sexta-feira, 3 de outubro de 2014

A "eficiência" dos Correios

Em conformidade com vídeo divulgado pelo site do jornal “O Estado de S. Paulo”, um deputado estadual do PT mineiro declarou durante reunião com dirigentes dos Correios que  a candidata oficial somente chegou aos 40% de intenções de voto, em Minas Gerais, porque "tem dedo forte dos petistas dos Correios”.
Diante das denúncias de favorecimentos em referência, que demonstram verdadeiro crime eleitoral, o presidente da estatal garantiu que “Os Correios não estão contribuindo com a campanha de qualquer candidato. A reunião não ocorreu durante o expediente e a empresa não custeou despesas relacionadas a ela.”. À toda evidência, essas afirmações nada representam, ante a gravidade dos fatos, que são absolutamente inadmissíveis, no Estado Democrático de Direito.
Os Correios afirmaram, ainda, que “as alusões feitas na matéria sobre participação de pessoas ligadas aos Correios em atividades político-partidárias jamais podem ser entendidas como atuação da empresa. A participação de algum profissional, como cidadão, nessa ou em outra atividade, fora do âmbito dos Correios e fora do seu expediente de trabalho, diz respeito à pessoa e não à empresa”.
A assessoria de campanha da presidente da República afirmou que “A campanha não mobiliza funcionários da empresa. A única relação da campanha com os Correios ocorre mediante prestação de serviços pagos, como já informados anteriormente ao Estado de S. Paulo”.
A propósito das denúncias de aparelhamento dos Correios em prol da candidata petista, a presidente da República classificou como "um absurdo" a denúncia divulgada pela imprensa sobre suposto beneficiamento de sua campanha com ações dos Correios em Minas Gerais.
A presidente rebateu as informações, sem apresentar nenhum argumento convincente, apenas as refutou fazendo indagação aos jornalistas sobre o que eles teriam achado da denúncia, dessa forma: “Gente, vocês são jornalistas. Vocês acreditam nisso? Gente, nós estamos vivendo um momento eleitoral e fica uma situação um pouco nervosa. Isso é um absurdo”. Acontece que os fatos falam por si sós e justamente no período eleitoral que suscitam os casos escabrosos, com a finalidade de prejudicar os adversários.
A propósito da divulgação do vídeo em causa, a coligação do candidato tucano anunciou que vai pedir investigação do caso ao Tribunal Superior Eleitoral, tendo adiantado que também irá acionar a Justiça para apurar fundada denúncia de que os Correios em Minas Gerais teriam deixado, propositadamente, de entregar correspondências contendo seu material de campanha no estado.
Por sua vez, a pessebista não poupou criticas ao suposto aparelhamento das empresas públicas para, segundo ela, garantir a reeleição da presidente. Ela aproveitou o indecente procedimento para justificar a sua defesa sobre o fim da reeleição no país. A presidenciável disse que "Tenho dito reiteradas vezes que sou contra a reeleição. A reeleição é uma chaga. Isso tudo começou com compra de votos, com o mensalão no Congresso. Querem se reeleger a qualquer custo".
Não há dúvida de que configura mais do que absurdo, em pleno século XXI, ainda possa existir tamanho disparate de pensamento ideológico, por se imaginar ser possível a utilização de métodos muito comuns na velha República, como se isso não evidenciasse falta de pudor ou sentimento de maldade contra os princípios ético e moral.
Trata-se, à toda evidência, de situação flagrada e denunciada pela mídia, que mostra o verdadeiro desprezo à ética, que contribui para apequenar e envergonhar as atividades político-administrativas, por evidenciar a forma inescrupulosa do uso da máquina pública, em benefício da candidatura oficial.
Na realidade, esse affaire, aliado às precariedades e indignidades na administração do país evidenciam, contextualizadas com inúmeras irregularidades e corrupções e má gestão das políticas públicas, que o partido do governo não tem projeto para o país – e isso todo mundo está cansado de saber, menos seus filiados e aqueles que não estão nem aí para nada –. Há, isso sim, todo esforço por parte de ocupantes de cargos comissionados – que ultrapassam de dezenas de milhares – para não perderem as benesses do poder, como no caso dos Correios, que têm disposições, como visto, para trabalhar em benefício apenas da candidata oficial, como forma de manter o status quo.
Na forma como a administração pública se encontra estruturada, mantida sob eficiente e adequado aparelhamento montado nos órgãos e nas entidades públicos, nos moldes que não se admite nem pensar na salutar alternância do poder, exatamente porque a classe dominante não consegue mais viver fora do governo, que já se transformou em propriedade privada do partido governista, ainda que tenha dividir as benesses com aliados integrantes da sua base de sustentação, mediante o loteamento de cargos públicos, como forma de garantir a perenidade no poder.
Nas democracias evoluídas, a manutenção no poder é comprovada pela eficiência do governo, mas no país tupiniquim isso funciona exatamente ao contrário, ou seja, a permanência no poder se dá por questão de honra dos privilégios e das diversidades dos benefícios conquistados ao longo de mais de década de gestão deletéria e prejudicial aos interesses nacionais.
A ansiedade quanto à possível perda do poder provoca inquietações no seio do partido que é capaz de fazer qualquer coisa para não precisar limpar as gavetas da Esplanada, a exemplo desse lamentável episódio dos Correios, em que as cartas da candidata petista tiveram prioridade, enquanto as dos opositores dela se atrasaram no caminho, se não tiverem sido extraviadas de propósito.
É evidente que há intrínseca necessidade de se brigar pela permanência no poder, para que as conquistas materiais, que já se tornaram patrimônio dos “cumpanheros” não se diluíam de repente, na fumaça da incompetência, por mera disputa eleitoral, que, nas nações desenvolvidas, são travadas sob pálio da rígida observância aos princípios democráticos, evidentemente sem o uso da máquina pública, por isso se caracterizar crime eleitoral.
O partido governista está pouco interessado se a disputa eleitoral deva envolver ou não ideologias, valores éticos e morais ou princípios acerca da eficiência do desempenho da administração do país, quanto à busca da melhoria das condições de vida da população ou ao desenvolvimento da nação, porque isso destoa da arraigada defesa do poder, que é seu objetivo primordial, não importando os fins para serem atingidos os meios.
Compete à sociedade eleger o estadista que tenha efetivas capacidades e condições para trabalhar, com plenas disposições, para a construção de um Brasil novo e diferente ao atual, tendo por mira a sua moralização e modernização, mediante a promoção de profundas e abrangentes reformas das ultrapassadas, ineficientes e contraprodutivas estruturas constantes do arcabouço engendrado pela incompetência e pela ideologia político-administrativa mantidas com exclusividade para a perenidade no poder. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 02 de outubro de 2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário