sábado, 12 de dezembro de 2020

Faltam seriedade e responsabilidade?

 

O presidente da República declarou que “Ainda vivemos o finalzinho da pandemia”, em que pesem as curvas de infecções e mortes causadas pelo novo coronavírus estarem em franca escala de crescimento, conforme os registros que estão sendo mostrados pela imprensa.

O presidente ainda disse, enaltecendo as ações e políticas de incumbência da sua equipe de trabalho, que “O nosso governo, levando-se em conta outros países do mundo, foi aquele que melhor se saiu, ou um dos que melhores se saíram na pandemia”.

O presidente também disse que “Devemos levar tranquilidade à população e não o caos. O que aconteceu no início da pandemia não leva a nada. Lamentamos as mortes profundamente e, assim sendo, vamos vencendo obstáculos”.  

O presidente vem sistematicamente tentando minimizar, desde o início da pandemia, os efeitos dos estragos causados pela Covid-19, quando classificou a doença como “gripezinha”, promoveu multidões, se opôs ao distanciamento social, em nome da economia, e criticou o uso de máscaras, tantas atitudes que não combinam em nada com esses absurdos “sucessos” no combate à pandemia.

O presidente ainda entrou em linha de colisão com dois ministros da Saúde, médicos, tendo os exonerado, por causa da recusa da sua orientação sobre a obrigatoriedade do uso da hidroxicloroquina, desde os estágios iniciais da doença, medicamento cuja eficácia ainda não foi comprovada para o tratamento do vírus.

No momento, o Brasil já contabiliza mais de 180.000 mortes, sendo o segundo país com maior número de letalidade, no mundo, por causa da Covid-19, vindo logo em seguida dos Estados Unidos, que são dois países cujos presidentes vêm, sem o menor escrúpulo, desdenhando dos efeitos catastróficos da Covid-19, fato que, por certo, muito deve ter contribuído para o alarmante quadro estatístico de perdas humanas, que poderiam ter sido diminuídas.

Apesar dos pesares, o mandatário tupiniquim ainda tem a pachorra de se gabar de ter cuidado bem dos brasileiros, sem imaginar que ele não tem estofo algum para se escorar em afirmações auspiciosas, quando o seu governo é muito mais pródigo em contradições e atitudes bem na contramão do que seria ideal para o verdadeiro combate à pandemia, que até pode ser comparável a “gripezinha”, em alguns casos, mas na maioria das situações a sua incidência tem sido extremamente arrasadora e cruel, conforme mostram os fatos.

A verdade é que o mundo é testemunha das precariedades protagonizadas pelo irrequieto presidente do país, porque as contumazes estupidez e insensatez protagonizadas por ele vêm sendo acompanhadas pela imprensa, diante do seu prazer de desacatar as comezinhas orientações pertinentes, como se somente ele estivesse à margem delas, quando a sua autoridade impõe justamente o dever de dar bons exemplos de obediência e acatamento, no sentido de haver coesão sobre o melhor aproveitamento delas.

Um bom exemplo da insensibilidade e da insensatez do presidente tem sido a sua intransigente luta contra o uso da CoronaVac, vacina do laboratório chinês Sinovac, que realiza sua terceira e última fase de testes em São Paulo, estado governado por seu adversário político, quando não custava nada ele ser diplomático e inteligente, deixando que os cientistas e especialistas, até mesmo alguns nomeados por seu governo, para fazerem as devidas avaliações sobre a vacina e encaminhando para os órgãos competentes os resultados obtidos, com vistas às medidas cabíveis, sem necessidade alguma de atritos incivilizados e intempestivos, como se o Brasil se inserisse no verdadeiro mundo das republiquetas.

          As provas maiores das imperdoáveis incompetência e irresponsabilidade do governo reside exatamente na inexistência de pessoa competente e capaz para comandar o Ministério da Saúde, que é o principal órgão especializado para executar as políticas pertinentes, que teria a obrigação de centralizar todas as ações cabíveis e necessárias ao combate à pandemia do novo coronavírus, de modo a se permitir que tudo pudesse ser estudado, analisado, pesquisado, orientado, regulamentado e encaminhado da melhor maneira possível e aplicável ao caso.

Certamente que, se o governo tivesse agido com, ao menos, o mínimo de competência, sensatez, criatividade, responsabilidade e amor ao ser humano, milhares de vidas teriam sido poupadas, tendo em conta que a pandemia teria sido combatida com seriedade e maior zelo, sem nenhuma necessidade de o presidente, a todo momento, querer tentar justificar o injustificável da sua maneira irreverente e desrespeitosa diante de crise tão severa, que teria sido melhor se tivesse prevalecido o sentimento de moderação e prudência.

