quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Falta plano de imunização

 

O Observatório Covid-19 BR, projeto multidisciplinar que reúne cientistas objetivando a atenuação dos efeitos da pandemia, analisou o planejamento de vacinação divulgado pelo Ministério da Saúde, para combater a doença e chegou à conclusão de que: “Ainda não temos um plano”.

O referido grupo é formado por especialistas dos centros de pesquisa mais importantes do Brasil, a exemplo da USP, Fiocruz, UFSC e outras universidades, colheu informações disponíveis sobre a maneira como o governo pretende imunizar a população contra a Covid-19 e afirma que “é preocupante o estado atual de planejamento.”.

O documento elaborado pelo citado grupo e divulgado hoje afirma, de forma categórica, que “É um esboço rudimentar, com tantas fragilidades e lacunas que dificilmente poderá ser seguido. São marcantes a falta de ambição, de senso de urgência e de comprometimento em oferecer à população brasileira um plano de vacinação competente, factível, que contemple as diversas vacinas em teste no Brasil, com transparência e em articulação com estados e municípios”.

Uma epidemiologista da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, que faz parte do grupo, disse que “Esse trabalho nasceu em parte da indignação que a gente tem de saber que o Brasil poderia ter um plano consubstanciado, bem documentado e construído com uma racionalidade, mas não tem.”.

Os pesquisadores esclarecem que um dos poucos aspectos do plano razoavelmente claros é o de priorização do público a ser vacinado, que foi estabelecido, na primeira etapa, que serão vacinados os profissionais de saúde, os idosos acima de 75 anos e os indígenas, mas, ao seu ver, os moradores de rua, que são considerados como população vulnerável, também deveriam ter sido incluídos nessa fase.

Os pesquisadores criticaram a falta de definição sobre quais vacinas serão usadas, à ausência de cronograma e à exclusão de esferas estaduais e municipais na elaboração do plano, uma vez que, no contexto do SUS, iniciativas federais são executadas normalmente por unidades e agentes municipais.

O Observatório Covid-19 BR afirma que é estranho o governo não ter incluído no plano nacional a vacina CoronaVac, que deverá ser produzida pelo Instituto Butantan, do Estado de São Paulo, que faz parte do governo paulista, que vem afirmando que tem plano próprio de vacinação, o qual também foi criticado pelos cientistas.

Eles disseram que “Este plano existe publicamente apenas na forma de uma apresentação de PowerPoint e, como o plano federal, não se fez acompanhar de documento público que permita uma avaliação”.

Os cientistas demonstraram preocupação com a logística, ao afirmarem que, “Além da produção da vacina para duas doses por indivíduo, a operacionalização da vacinação demanda outras questões logísticas fundamentais, como a aquisição de insumos diretamente ligados à aplicação da vacina (seringas e agulhas, por exemplo), o transporte e a conservação da vacina”.

Com relação aos referidos materiais, o Ministério da Saúde esclareceu que eles se encontram em processo de aquisição, embora não tivesse dado detalhes obre esse assunto tão importante, porque a gritante falta de informações sobre as ações do governo permite a ilação sobre possíveis omissões operacionais.

Os pesquisadores alegam que a nítida falta de transparência no processo no combate à pandemia certamente compromete também aspectos éticos do plano.

Uma sanitarista da Escola Nacional de Saúde da Fiocruz, que integra o grupo, disse que “Existe uma urgência sanitária, uma demanda da população e de todos os setores pela vacina, mas ela precisa ser atendida com critérios de segurança, equidade e justiça.”.

Por último, os pesquisadores declararam que “Além das várias fragilidades que apontamos, (...) a desarticulação com outros níveis federativos provoca imensa apreensão sobre sua adequação para o momento atual. Apesar de o início da vacinação estar próximo, vivemos um tempo de pandemia ainda repleto de incertezas. O propósito principal afinal é a preservação de vidas e de qualidade de vida. O plano de vacinação do governo federal não demonstra tal compromisso, por atos e por omissões”.

À toda evidência, a abalizada importante manifestação de cientistas de renome  sobre matéria de suma importância para os brasileiros, porque ela tem como cerne o planejamento estratégico da imunização da população, que é vital para protegê-la, precisa ser levada ao extremo da sua competência, para que os ensinamentos contidos nela possam servir como fundamental importância, em termos de lição para a equipe de governo que tem a incumbência de cuidar do combate à pandemia do novo coronavírus.

