Já
não há mais dúvida de que os resultados da delação premiada contribuíram para a
revelação de um dos mais vastos, ricos e poderosos esquemas de corrupção já
descobertos no país, conforme as provas coletadas, nos últimos meses, pelas
investigações levadas a efeito pela Operação Lava Jato, mostrando fortes
indícios da existência de uma organização criminosa, atuando a mando e sob o
respaldo de patronos políticos inescrupulosos, nas obras mais caras da maior
empresa do país.
O
conjunto das provas é fantástico, por reunir extratos bancários, anotações
apreendidas, e-mails, telefonemas interceptados, contas secretas em paraísos
fiscais, que se confirmam em abundância as fraudes, cujas peças investigadas
acabam de se encaixar com as confissões dos dois principais operadores do
esquema, nas pessoas do ex-diretor da Petrobras e do doleiro, que se encontram
presos, consistentes nos depoimentos recheados não somente do detalhamento como
funcionava o espúrio esquema, mas da indicação da existência de cartel das
maiores empreiteiras do Brasil, acusado da compra de diretores da Petrobras e do
pagamento de propina para partidos como PT, PP e PMDB.
O
ex-diretor da estatal afirmou que, na raiz do esquema, estava idêntica prática
que levou o país ao desastroso mensalão, sustentado pelo aparelhamento político
da máquina pública, tendo sido eleita a Petrobras como principal objeto do
desejo da sanha criminosa dos políticos que acossam o governo para a garantia
de apoio político. O doleiro disse que “Para
que Paulo Roberto assumisse a cadeira de diretor, esses agentes políticos
trancaram a pauta no Congresso durante 90 dias. Luiz Inácio Lula da Silva, ele
ficou louco e teve de ceder” à indicação e à pressão do PP, que teve a
bênção do PT.
O
ex-diretor da estatal declarou que “Na
Petrobras, desde que me conheço como Petrobras, as diretorias e a presidência
foram sempre por indicação política. Ninguém chega a general se não for
indicado nas Forças Armadas. Então, as diretorias da Petrobras nos governos
Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique, quer seja nos governos do presidente
Lula, foram sempre por indicação política. E fui indicado pelo PP para essa
diretoria. Foi dito que o partido (PP) tinha interesses. É óbvio que nenhum
partido indicou algum diretor só pela capacidade técnica dele. Os verdadeiros chefes
da organização criminosa eram os donos dos partidos – PT, PMDB e PP – que
afiançavam as nomeações na Petrobras. Acima deles, o Palácio do Planalto de
Lula, de onde partiam as ordens para nomear os afilhados dos partidos.”.
Segundo
o ex-diretor da empresa, o esquema passou a operar com mais liberdade somente
após o mensalão, em 2005, porquanto, a partir de então, a Petrobras se tornava
a principal fonte de renda dos políticos, em conformidade com o jogo devidamente
combinado.
O
conjunto de esquemas na estatal, agora convencionado de petrolão, tem,
indubitavelmente, o mesmo DNA do mensalão, cujo responsável por sua operação
foi indicado pelo líder do PP, que já havia participado com bastante influência
também no esquema detonado naquele ano.
No
segundo mandato do petista, enquanto o Supremo Tribunal Federal julgava as
falcatruas pertinentes ao famigerado mensalão, parte dos acusados, que migrara
deste, continuava protagonizando maldades e misérias com recursos públicos,
numa demonstração de que a mudança do propinoduto lhes renderia muito mais
possibilidade de enriquecimento fácil e rápido, ante as suntuosas participações
nos valores elevadíssimos das contratações da empresa.
Segundo o ex-diretor da Petrobras, a presidente da República sabia
de tudo, mas, com muita obviedade, em plena campanha eleitoral tentou-se negar
o fato, alegando, no caso da petista, que não compactua com corrupção, embora
parte do dinheiro desviado tivesse servido para alimentar o caixa da campanha
dela, em 2010. O ex-diretor disse, in
verbis: “... fui nomeado para a
Petrobras por ser o ‘homem de confiança’ do Lula... fui para cumprir uma
missão... sempre atuei em comum acordo com ele e o Vaccari... com o fim do
esquema do Marco Valério, a ordem era repor recursos para o financiamento da
base aliada... Dilma conhecia e a apoiava o esquema desde o seu tempo de
conselho.”.
