segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

A pressão é da ciência

Vários países do mundo, inclusive da América Latina, já iniciaram ou estão iniciando ainda este ano a vacinação contra a Covid-19, mas, no Brasil, infelizmente, ainda não há data para o começo da imunização.

Não obstante, o presidente da República demonstrou, dias atrás, que não se sente incomodado diante do fato de as campanhas internacionais já terem sido anunciadas sem que haja prazos aqui no Brasil, tendo declarado, pasmem, que “Ninguém me pressiona para nada”, garantiu, enquanto circulou por Brasília, sem usar máscara.

Ele foi bastante enfático, ao afirmar que “Entre mim e a vacina tem uma tal de Anvisa, que eu respeito e não estão querendo respeitar”, fazendo alusão à Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Na ocasião, o presidente também lembrou a assinatura, recente, de Medida Provisória que liberará, no ano que vem, o valor de R$ 20 bilhões para aquisição e distribuição do imunizante, entre outros usos.

O presidente voltou a salientar que os laboratórios não querem se responsabilizar por reações adversas que possam vir a ocorrer com as vacinas, tendo alegado que “Não pode aplicar qualquer coisa no povo. Eles não se responsabilizam por qualquer efeito colateral (da vacina)”.

Na sua crítica, o presidente afirmou que a falta de respaldo, pelo que soube, “é válida para todas as empresas que estão comercializando o imunizante.”.

O curioso é que as indevidas e precipitadas avaliações feitas sobre a vacinação ocorreram enquanto o chefe do Executivo esteve em vários estabelecimentos comerciais de Brasília, por cerca de duas horas, sempre acompanhado por seguranças e novamente sem usar máscara de proteção contra o coronavírus.

O presidente, com suas avaliações intempestivas e indevidas, vem tentando minimizar a urgência de imunizar a população e sempre se mostrou arredio ao uso da vacina Coronavc, que tem origem na China e que está sendo negociada pelo governo do Estado de São Paulo, para ser produzida no Instituto Butantan.

          Nesse caso, há visível jogo de forças, envolvendo interesse políticos, quando se trata de assunto que diz respeito à ciência, entre o presidente do país e o governador paulista, em torno do imunizante.

Não obstante, o governo federal voltou a considerar o uso da vacina que será produzida junto com o país asiático, quando o ministro da Saúde estimou que a imunização contra a Covid-19 começará, no país, somente em “meados de fevereiro”.

O Palácio do Planalto entregou o plano de vacinação do governo ao Supremo Tribunal Federal, ainda sem previsão de datas.

O presidente brasileiro precisa ter humildade para se conscientizar de que a gravidade da situação emergencial da pandemia não se confunde com nada parecido com pressão, senão da própria ciência, que diz claramente para os estadistas com o mínimo de responsabilidade pública e amor ao ser humano que o quanto antes de aplicar a vacina mais gente pode se salvar, diante da resistência à Covid-19.

Ou seja, não se trata, em absoluto, de qualquer forma de pressão, mas sim de priorização de políticas públicas necessárias à proteção da população, com o máximo de urgência para o salvamento de preciosas vidas, na forma como estão fazendo os líderes mundiais conscientes do seu dever de estadista extremamente responsáveis, que sabem o quanto é importante cuidar bem da vida humana, os quais estão se empenhando ao máximo no sentido da facilitação e antecipação da vacina, enquanto o presidente brasileiro fica dando opinião completamente estranha à sua competência institucional.    

O presidente não deveria ficar acusando falta de responsabilidade dos laboratórios, sem antes ter o pronunciamento da Anvisa, que é o órgão competente para dizer se o remédio é seguro ou não e, conforme o seu veredicto, a população tem absoluta segurança para ser vacinada, sob a certeza de que, se houver efeitos colaterais, estes devem ficam bastante explícito nas bulas e recomendações próprias dos fabricantes.

Não é de bom tom que o presidente se antecipe, por que de forma precipitada, para informar que a vacina não pode ser aplicada como se fosse qualquer coisa.

