O
Tribunal de Contas da União – TCU afirmou, por meio de relatório sistêmico da
assistência social no Brasil, ter identificado erros “como a autodeclaração dos dados da renda e o não cruzamento dos dados
com outras bases” no fornecimento do benefício do Bolsa Família. Nesse
trabalho de auditoria, o órgão de controle externo aponta “fragilidade” na
execução dos programas sociais do governo, em especial do Bolsa Família, cujos
elementos levantados no âmbito desse programa de transferência de renda
sinalizavam para o “risco de pessoas
estarem recebendo o benefício sem o devido direito”.
Contrapondo
às afirmações do TCU, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome criticou
duramente as conclusões em apreço, tendo classificado que as falhas e
impropriedades apontadas pelo tribunal de contas são o resultado da “ignorância dos técnicos sobre os critérios
internacionais de mensuração de pobreza”.
Por sua vez, o presidente do TCU, acompanhado
pelos ministros da corte, rebateu, imediatamente, as críticas do ministério, afirmando
que elas representam manifestação “incivil,
indelicada e desrespeitosa” ao tribunal de contas e também ao corpo técnico
do órgão, creditando a nota “apressada e
impensada” do ministério ao possível efeito eleitoral das falhas apontadas
no relatório. Ele ressaltou que “Não
houve qualquer equívoco, ignorância ou preconceito com a análise produzida pela
mais alta corte de contas do país. Cabe
registrar o inconformismo e o repúdio às difamações que atacaram a honra desta
casa”.
O
TCU também identificou falhas nos cadastros dos Centros de Referência de
Assistência Social e nos Centros de Referência Especializados de Assistência
Social, indicando “deficiência no
controle e gestão de riscos, baixo nível de eficiência dos Cras e dos Creas e
baixo nível de vigilância socioassistencial da Rede Suas (Sistema Nacional de
Informação do Sistema Único de Assistência Social)”.
Em
conclusão, o tribunal recomendou ao aludido ministério a realização de estudos
para promover e incentivar a “emancipação
dos beneficiários do programa Bolsa Família, assim como incentivar os Cras e os
Creas a buscarem maior eficiência de atuação”.
As declarações do Executivo evidenciam não
somente o baixo nível e o despreparo das autoridades para contestar a realidade
dos fatos, mas também a estupidez que jamais o órgão fiscalizado deveria
utilizar como argumento para tentar justificar suas notórias deficiências
quanto à execução do programa em causa, que é consabido que a sua eficiência
somente é incontestável no que diz respeito à obtenção dos objetivos almejados
pelo governo, qual seja, a fidelidade dos eleitores à candidata oficial, que
pode contar com a maciça preferência dos votos dos beneficiários do programa em
apreço.
No
que tange à administração propriamente dita desse programa, já não há mais
dúvidas de que os controles governamentais são deficitários e preocupantes,
principalmente pela existência de beneficiários que não satisfazem os
requisitos legais exigidos para a renda mínima da família. Ocorre que não
somente o TCU, mas a Controladoria Geral da União, que integra o Executivo, na
qualidade de principal órgão de controle interno, já vem fazendo sérias
críticas à precária e deficiente aplicação dos recursos destinados ao programa
Bolsa Família, tendo apontado terríveis e inacreditáveis falhas no
cadastramento dos beneficiários, como a inclusão de políticos e servidores
públicos, inclusive familiares deles, comerciantes, empresários e outras
pessoas cujas rendas familiares são incompatíveis com as exigências legais
previstas no programa, entre outras mazelas oriundas da falta de controle e
fiscalização da incumbência do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome.
Não
obstante, não é novidade que o governo se insurja contra aqueles que ousem
contestar suas políticas, ainda mais na execução do Bolsa Família, que é a sua mina
de ouro, que não admite a mínima crítica, nem mesmo do principal órgão de
controle externo, que tem competência constitucional e legal para verificar a
regularidade das despesas realizadas não somente por esse programa, mas pelas
despesas públicas, podendo fazer as recomendações necessárias ao saneamento das
impropriedades constatadas, com vistas ao aperfeiçoamento do funcionamento dos
programas de governo, de modo a se evitarem desperdícios de recursos públicos,
que parece não ser exatamente esse o objetivo do governo, que demonstrou, com
suas infundadas e injustas críticas, total insatisfação às importantes
colaborações do TCU, que nada fez do que cumprir, com eficiência e eficácia, a
sua competência constitucional e legal de alertar os órgãos sobre os fatos
levantados no curso do seu trabalho de controle.
Convém
que a administração pública se consciente, com urgência, sobre a necessidade de
se aperfeiçoar e evoluir os mecanismos de controle interno da sua incumbência,
como forma de aprimorar a gestão pública, evitando injustas, estapafúrdias e
destemperadas críticas ao órgão de controle externo que tem o dever
constitucional e legal de zelar pela eficiência e eficácia da aplicação dos
recursos públicos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 08 de outubro de 2014
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