quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A acefalia administrativa do país

Já não há mais dúvida de que os resultados da delação premiada contribuíram para a revelação de um dos mais vastos, ricos e poderosos esquemas de corrupção já descobertos no país, conforme as provas coletadas, nos últimos meses, pelas investigações levadas a efeito pela Operação Lava Jato, mostrando fortes indícios da existência de uma organização criminosa, atuando a mando e sob o respaldo de patronos políticos inescrupulosos, nas obras mais caras da maior empresa do país.
O conjunto das provas é fantástico, por reunir extratos bancários, anotações apreendidas, e-mails, telefonemas interceptados, contas secretas em paraísos fiscais, que se confirmam em abundância as fraudes, cujas peças investigadas acabam de se encaixar com as confissões dos dois principais operadores do esquema, nas pessoas do ex-diretor da Petrobras e do doleiro, que se encontram presos, consistentes nos depoimentos recheados não somente do detalhamento como funcionava o espúrio esquema, mas da indicação da existência de cartel das maiores empreiteiras do Brasil, acusado da compra de diretores da Petrobras e do pagamento de propina para partidos como PT, PP e PMDB.
O ex-diretor da estatal afirmou que, na raiz do esquema, estava idêntica prática que levou o país ao desastroso mensalão, sustentado pelo aparelhamento político da máquina pública, tendo sido eleita a Petrobras como principal objeto do desejo da sanha criminosa dos políticos que acossam o governo para a garantia de apoio político. O doleiro disse que “Para que Paulo Roberto assumisse a cadeira de diretor, esses agentes políticos trancaram a pauta no Congresso durante 90 dias. Luiz Inácio Lula da Silva, ele ficou louco e teve de ceder” à indicação e à pressão do PP, que teve a bênção do PT.
O ex-diretor da estatal declarou que “Na Petrobras, desde que me conheço como Petrobras, as diretorias e a presidência foram sempre por indicação política. Ninguém chega a general se não for indicado nas Forças Armadas. Então, as diretorias da Petrobras nos governos Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique, quer seja nos governos do presidente Lula, foram sempre por indicação política. E fui indicado pelo PP para essa diretoria. Foi dito que o partido (PP) tinha interesses. É óbvio que nenhum partido indicou algum diretor só pela capacidade técnica dele. Os verdadeiros chefes da organização criminosa eram os donos dos partidos – PT, PMDB e PP – que afiançavam as nomeações na Petrobras. Acima deles, o Palácio do Planalto de Lula, de onde partiam as ordens para nomear os afilhados dos partidos.”.
Segundo o ex-diretor da empresa, o esquema passou a operar com mais liberdade somente após o mensalão, em 2005, porquanto, a partir de então, a Petrobras se tornava a principal fonte de renda dos políticos, em conformidade com o jogo devidamente combinado.
          O conjunto de esquemas na estatal, agora convencionado de petrolão, tem, indubitavelmente, o mesmo DNA do mensalão, cujo responsável por sua operação foi indicado pelo líder do PP, que já havia participado com bastante influência também no esquema detonado naquele ano.
No segundo mandato do petista, enquanto o Supremo Tribunal Federal julgava as falcatruas pertinentes ao famigerado mensalão, parte dos acusados, que migrara deste, continuava protagonizando maldades e misérias com recursos públicos, numa demonstração de que a mudança do propinoduto lhes renderia muito mais possibilidade de enriquecimento fácil e rápido, ante as suntuosas participações nos valores elevadíssimos das contratações da empresa. 
Segundo o ex-diretor da Petrobras, a presidente da República sabia de tudo, mas, com muita obviedade, em plena campanha eleitoral tentou-se negar o fato, alegando, no caso da petista, que não compactua com corrupção, embora parte do dinheiro desviado tivesse servido para alimentar o caixa da campanha dela, em 2010. O ex-diretor disse, in verbis: “... fui nomeado para a Petrobras por ser o ‘homem de confiança’ do Lula... fui para cumprir uma missão... sempre atuei em comum acordo com ele e o Vaccari... com o fim do esquema do Marco Valério, a ordem era repor recursos para o financiamento da base aliada... Dilma conhecia e a apoiava o esquema desde o seu tempo de conselho.”.
