quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

O misto de alegria e tristeza!

 

O Reino Unido aprovou, ontem, a vacina contra Covid-19, desenvolvida em parceria entre a Pfizer e a BioNTech, tendo dado a largada na dianteira dos Estados Unidos e da União Europeia e ainda se tornado o primeiro país ocidental em poder de imunizante, o que o habilita a aplicá-la às pessoas mais de maior vulnerabilidade, a começar já na próxima semana, conforme foi anunciado pelas autoridades sanitárias.

O primeiro-ministro britânico classificou a aludida medida como vitória global e raio de esperança em meio à pandemia do novo coronavírus que já matou mais de 1,5 milhão de pessoas no mundo, além de causar forte impacto sobre a economia e as vidas humanas.

A aprovação tem validade para uso emergencial da vacina Pfizer/BioNTech, sob a afirmação de ela ter 95% de eficácia na prevenção da Covid-19.

A novidade para a classe científica foi o fato de que a aprovação em referência se deu em tempo recorde, exatamente apenas 23 dias depois de a Pfizer publicar os primeiros dados de seu estudo clínico, em estágio avançado, ou seja, depois de realizados os principais testes cientificamente exigidos.

O premiê britânica disse que "É fantástico. A vacina começará a ser disponibilizada em todo o Reino Unido a partir da próxima semana. É a proteção das vacinas que, em última instância, nos permitirá retomar nossas vidas e fazer a economia andar de novo.".

As principais potências mundiais vêm se esforçando ao máximo na busca da vacina, na tentativa do começo da imunização das pessoas, que é imprescindível à estabilização da normalidade da vida humana, tão maltratada com os danos causados pelo Covid-19.

Já há quem conteste a aprovação da vacina pelo Reino Unido, como a agência reguladora de medicamentos da União Europeia, que disse que “seu processo mais longo para aprovação da vacina contra Covid-19 é mais seguro, pois é baseado em mais evidências científicas e checagens do que o processo emergencial adotado pelo Reino Unido”.

A farmacêutica norte-americana disse que a autorização emergencial no Reino Unido assinala momento histórico na luta contra a Covid-19.

O presidente da Pfizer anunciou o progresso de sua vacina no dia 9 de novembro com resultados de um teste clínico de estágio avançado.

O referido presidente afirmou, agora, que "Esta autorização é um objetivo rumo ao qual estamos trabalhando desde que declaramos que a ciência vencerá, e aplaudimos a MHRA por sua capacidade de realizar uma avaliação cuidadosa e realizar uma ação oportuna para ajudar a proteger o povo do Reino Unido. Como prevemos mais autorizações e aprovações, estamos concentrados em avançar com o mesmo nível de urgência para fornecer uma vacina de alta qualidade em todo o mundo com segurança."

Um pesquisador britânico disse que, "Com 450 pessoas morrendo de infecção de Covid-19 todos os dias no Reino Unido, os benefícios de uma aprovação rápida de uma vacina superam os riscos em potencial. Entretanto, precisamos de novos testes clínicos independentes para monitorar a segurança e a eficácia de longo prazo.".

Um executivo da BioNTech disse que "Os dados apresentados às agências reguladoras de todo o mundo são resultado de um programa de pesquisa e desenvolvimento cientificamente rigoroso e altamente ético".

A imprensa dos Estados Unidos noticiou que a Casa Branca convocou o chefe da FDA, para saber dele o motivo pelo qual a agência norte-americana não agiu mais rápido para autorizar a vacina da Pfizer.

O Reino Unido informou que irá começar a vacinar as pessoas comuns no início da próxima semana, depois do recebimento das doses da fábrica da Pfizer, localizada na Bélgica.

A propósito, é sabido que há outros laboratórios bem posicionados na corrida pela vacina, a exemplo da empresa de biotecnologia norte-americana Moderna, que disse que seu produto teve 94% de sucesso em testes clínicos de estágio avançado.

A vacina da Pfizer/BioNTech é uma das quatro que estão sendo testadas no Brasil, mas ainda não foi feito acordo para a sua aquisição, em que pese o governo já ter mantido contato com a Pfizer para apenas "conhecer os resultados dos testes em andamento e as condições de compra, logística e armazenamento oferecidas pelo laboratório", segundo o Ministério da Saúde, que disse também que plano de imunização do país não prevê o uso de vacinas que exijam  baixíssimas temperaturas de abastecimento, como é o caso daquela desenvolvida pelas farmacêuticas citadas acima.