Essa maneira de se dirigir à nação demonstra desprepara por parte de quem precisa ter a maior cautela possível em tudo o que fala e diz para os brasileiros, porque ele precisa saber que a sua opinião tem peso muito grande perante a opinião pública, embora, em termos de pandemia, até agora ele tem sido precioso poço de inutilidade, porque a sua contribuição vem sendo sempre no sentido contrário às orientações oficiais, como se ele fosse o único certo nesse assunto, em se tratando de tema referente à saúde pública da maior responsabilidade, sem que ele tenha se preocupado para esse detalhe tão importante.     

Em síntese, o presidente precisa saber que nenhum laboratório cometeria tamanha insanidade de fabricar vacinas se elas não estivessem devidamente testadas o suficiente para a suficiência da finalidade para a qual ela foi criada, não só em razão da defesa da sua credibilidade como instituição medicamentosa, mas, em especial, pela segurança e preservação da integridade da vida humana, no sentido de que não valeria a pena tratar da imunização contra a Covid-19 sem os devidos cuidados com as questões de efeitos colaterais, que poderiam desencadear outras monstruosidades no seio da humanidade e isso seria simplesmente o fim do mundo, diante da falta de conscientização por parte das instituições que têm o dever de garantir a certeza quanto à qualidade dos produtos destinados exclusivamente à salvação de vidas e não trazer maiores problemas para a humanidade.

O governo brasileiro está tão defasado quanto à imunização, sem a menor perspectiva de quando dará o seu início, quando demonstrado a sua completa incompetência administrativa, que ainda se encontra negociando a compra do produto e ainda sem preparo de nada.

Enquanto isso, ao contrário do Brasil, os países da União Europeia e muitas nações conscientes da sua responsabilidade pública já começaram a campanha de vacinação contra a Covid-19, justamente tendo por principal preocupação a preservação de vidas humanas, consideradas prioritárias fora daqui.

Vejam-se o grau de competência e responsabilidade dos líderes dos países da Europa que, mesmo tendo alguns dos sistemas de saúde mais bem equipados do mundo, resolveram, diante da importância e do gigantismo da campanha de vacinação, convocar médicos aposentados para dar as injeções.

E mais, os líderes de governos europeus disseram que a vacina é a melhor chance de os países voltarem a ter vida normal em 2021, mas tamanha compreensão de sabedoria passa ao largo da administração brasileira, que sempre encontra injustificáveis argumentos justamente para o afastamento da realidade da história, como a absurda dificuldade para a aceitação das vacinas.    

Ao afirmar que “ninguém me pressiona para nada”, afastando qualquer sugestão ou ajuda, fica a possibilidade da ilação de que o presidente do país está acima de tudo e de todos e ele não está obrigado a seguir nada que venha abaixo da sua autoridade, como mandatário máximo da nação.

Isso dá margem para se intuir ainda que nem adiante sugerir medidas administrativas para contribuir para o combate à Covid-19, porque o governo autoritário, discricionário o antidemocrático não vai ceder em nada, porque ele tem certeza absoluta de que atua no limite da sua competência que entende que vem fazendo a gestão certa, a de não precisar ouvir ninguém e muito menos prestar contas sobre os seus atos, justamente o que faz todo governo tirânico, que acha normal dar as costas para o povo que o elegeu.

Enfim, o que se percebe, sem o menor esforço, é que, enquanto tudo de maravilhoso acontece com os governos das nações civilizadas e evoluídas, no país tupiniquim, o mandatário fica criticando a validade e a eficiência das vacinas, com base em nada, antes mesmo da manifestação oficial do órgão competente, em cristalina prova da sua total ineficiência no combate à pandemia do novo coronavírus e ainda conspirando contra os interesses da população, que já não suporta mais tantas opiniões e atos visivelmente na contramão da história da humanidade, que bem poderia ser escrita de maneira bastante diferente se a mentalidade do comandante estivesse em condições de perceber a enorme gravidade dos prejuízos já causados aos brasileiros por suas omissões e irresponsabilidades, à vista do rastro de bastantes mortes e danos em vidas humanas.

         Brasília, em 28 de dezembro de 2020 

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