Em conformidade com o ex-diretor, a “prosperidade” começou a aparecer com o início da construção de refinarias, no segundo mandato do ex-presidente petista, com os investimentos nas refinarias Abreu e Lima, Comperj, Premium I e Premium II, todas avaliadas em bilhões de reais, os quais coincidiram com a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, para formar a união entre as grandes empreiteiras, segundo ele num “cartel” para “negociar” na área de Abastecimento – encarregada das obras.
O ex-diretor disse que “Me foi colocado pelas empresas e também pelo partido (PP) que, dessa média de 3%, o que fosse da Diretoria de Abastecimento, 1% seria repassado para o PP, e os 2% restantes ficariam para o PT dentro da diretoria que prestava esse serviço, que era a Diretoria de Serviços. Isso me foi dito com toda a clareza. A Diretoria Internacional tinha indicação do PMDB, então, havia recursos que eram repassados também para o PMDB.”.
Conforme os dois delatores, cada partido tinha operadores individuais e meios de repasse de dinheiro, sendo que o tesoureiro do PT era cúmplice no esquema, ou seja, ele teve ativo envolvimento com o desvio dos dinheiros sujos.
As evidências colhidas até agora pela Polícia Federal e pelo Ministério Público somente confirmam que realmente houve gigantesco rombo nos cofres da Petrobras, ante a verossimilhança dos uniformes relatos dos delatores, que não deixam margem de dúvida sobre as graves irregularidades denunciadas.
É induvidoso que a roubalheira na estatal não tinha limite, tendo por principal protagonista o partido governista, cuja candidata reeleita ainda empina o nariz se julgando a mais ética e moral da face da terra, se vangloriando de investigar e punir, embora ainda nada tenha sido investigado nem punido por iniciativa dela, que tudo fez para evitar a criação e a instalação das Comissões Parlamentares de Inquérito, que se encontram jogadas às moscas no Congresso Nacional, justamente em razão da campanha eleitoral, para que os fatos investigados e revelados não repercutissem na campanha da petista.
Por parte da presidente do país, como se vê, nenhuma medida prática e efetiva foi adotada, porque as denúncias são consistentes, mas nem mesmo o tesoureiro do PT foi convocado para ser ouvido pela CPI, ou seja, não se investiga, mas blinda-se pessoa considerada chave no esquema, que teria recebido os recursos da propina para o PT.
Para a sociedade fica bastante patente que o governo finge que investiga e pune e empurra a questão com a barriga até que seja colocada uma pedra sobre mais esse caso que deve se arrastar anos a fio, sem solução e o governo continua sendo mesmo de sempre, jurando que não engaveta nada sobre corrupção, mas até agora ele não apresentou o resultado de nenhuma investigação, desde as denúncias de corrupção nos ministérios, onde sete ministros pediram, moto próprio, exoneração dos cargos, sob a evidência da roubalheira pelas ONGs fajutas, o caso Rosegate, envolvendo do ex-presidente da República, e outros tantos casos de corrupção que não aparecem os resultados das apurações, se é que elas tenham sido realizadas, porque, para o governo, o importante é dizer que investiga e pune, porque os ingênuos e os fãs da incompetência e da desmoralização acreditam piamente em afirmações desprovidas de consistência e de verossimilhança.
Fica muito difícil acreditar no futuro promissor de país que trata corruptos, como os mensaleiros, como verdadeiros heróis nacionais, como se eles tivessem praticado atos de bravura ao fraudar a aplicação de recursos públicos em benefício da pátria e da sociedade, quando seus procedimentos sujos equivalem à degradação do ser humano, por terem enlameado de podridão a dignidade dos brasileiros, no que já teria sido o maior escândalo da história republicana, que agora perde de goleada para a mais audaciosa roubalheira do propinoduto da Petrobras.
A sociedade precisa reagir às falsidades e imprecisas afirmações, mesmo que elas tenham sido ditas pela autoridade máxima do país, devendo exigir comprovação sobre os fatos alegados por ela, de modo que se possa dar credibilidade ao governo que, por enquanto, subsiste investindo pesada e maciçamente no poder do marketing da publicidade e da propaganda, como fazem os administradores públicos que precisam desse artifício para justificar a precariedade do seu trabalho e a continuidade no poder, que não consegue convencer os cidadãos com o mínimo de informação e de conhecimento sobre a falta de efetividade das atividades político-administrativas, que padecem do mal crônico da acefalia gerencial na gestão do patrimônio dos brasileiros. Acorda, Brasil!
 
        ANTONIO ADALMIR FERNANDES
        Brasília, em 29 de outubro de 2014

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