O presidente brasileiro precisa entender que somente há única maneira mágica de se levar tranquilidade à população, que diz com a sua imunização, que ainda falta definição por parte dos órgãos com a incumbência legal para tanto, que vêm demonstrando absoluta falta de interesse em dinamizar o processo pertinente, eis que praticamente se encontra ainda engatinhando, tentando ensaiar os primeiros passinhos, enquanto os países desenvolvidos já começaram a vacinação e o Brasil nessa malemolência de país que deixa de priorizar os assuntos de relevância para a população.

É muito triste a principal autoridade do país enxergar a grave crise da pandemia segundo a sua visão distorcida da realidade, ao afirmar que “vivemos o finalzinho da pandemia”, quando os registros e os fatos mostram exatamente a ascensão dos casos de infecção e mortes.

Lamentavelmente, esse fato só confirma a sua coerência negativa sobre a realidade da sua concepção de indiferença, que jamais a aceitou com a gravidade espantosa nela configurada, que já matou mais de 180 mil brasileiros, fato este que tem sido incapaz de sensibilizá-lo como ser humano, diante de tamanha tragédia.   

O presidente precisa saber que o Brasil apenas e lamentavelmente somente fez e vem fazendo o mínimo necessário para que o estrago não fosse ainda pior, porque é absolutamente inadmissível que possa morrer tanta gente e o país não ter ninguém capaz, com qualificação e competência, à frente do combate da tão gravíssima situação, quando isso é feito na base do improviso e do empirismo anacrônicos, dando a entender que aqui é realmente o pior dos mundos.

Enfim, levando-se em conta o país com a reconhecida grandeza do Brasil, tem seu povo simplesmente aviltado em saber que a principal autoridade não se sensibiliza em afirmar que “O nosso governo, levando-se em conta outros países do mundo, foi aquele que melhor se saiu, ou um dos que melhores se saíram na pandemia”, quando se sabe que isso é apenas deslavada enganação, tapeação mesmo, quando é sabido que nem ministro da Saúde tem, ficando muito claro para o mundo a total falta de compromisso e plena irresponsabilidade gerencial diante da extrema gravidade impingida pela pandemia do novo coronavírus.

Com absoluta certeza, nem mesmo nas piores republiquetas, um especialista em suprimento de víveres para quartel, pessoa apenas entendida de almoxarifado, sem sequer conhecer o funcionamento do Sistema Único de Saúde, conforme declarado por ele, seria indicado para ocupar a titularidade do principal órgão governamental para cuidar da saúde dos brasileiros, na pior e mais grave crise da saúde pública.

Os brasileiros não merecem tratamento o mais vil possível como esse, em que certamente o ministro da Saúde com comprovada competência e experiência na área de saúde pública teria adotado as necessárias providências pertinentes ao verdadeiro combate à pandemia e jamais as mortes teriam atingido patamar tão alarmante, o que vale dizer que a alardeada alegação de que o governo brasileiro foi um dos que se saíram melhor teria dita de outra forma, no sentido de se dizer que ele foi o melhor, se tivesse o mínimo de competência para cuidar da pandemia com as devidas seriedade e responsabilidade.

Certamente que a falta de equipe técnica qualificada contribuiu bastante para que medidas importantes deixassem de ser implementadas, como a centralização das ações de alto nível, a normatização de procedimentos, a unificação de providências e orientações aos estados e municípios, entre outras medidas indispensáveis que pudessem contribuir para minimizar, de maneira significativa, tantas mortes, que estão acontecendo exatamente em harmonia com o pensamento do presidente, que chegou a afirmar que todos vão morrer, mesmo, mas que não fossem por causa da incompetência administrativa.   

Diante dessa catastrófica realidade, é preciso agradecer a Deus pela felicidade de as pessoas estarem conseguindo ultrapassar muitos obstáculos, se cuidando e se tornando ilesos por esforços próprios, quando se sabe que quem adoecer há de depender do governo, que prefere não enxergar a triste realidade dos hospitais, podendo apenas ter o direito de dar o último suspiro em paz, como vem acontecendo com pessoas morrendo à espera de tratamento, diante da inércia, da omissão e da falta de preparo da equipe governamental, que certamente deverá ser a pior do mundo, exatamente porque ela inexiste, diga-se em relação ao preparo que seria natural nas circunstâncias, em relação às nações cônscias da sua responsabilidade social, em termos de saúde pública de qualidade.  

Brasília, em 12 de dezembro de 2020

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