quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Jogo de cintura ou competência?

 

Experiente e distinta cidadã reconhece que não tem sido nada agradável para o presidente da República exercer o seu mandato, ante os entraves colocados no seu caminho pelo Congresso Nacional.

Essa cidadã entende que “Governar com esse Congresso não é fácil, tem que ter muito jogo de cintura! Se quiser fazer alguma coisa tem que fazer acordos, infelizmente! Nenhum outro conseguiu governar sozinho e sem base que o apoie, fica muito difícil!”.

Para essa mesma emblemática questão, que parece ter interpretação semântica, em parcial concordância com a estimada cidadã, porque tenho enorme dificuldade para chegar a raciocínio semelhante ao dela, diante das premissas fáticas em adjacência à personalidade do presidente do país.

Na minha estreita maneira de interpretar os fatos, consigo vislumbrá-los por outro ângulo um pouco diferente, sem enxergar senão outra forma de culpa pelas peias ao governo colocadas pelo Congresso Nacional e/ou Supremo Tribunal Federal.

Na interpretação da cidadã, os acontecimentos com a caracterização de interferência no Executivo demonstram que a situação é bastante complicada para o lado do presidente do país, que se viu não saber se desvencilhar de imbróglio que ele mergulhou de cabeça, até apanhar bastante e tirar a própria conclusão, quando percebeu que seu governo teria sido bem diferente se ele tivesse procurado se respaldar, desde o início, pelas singelezas da inteligência e da competência, como normalmente fazem os verdadeiros estadistas, que se orientam, principalmente, pelo bom sendo e pela razoabilidade.

Parece muito mais sensato se imaginar que o presidente da República não precisaria se rastejar ou se humilhar aos pés do Centrão ou de ninguém se ele tivesse se mantido fiel aos propósitos da campanha eleitoral, que tinha pela centralidade o norte da moralidade, não tivesse se arvorado a controlar e centralizar o poder nem meter o rei na barriga, para mostrar a autoridade que manda no Brasil.

O presidente precisaria tão somente seguir os saudáveis parâmetros e limites estabelecidas na Constituição Federal, no estrito cumprimento das funções de chefe de governo e de Estado, em fidelidade aos ditames jurídicos, nem mais nem menos, tendo o cuidado de respeitar a autonomia e a independência dos poderes Legislativo e Judiciário, nos exatos termos da Constituição.

No caso de qualquer interferência por parte desses poderes no Executivo, o presidente não precisaria se apoquentar e jamais revidar com turbinaço de grosserias, agressões e ameaças, como ele fez por muitas vezes e de maneira ensandecida, inclusive sob pena de precisar adotar medidas extremas, como fez mandando duros recados aos outros poderes, cuja disputa contribuiu para a geração de fortes animosidades entre os três poderes da República, além de atritos nos seus relacionamentos, de modo a fragilizar a autoridade de quem se imaginava ser o suprassumo nessa história.

O presidente do país deveria ter ficado quietinho no seu trono, sem provocar ou revidar aos insultos e às agressões vindos de outros poderes, senão atuando, conforme o caso, na sua defesa, pelas vias cabíveis, em especial a judicial, apenas para mostrar a sua inocência ou inculpabilidade quanto aos fatos suscitados, procurando mostrar, com objetividade e clareza, a abusividade das intromissões indevidas ao seu governo, as quais não se harmonizavam com os interesses da sociedade, à vista da clara ofensa ao regramento jurídico pátrio.

Por outro lado, tivesse o presidente controlado, de alguma forma, os atos impulsivos de familiares seus, aqueles que estão sempre envolvidos com as notícias policiais acerca de denúncias de irregularidades com recursos públicos, quando ele deveria ter declarado, desde logo, que as responsabilidades são individuais, mas, ao contrário e ao estilo paizão, os assuntos deles foram levados e acomodados no seio do Palácio do Planalto, a sede do governo brasileiro, os quais são cuidados por ele, inclusive com advogados em comum e adjutório de órgãos públicos, tudo mostrado à saciedade.

Em relação há até pouco tempo, é percebível a tranquilidade reinante entre os três poderes, em especial na parte do governo, precisamente depois que o presidente do país caiu na real e passou a se comportar com algum viés próximo ao de estadista, com civilidade e cônscio das suas obrigações constitucionais, inclusive deixando de agredir e revidar atos de membros de outros poderes da República, além da imprensa, em clima de normalidade que deveria ter sido observado desde o início do seu governo.

Essa constatação significa que algumas confusões, incompreensões e até desentendimentos foram criados pelo próprio presidente do país, que talvez se sentisse motivado em criar crises para ser vitimado, só que, à época, a sua credibilidade despencava a todo instante, porque era visível que a fanfarrice dele contribuía visivelmente para empurrar o Brasil para o abismo.

A partir do momento em que o presidente do país decidiu retomar o caminho do bom senso e da normalidade, logo percebeu que ele era o pivô de fatos estranhos no seu governo, tendo acabado com agressões, acusações, ameaças  e outras insensibilidades que só serviam para prejudicar o trabalho dele e o desenvolvimento do país, cujas dificuldades estavam sendo elaboradas não totalmente pelos demais poderes, de vez que elas contavam com a colaboração do Palácio do Planalto e sua identificação ajudou imediatamente à retomada da credibilidade dele.

O resultado de todo esse imbróglio somente desaguaria nas dificuldades de relacionamento com os outros poderes e na asfixia da administração do seu governo, muito por culpa, em alguns casos, do próprio presidente, que conseguiu se embaralhar com acusações quase sempre pesadas, que resultaram em atritos sem a menor necessidade para o seu governo, porque, em muitos casos, eles jamais teriam existido se ele tivesse seguido rigorosamente a cartilha do estadista inteligente, ao cumprir exclusivamente as normas inerentes ao relevante cargo de presidente da República.

Com base nessas premissas, pode-se concluir que é preciso de pouco esforço para se imaginar que o presidente do país trabalhava bem menos do que devia não por culpa dos outros poderes, quando competia exclusivamente a ele desempenhar, com inteligência, competência e eficiência, as elevadas funções inerentes aos interesses dos brasileiros, independentemente do que fazem os outros poderes da República, porquanto caberia a ele recorrer, nas vias cabíveis, contra qualquer forma de intromissão ao Executivo, mostrando a total impertinência de atos abusivos e contrários aos princípios constitucional, republicano e democrático.

Brasília, em 17 de dezembro de 2020  

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