quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Apoio ou ultimato?

A ambientalista derrotada na última eleição decidiu que seu apoio ao candidato tucano vai depender da aceitação dele às suas propostas que serão apresentadas a ele.
Com essa finalidade, foi marcado encontro do grupo dela com o candidato do PSDB, em cuja ocasião serão entregues as propostas programáticas, que foram eleitas por consenso pela Rede de Sustentabilidade, por entender que elas satisfazem as pretensões básicas para o desenvolvimento político-administrativo do país.
Entre os compromissos que a Rede considera “fundamentais” para o fechamento do apoio à candidatura do tucano figuram a reforma agrária, a manutenção dos direitos dos trabalhadores, as demarcações de terras indígenas e de unidades de conservação, a adoção de política “progressista” em relação ao clima, a implantação de escola em tempo integral, o passe livre para estudantes e a revisão do fator previdenciário.
Traduzindo os assuntos organizados pelo grupo da ex-senadora, tem-se que, basicamente, ele pretende o fim da reeleição, com mandato de cinco anos; a adoção de visão mais abrangente do desenvolvimento; a implantação de educação de qualidade; a introdução da sustentabilidade nas decisões sobre políticas públicas; a descarbonização da economia; a priorização à economia sustentável; a sustentabilidade no campo e na cidade; o fortalecimento da agricultura familiar; a defesa dos territórios, de seus recursos naturais e de suas populações; a garantia inegociável dos direitos humanos e a expansão dos direitos sociais e dos trabalhadores, com o aumento e a qualificação dos empregos; se ouvir os movimentos sociais; a melhoria dos serviços públicos; a disponibilização de mais recursos para a saúde; a garantia da segurança da população; a não-flexibilização das leis trabalhistas; e o assentamento de cerca de 85 mil famílias pela reforma agrária.
Não obstante, entre as principais demandas, pasmem, encontra-se a retida do programa de governo do tucano da redução da maioridade penal, que, sem dúvida, trata-se de medida tão ansiada por maioria absoluta dos brasileiros sensatos, que não suportam mais nem ouvir das barbaridades praticadas pelos menores de 18 anos, que cometem crimes mais selvagens do que os protagonizados por adultos, mas mesmo assim, quando apreendidos (nem presos são), passam apenas pelo elegante termo da ressocialização, limitada à tão somente três anos.
O porta-voz da ex-senadora disse que será uma “boa iniciativa” se o senador mineiro se comprometer publicamente com as bandeiras do seu grupo político, em forma de carta ou documento público. Ele disse que “Cartas redigidas que simbolizem contrato de trabalho do futuro governo serão extremamente positivas. O Brasil precisa resgatar a confiança nos políticos”.
Na forma da proposta preparada pelo grupo político da ambientalista, há clara declaração no sentido de que a adesão dele à campanha do tucano fica condicionada, necessariamente, à anuência do candidato sobre os assuntos elencados na proposta dos adesistas.
Trata-se de demandas visivelmente inaceitáveis, não que a sua maioria não seja viável, mas, a uma, porque de proposta mesmo não tem absolutamente nada, quando o seu arcabouço diz respeito a verdadeiro ultimato: ou aceita nossa imposição ou nada feito, e, a duas, porque não é de bom tom se apelar por imposição nessas horas, quando as regras do já foram estabelecidas e qualquer mudança pode causar transtornos insanáveis.
A evidente esquisitice protagonizada pela Rede fica patente em diferenciação ao procedimento de vários partidos, inclusive do PSB - este que acomodou a candidatura da ex-senadora -, que não fizeram nenhuma exigência para participar da candidatura tucana, que até podiam, mas preferiram respeitar as regras do jogo democrático.     
Diante desse fato, de certa forma, inusitado, é induvidoso que a democracia brasileira precisa se aperfeiçoar e evoluir, com indispensável urgência, por se verificar, no caso em comento, que o apoio da candidata derrotada ao candidato peessedebista ainda dependa da aceitação dele sobre as exigências para a reformulação de programa de governo que já tem ampla aceitação da sociedade.
Seria muito mais elegante para a ambientalista já ter declarado que não pretende participar do processo eleitoral, do que ficar fazendo exigências absurdas, à vista de não ter conseguido a adesão dos brasileiros ao seu programa de governo, mas pretende impô-lo agora ao candidato tucano.
A racionalidade e a modernidade democráticas aconselham que quem realmente pretenda apoiar alguém não tem direito de impor condições, mais sim de apenas, quando muito, levar subsídios para o aperfeiçoamento e o enriquecimento do programa do candidato, por ser normal que aquele que adere não pode fazer exigência senão se associar para o engajamento de objetivos comuns, na forma já delineada pelo candidato, cujo programa já foi aprovado pelas urnas, na primeira etapa dessa importante jornada democrática. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 09 de outubro de 2014

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