sábado, 11 de outubro de 2014

Prevalência de incúria

É lamentável que o governo demonstre enorme indignação contra o vazamento dos depoimentos do ex-diretor da Petrobras e do doleiro envolvidos na Operação Lava Jato, onde eles mostraram com irreparável competência e coerência a forma espúria do descaminho de recursos públicos para os cofres de partidos governistas, em especial o PT, PMDB e PP, inclusive dando detalhes sobre os percentuais das propinas para seus destinatários a ainda apontando alguns nomes, como o tesoureiro do PT. Todavia, a presidenciável não teve a idêntica firmeza para condenar a corrupção propriamente dita, que até podia não ser do seu conhecimento, mas era da sua obrigação moral ser incisiva em repudia ao caso em si, fato que evidencia total inversão de valores.
O governo probo e cônscio da sua relevante responsabilidade de representar importante nação como o Brasil teria o dever de saber, por seus próprios meios de apuração, os detalhes sobre as propinas e as falcatruas consistentes nos desvios de dinheiros da Petrobras, por meio de contratos com preços manipulados, com a finalidade da destinação de valores para partidos políticos, e não passar a conhecer sobre os fatos, de forma surpreendente, apenas pela divulgação dos depoimentos dos envolvidos pela imprensa.
O governo competente tem o dever constitucional de apurar na própria estatal a regularidade das contratações havidas, como forma de atestar a regularidade e a efetividade dos objetos contratados, mas, ao contrário disso, nenhuma medida foi adotada, no caso da estatal, em demonstração de inépcia, incúria e incompetência, possibilitando com isso enorme dano ao patrimônio da empresa.
No caso da Petrobras, é muito bom que os fatos tenham vindo o quanto antes ao conhecimento da sociedade, com bastante antecipação da eleição do segundo turno, com vistas a possibilitar melhor avaliação pelo povo sobre eles, para se saber se a população realmente quer promover efetiva faxina nas velhas e antiquadas práticas político-administrativas, que contribuíram para banalizar a corrupção na administração pública, com abrangência nas empresas estatais, a exemplo claro da empresa petrolífera, ou, ao contrário, se ela pretende tentar novo governo que possa vislumbrar novos horizontes, com a realização de abrangente assepsia da imundície que foi disseminada sem piedade na administração do país e se encontra encalacrada na gestão dos recursos públicos, de forma absolutamente deletéria.
Não é novidade alguma se ressaltar que o povo tem o governo que merece, porquanto, se ele, o povo, se satisfaz com as práticas comprovadamente degenerativas e prejudiciais aos interesses nacionais, como vem sendo gerenciado o país, não há dúvida de que ele deve dar seu apoio a esse governo que tem sido bastante pródigo e leniente com a corrupção e a impunidade, a exemplo, entre tantos, do famigerado escândalo do mensalão.
Os envolvidos no aludido esquema de corrupção, todos integrantes da cúpula petista, foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal, com base em robustas provas periciais, testemunhais e documentais, legalmente válidas, pelos crimes de corrupção ativa, corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro, mas a liderança petista, entre os quais a presidente da República e o ex-presidente da República petista, garante que o mensalão sequer existiu, sendo este o pensamento prevalecente no partido, que não teve a dignidade de punir os corruptos, com a expulsão de seus quadros, como previsto nas normas insculpidas no seu estatuto. Ao contrário de punição, os corruptos foram  exaltados e considerados verdadeiros heróis nacionais, por terem, certamente, praticado atos de "bravura" em benefício da agremiação, em cristalina demonstração de desprezo aos princípios da ética, da moralidade e do decoro, que devem imperar na administração pública.
Não há dúvida de que o país somente tem condições de se desenvolver social, política, econômica e democraticamente, se seu povo tiver sensibilidade e conscientização cívicas sobre a imperiosa necessidade da purificação das atividades político-administrativas, em que os governantes sejam obrigados a exercem os cargos públicos eletivos com a primacial e exclusiva finalidade de atender ao interesse público, em harmonia com os princípios da administração pública, firmados sob o primado da dignidade, probidade e honorabilidade, sem o que a nação, por certo, continuará acéfala e desgovernada, ficando à mercê dos corruptos e dos maus políticos, que somente têm projeto para a conquista do poder e da perenidade nele, com vistas ao usufruto das benesses para si e seus apaniguados, em verdadeiro conluio para a dilapidação do patrimônio da sociedade. Acorda, Brasil!
 
            ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
          Brasília, em 10 de outubro de 2014

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