Aliás, nem precisa de muito esforço para se concluir que o governo fica o tempo todo de brincadeira com assunto da maior seriedade, que vem afetando gravemente a população, à vista da alarmante quantidade de óbitos, já muito próximo do atingimento de 180 mil mortes, em escalada que expressa claramente o tamanho da incompetência, da omissão e da irresponsabilidade do governo, que só demonstra falhas gravíssimas que têm muito a ver com o desastre de tantas perdas humanas, à vista da afirmação desses cientistas.

Certamente que grande parte dessas mortes poderia ser imputada à visível e indiscutível falta de interesse por parte de órgão de governo, diante das suas indiscutíveis insensibilidade e incapacidade para se enxergar o gigantismo e a gravidade da pandemia, quando, ao contrário, vem sendo objeto de descaso a terrível situação da pandemia, à vista da execução apenas de medidas minimamente possíveis ao seu alcance, quando os estragos já causados às vidas humanas exigem a adoção de prioridade das prioridades, em termos das ações públicas, em se tratando de governante com o mínimo de sentimento humano no coração.

A minha assertiva exposta acima tem o beneplácito da avaliação segura e competente de especialistas e cientistas entendidos do assunto, que vêm se manifestando mostrando exatamente as falhas e as omissões protagonizadas por órgão do governo que, de tão insensível à gravidade da pandemia em causa, que continua pondo em risco a integridade física dos brasileiros, assume a incompetência e irresponsabilidade de ter importantíssimo órgão especializado na Saúde Pública acéfalo, porque o Ministério da Saúde é comandado por general, que tem a especialização em suprimento de víveres para quartéis, algo extremamente irracional e inadmissível, diante da grave crise acometida na saúde pública brasileira.

Esse fato, por si só, demonstra, de forma cabal, a viva e efetiva monstruosidade perpetrada contra os brasileiros, que merecem ser tratados com os devidos respeito e consideração, no entendimento sensato segundo o qual, em circunstância de normalidade no âmbito da saúde pública, talvez fosse até admissível que encarregado de almoxarifado pudesse, na pior das hipóteses, caso não tivesse especialista em saúde pública, com formação em Medicina, assumir tão importante cargo, por não se exigir tanto de esforço e especialização  para se ocupar cargo transformado de natureza meramente político.

Agora, o governo sério, competente e responsável, com o mínimo de zelo para com a coisa pública, não poderia ter sossego de consciência pública, à vista da relevância da vida humana, se não tivesse ocupando o Ministério da Saúde profissional exclusivamente competente e entendido ao máximo das funções de incumbência desse órgão, em que o governo afastaria qualquer sentimento ruim que agora recai sobre os seus ombros de indiscutíveis omissões, incompetência, irresponsabilidade, por ser cúmplice com tudo de péssimo que grassa no combate à desgraçada pandemia do novo coronavírus, porque é exatamente esse sentimento que fica quando seus atos são somente censurados e criticados, por quem tem competência para as avaliações sobre o desempenho governamental.        

Chega o momento em que a indignação, conforme fica patente no texto acima, permite se afirmar que o erro não está absolutamente no governante, mas sim nos brasileiros, que demonstram completa incapacidade para vislumbrar a monstruosidade, a crueldade, enfim, a desgraça que poderiam ser evitadas contra a população se o país fosse comandado por pessoa despojada de arraigados sentimentos de vaidade, a cultuar no coração o único desejo de perpetuidade no poder, já pensando em reeleição, ainda no meado do seu governo.

O estadista extremamente sensato teria, nas circunstâncias, o exclusivo objetivo a salvação de vidas humanas, tendo a sensibilidade para priorizar todas as ações para cuidar em essência e sobretudo dos assuntos pertinentes ao combate à pandemia em apreço, a começar da escolha da melhor equipe da área responsável pelas políticas pertinentes, que teria a incumbência de zelar em tudo sobre a crise, desde a concentração na área federal das ações de combate à pandemia, a regulamentação sobre o assunto, em termos de execução de medidas de combate (hoje não existe nada), a distribuição de medicamentos, a aceitação de sugestões de segmentos sociais, a formação de equipes para orientação ao povo (até hoje vivendo ao deus-dará), aprovação de plano eficiente de imunização e outras medidas capazes de mostrar interesse, competência administrativa e, acima de tudo, amor à vida humana.       

Brasília, em 9 de dezembro de 2020

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