Em
conformidade com o ex-diretor, a “prosperidade” começou a aparecer com o início
da construção de refinarias, no segundo mandato do ex-presidente petista, com
os investimentos nas refinarias Abreu e Lima, Comperj, Premium I e Premium II,
todas avaliadas em bilhões de reais, os quais coincidiram com a compra da
refinaria de Pasadena, nos EUA, para formar a união entre as grandes
empreiteiras, segundo ele num “cartel” para “negociar” na área de Abastecimento
– encarregada das obras.
O
ex-diretor disse que “Me foi colocado
pelas empresas e também pelo partido (PP) que, dessa média de 3%, o que fosse
da Diretoria de Abastecimento, 1% seria repassado para o PP, e os 2% restantes
ficariam para o PT dentro da diretoria que prestava esse serviço, que era a
Diretoria de Serviços. Isso me foi dito com toda a clareza. A Diretoria
Internacional tinha indicação do PMDB, então, havia recursos que eram
repassados também para o PMDB.”.
Conforme
os dois delatores, cada partido tinha operadores individuais e meios de repasse
de dinheiro, sendo que o tesoureiro do PT era cúmplice no esquema, ou seja, ele
teve ativo envolvimento com o desvio dos dinheiros sujos.
As evidências
colhidas até agora pela Polícia Federal e pelo Ministério Público somente
confirmam que realmente houve gigantesco rombo nos cofres da Petrobras, ante a
verossimilhança dos uniformes relatos dos delatores, que não deixam margem de
dúvida sobre as graves irregularidades denunciadas.
É
induvidoso que a roubalheira na estatal não tinha limite, tendo por principal
protagonista o partido governista, cuja candidata reeleita ainda empina o nariz
se julgando a mais ética e moral da face da terra, se vangloriando de
investigar e punir, embora ainda nada tenha sido investigado nem punido por
iniciativa dela, que tudo fez para evitar a criação e a instalação das
Comissões Parlamentares de Inquérito, que se encontram jogadas às moscas no
Congresso Nacional, justamente em razão da campanha eleitoral, para que os
fatos investigados e revelados não repercutissem na campanha da petista.
Por
parte da presidente do país, como se vê, nenhuma medida prática e efetiva foi
adotada, porque as denúncias são consistentes, mas nem mesmo o tesoureiro do PT
foi convocado para ser ouvido pela CPI, ou seja, não se investiga, mas
blinda-se pessoa considerada chave no esquema, que teria recebido os recursos
da propina para o PT.
Para
a sociedade fica bastante patente que o governo finge que investiga e pune e
empurra a questão com a barriga até que seja colocada uma pedra sobre mais esse
caso que deve se arrastar anos a fio, sem solução e o governo continua sendo
mesmo de sempre, jurando que não engaveta nada sobre corrupção, mas até agora
ele não apresentou o resultado de nenhuma investigação, desde as denúncias de
corrupção nos ministérios, onde sete ministros pediram, moto próprio,
exoneração dos cargos, sob a evidência da roubalheira pelas ONGs fajutas, o
caso Rosegate, envolvendo do ex-presidente da República, e outros tantos casos
de corrupção que não aparecem os resultados das apurações, se é que elas tenham
sido realizadas, porque, para o governo, o importante é dizer que investiga e
pune, porque os ingênuos e os fãs da incompetência e da desmoralização
acreditam piamente em afirmações desprovidas de consistência e de
verossimilhança.
Fica
muito difícil acreditar no futuro promissor de país que trata corruptos, como os
mensaleiros, como verdadeiros heróis nacionais, como se eles tivessem praticado
atos de bravura ao fraudar a aplicação de recursos públicos em benefício da pátria
e da sociedade, quando seus procedimentos sujos equivalem à degradação do ser
humano, por terem enlameado de podridão a dignidade dos brasileiros, no que já
teria sido o maior escândalo da história republicana, que agora perde de
goleada para a mais audaciosa roubalheira do propinoduto da Petrobras.
A
sociedade precisa reagir às falsidades e imprecisas afirmações, mesmo que elas
tenham sido ditas pela autoridade máxima do país, devendo exigir comprovação
sobre os fatos alegados por ela, de modo que se possa dar credibilidade ao
governo que, por enquanto, subsiste investindo pesada e maciçamente no poder do
marketing da publicidade e da propaganda, como fazem os administradores
públicos que precisam desse artifício para justificar a precariedade do seu
trabalho e a continuidade no poder, que não consegue convencer os cidadãos com o mínimo
de informação e de conhecimento sobre a falta de efetividade das atividades
político-administrativas, que padecem do mal crônico da acefalia gerencial na
gestão do patrimônio dos brasileiros. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 29 de outubro de 2014
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