de fevereiro, havendo, nesse interregno,
enorme prejuízo para a população, onde parte dela já poderia ter recebido a
primeira dose e ficar mais tranquila com relação à Covid-19.
Como
se trata da aquisição de vacinas para a imunização da população, como parte de
política de saúde pública de incumbência do interesse pública, o importante é
que tanto o governo como os laboratórios se esforcem, cada qual fazendo
igualmente o que for necessário para a obtenção da licença pertinente, posto
que o importante é o resultado final, restando nada elegante para exigência presidencial,
que somente acena para acentuar o descaso sobre assunto que já deveria ter sido
solucionado há muito tempo, independentemente de quem tem a incumbência de ação,
quando o alvo diz respeito à saúde pública, que sempre exige prioridade de
todos, no caso, o governo, a sociedade e as empresas.
No
caso específico da pandemia, senhor presidente, todas as coisas precisam sim
ser feitas correndo, à vista do envolvimento de vidas humanas, cujos atos de lerdeza,
como nesse da aquisição de vacinas, têm reflexo prejudicial às pessoas, onde há
situações irreversíveis que poderiam ter sido evitáveis se as autoridades
públicas tivessem o devido zelo com a coisa pública, em especial nos casos que são
de extrema prioridade, como a imunização da população.
O senhor presidente da República precisa entender,
de vez por todas, que o interesse na vacina é exclusivamente dos brasileiros,
que precisam ser imunizados e não dos laboratórios, que têm a função apenas de
fornecedor do produto para quem demonstrar interesse em adquirir e cuidar da população
que a deve representar com dignidade, zelo e amor, por envolver a proteção de
vidas humanas.
Cada
vez mais o governo acentua as suas omissão e incompetência na gestão das negociações
da aquisição de vacinas, que já deveria ter sido adquiridas há bastante tempo,
mas a predominante despreocupação demonstrada a todo instante pelo presidente
do país não permite que assunto emergencial e da maior importância, como a
saúde dos brasileiros, mereça o tratamento adequado, cuidadoso e zeloso,
segundo os saudáveis princípios da administração pública, que não permitem
negligência como a que vem sendo praticada na aquisição de vacinas contra a
Covid-19, em claro detrimento dos interesses da população.
Brasília, em 29 de dezembro de 2020
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