De acordo com o secretário de Vigilância em Saúde, o governo brasileiro quer imunizante que possa ser armazenado em temperaturas de 2ºC a 8ºC, que é a compatível com a da rede de frio usada no sistema de vacinação brasileiro.

O referido secretário disse que o plano de vacinação terá como meta a adoção de imunizantes que sejam termoestáveis, ou seja, que não precisem de baixíssimas temperaturas de armazenamento, como é o caso das vacinas da Pfizer e da Moderna.    

O diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) comemorou a aprovação em apreço, tendo dito que é um marco na história do desenvolvimento de vacinas. Isso porque a vacina é a primeira  do tipo genético a entrar no mercado.”, mas também reconheceu o desafio para os seus armazenamento e transporte.

Enquanto isso, o Ministério da Saúde acaba de divulgar o plano estratégico "preliminar" para a vacinação da população contra a Covid-19, que foi dividido em quatro principais etapas, pela ordem, a saber: a) trabalhadores da saúde, população idosa, a partir dos 75 anos de idade, pessoas com 60 anos ou mais que vivem em instituições de longa permanência (como asilos e instituições psiquiátricas) e população indígena; a) pessoas de 60 a 74 anos; c) pessoas com comorbidades que apresentam maior chance para agravamento da Covid-19 (como pacientes com doenças renais crônicas e cardiovasculares); e d) professores, forças de segurança e salvamento, funcionários do sistema prisional e população privada de liberdade.

O governo esclarece que o aludido plano somente será definido quando tiver vacina aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que ainda não há a menor perspectiva de medida nesse sentido.

A notícia lamentável é a de que o governo não prevê vacinar, em 2021, toda a população brasileira, mas, sim, apenas 109,5 milhões de pessoas, ou seja, os mais de 100 milhões de pessoas vão precisar rezar muito para se imunizar da Covid-19, o que bem evidencia a gravidade do problema e a irresponsabilidade administrativa, porque não faz sentido algum que, diante de pandemia terrível somente parcela da população seja, de forma prioritária, merecedora de imunização, dando a entender que a vida do restante da população não tem importância alguma para o governo e isso é absolutamente inadmissível, sob o prisma do bom senso, da racionalidade e da responsabilidade quanto à gestão pública.

A princípio, isso se traduz em brutal desprezo à dignidade humana, quando o governo decide que somente parcela da população tem direito de ser vacinada, em prejuízo da outra parte, sem que, para tanto, tenha sido apresentado argumento algum para justificar tão absurda e incompreensível decisão, por ela não condizer com a gravidade da seriedade e a responsabilidade inerente à gestão pública, perante a terrível pandemia do novo coronavírus.

Impende ressaltar que, diante dos fatos aqui expostos, fica patenteado, de forma nítida, o pouco caso do governo com vistas à urgência e à integridade das medidas indispensáveis à imunização das pessoas, para que as atividades social e econômica sejam o mais brevemente possível restabelecidas, de modo a evidenciar a completa e gritante incoerência governamental de que tudo vem sendo feito no combate ao Covid-19, além de não passar de falácia o desejo reiteradamente reclamado da volta das pessoas ao ritmo da normalidade.

Por fim, os brasileiros se deparam com o misto de alegria pela aprovação da primeira vacina contra a Covid-19, mesmo que em além fronteira, sem pouca chance de chegar às terras tupiniquins, e de tristeza, por sentir o reduzido interesse demonstrado, nesse caso específico, pelo governo brasileiro no combate ao citado vírus, ante os pronunciamentos sobre a indefinição da vacina e, ainda pior, pela imunização de somente parcela da população, porque isso não se harmoniza com prioritários princípios humanitários e de responsabilidade administrativa.  

No momento, há plena consciência dos brasileiros de que somente é a proteção da vacina que vai finalmente assegurar a volta às atividades normais, permitindo que a economia exerça seu importante papel do desenvolvimento das nações e restabelecendo a alegria de viver, como nos bons tempos, mas, infelizmente o governo federal demonstra absoluta apatia quanto à efetivação das medidas indispensáveis à agilização do seu uso, contribuindo para alongar o sofrimento dos brasileiros.  

Brasília, em 3 de dezembro de 2020

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