quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Dignidade, como princípio

 

Um vídeo com a imagem do presidente da República, fazendo piada homofóbica sobre a Covid-19, viralizou nas redes sociais.

A gravação foi feita no último dia 27, por ocasião de conversa do presidente com apoiadores, em frente ao Palácio do Planalto.

Ao comentar, animadoramente, sobre possível visita a Itajaí (SC), o presidente houve por bem insinuar que pessoas estão fingindo estar com Covid-19 para buscar tratamento de ozônio via retal contra a doença, naquela cidade.

No vídeo, o presidente afirmou, aos risos, que “Vou estar em Itajaí antes do Natal, mas não vou tomar ozônio lá não, tá? (risos). Diz que o prefeito do ozônio foi reeleito, né? O pessoal sabe dessa história ou não? Vou falar só em partes: o prefeito falou que cura Covid com aplicação de ozônio. Mas não pergunta onde é a aplicação não (risos). Tinha muita gente indo pra lá tomar ozônio ‘estou com Covid’”.

Vejam-se que o presidente faz questão de falar de coisa muito séria, em público, mas procurando ser engraçado, o mais ridículo possível, na tentativa de provocar gracejo estupidamente em momento que exige o máximo de respeito à situação por que  atravessa o país, visivelmente martirizado até as entranhas, com as desgraças emanadas pela Covid-19.

Não faz o menor sentido que o mandatário do país não tenha o mínimo de sensibilidade diante de episódio da maior gravidade, como essa pandemia, que, de tanta seriedade, jamais haveria espaço senão para trabalho e preocupação com os estragos que o Covid-19 já causaram à população brasileira.

Convém ressaltar que o castigo causado à população do país já se aproxima de 180 mil perdas humanas, verdadeira tragédia que exige o máximo de seriedade e muito respeito por parte das autoridades públicas, pelo menos com àqueles que foram castigados em razão desse desastre.

Por certo, essa tragédia poderia ter sido minimizada se os responsáveis (ou irresponsáveis) diretos tivessem o mínimo de sensibilidade e conscientização sobre o que é a perda de ente querido, que, em muitos casos, pode foram motivados, precisamente, por essa maneira desrespeitosa de não compreender a real extensão da calamidade que se abateu sobre a população brasileira.

O presidente da República precisa se conscientizar de que o cargo que ele ocupa é da maior responsabilidade e relevância e exige dele a compostura da maior seriedade, sensatez e integridade moral e ética, não se permitindo que ele possa sair em praça pública fazendo gracejo, na tentativa de animar os seus apoiadores, que são outros insensíveis, que acham engraçado toda piada bufa vinda do presidente, que seria muito mais interessante que nada disso estivesse acontecendo, diante da desgraça que infelizmente grassa, sem piedade, brasis afora.

Ninguém pretende defender a proibição no sentido de o presidente não puder brincar e fazer as pessoas rirem, nada disso, porque ele também é ser humano, em contexto que é normal que a autoridade possa perfeitamente se divertir junto com seus seguidores, mas que isso seja feito, necessariamente, em ambiente de muito respeito e seriedade, de modo que as suas piadas não sirvam de chacotas nem possam ser interpretadas como intenção maliciosa ou depreciativa dos principais bens do ser humano, que são as suas dignidade e consciência moral.

Cabe ao presidente da República, como principal autoridade do país, ser modelo de seriedade e dignidade, procurando se conduzir, principalmente em público, com a decência que o torne pessoa admirada por sua postura irretocável de homem público que não merece a menor censura nem reprimenda, porque é exatamente assim que ele tem o dever de se apresentar para os brasileiros, sendo cuidadoso nas palavras e nos modos, porque isso se insere na cartilha que ele tem a obrigação de seguir rigorosamente, em harmonia com a liturgia de mandatário do Brasil, educado e digno.

Brasília, em 10 de dezembro de 2020

Nenhum comentário:

Postar um comentário