Conforme reportagem publicada pelo jornal “Folha de
S.Paulo”, enquanto a candidata petista à reeleição anunciava, em seu programa
eleitoral, pacote de medidas contra a corrupção, a Controladoria Geral da
União, principal órgão de controle do governo federal, admitia que, desde 2011,
vêm sendo reduzidas suas ações de fiscalização, notadamente nas localidades
mais distantes do país.
O aludido órgão teve diminuídas suas ações de
combate ao desvio de recursos públicos, em especial no interior do país, em
virtude de o menor orçamento previsto dos últimos quatro anos não
possibilitarem deslocamentos de seus servidores para todo país, salvo para as
capitais, onde estão sendo concentradas as fiscalizações da sua alçada.
No corrente exercício, o órgão contabilizou a diminuição
do valor de R$ 7 milhões, com relação ao que foi inicialmente aprovado para
2013.
Por via de consequência, o órgão confirma significativa
redução dos trabalhos de fiscalização, nestes termos: "É possível notar que, ao longo dos últimos
três anos, há uma diminuição do número de ações de controle, principalmente as
decorrentes do Programa de Fiscalização por sorteios públicos. Tal diminuição é decorrente de restrições
orçamentárias e da redução da força de trabalho (ocorrida em função de
aposentadorias, vacâncias, etc.)". Essa avaliação teve por base os números
registrados nos três primeiros anos do atual governo.
Diante das seguidas restrições orçamentárias com
relação ao principal órgão de controle interno, ele se declara sem condições
materiais e pessoais de promover as fiscalizações da sua competência, que ainda
é obrigado a negociar, todos os anos, junto ao Ministério do Planejamento, a
liberação dos recursos pertinentes às suas atividades, sem mencionar as
tratativas para a autorização do pagamento do montante empenhado, que é a
despesa realizada comprometida sob a responsabilidade de o Estado pagar.
Segundo esse órgão, algumas áreas são mais
sacrificadas, a exemplo da Secretaria de Transparência e Prevenção da Corrupção
da CGU, que teve diminuição do valor orçado, da ordem de 41%, cujo reflexo foi
imediata na ineficácia no combate às fraudes.
Nos anos de 2011 a 2013, somente houve aumento dos
casos de acompanhamento da auditoria anual de contas, enquanto, nesse período,
as ações investigativas e o acompanhamento da execução dos programas de governo
caíram, respectivamente, 47% e 22%.
Diante desse quadro de terrível aperto orçamentário,
as ações de fiscalização por meio de sorteios de municípios também foram
reduzidas em 50%. O comparativo do resultado das ações realizadas mostra que o
impacto orçamentário não deixa dúvida do disparate dos controles realizados. Veja-se
que, em 2009, na gestão anterior, foram realizadas 5.173 ações, enquanto, em
2013, na atual administração, elas atingiram somente 1.000, ou seja, um pouco
de 19% em relação àquele ano.
O programa de fiscalização, que foi criado em 2003,
conseguiu analisar a aplicação de mais de R$ 30 bilhões repassados pelo governo
federal a estados e municípios. Desse valor, cerca de 20% das contas dos
municípios, no montante aproximado de R$ 4 bilhões, apresentaram problemas nas despesas,
ou seja, convém que os gastos sejam fiscalizados com maior abrangência, como
forma de prevenção das irregularidades.
Em conclusão, o órgão de controle interno disse que
foram reforçadas outras frentes de trabalho, mediante a fiscalização de ações
desenvolvidas em órgãos federais sediados nas capitais e que, "Nesse sentido, observa-se uma razoável
estabilidade no quantitativo de auditorias e fiscalizações decorrentes do
Acompanhamento da Execução de Programa de Governo, bem como um aumento no
volume das ações de controle na linha Avaliação da Gestão dos Administradores".
Como se pode perceber, sem o menor esforço, o
anúncio da candidata petista à reeleição não passa de falácia e de afirmações
que não condizem com a verdade, porquanto seu pacote de combate à corrupção não
se encontra respaldado em elementos consistentes, considerando que o controle
interno, no caso, a Controladoria Geral da União, foi descaracterizada quanto à
sua real destinação, exatamente pela falta de apoios financeiro, pessoal e
material, fato que impede que ele possa desempenhar, de forma eficiente, a
incumbência constitucional e legal de fiscalizar a execução orçamentária, notadamente
quanto à efetividade e legalidade da aplicação dos repasses realizados pelo
governo federal.
Por via de consequência, ante a frouxidão do
controle e da fiscalização, que deveriam ser exercidos com o rigor da lei, há
enorme facilitação para que os casos de corrupção aflorem e vicejem com
naturalidade no seio da administração pública, exatamente diante da evidente
fertilidade das condições favoráveis oferecidas às irregularidades pela
incompetência da administração do país.
Os fatos mostram, com muita clareza, que o Brasil
não é realmente um país sério e confiável, a exemplo de a sua mandatária dizer,
em programa eleitoral na televisão, que seu governo combate com firmeza a
corrupção, enquanto, quase no mesmo instante ou logo em seguida, seu principal
órgão responsável pelo controle e pela fiscalização dos gastos públicos declarar,
com argumentos consistentes, não ter, na prática, condições de fiscalizar a
execução do orçamento, em razão da drástica redução de valores da dotação
destinada às suas atividades fins, que impede a realização de auditorias fora
das capitais.
Ou seja, conforme o discurso do governo ou da
candidata à reeleição, o controle funciona às mil maravilhas, mas, no batente
mesmo, os constantes casos de corrupção confirmam a robusteza da deficiência de
fiscalização da competência constitucional e legal do governo, tanto na
administração direta como na administração indireta, como no caso da Petrobras,
dando a entender, à toda evidência, que há leniência com as irregularidades,
exatamente pela deficiência da estrutura de controle, que padece do adequado
apoio para exercício, com competência e eficiência, da fiscalização da sua
alçada.
Nesse caso, fica patente que há cumplicidade com a
corrupção, por não serem adotadas as medidas imprescindíveis ao cumprimento, na
plenitude, do controle dos gastos públicos e, por via de consequência, por não possibilitar
o efetivo combate à maligna e cancerosa corrupção, que vem dilapidando o
patrimônio dos brasileiros, cujos alastramento e incidência no serviço público,
de forma sistêmica e incontrolável, ainda exige enormes esforços financeiro e
material para sua investigação, na tentativa da reparação dos danos causados ao
patrimônio público e do saneamento dos desacertos prejudiciais ao interesse nacional.
Na verdade, essa é mais uma esdrúxula situação em que o governo diz que adota determinado procedimento, quando, na prática, a realidade é exatamente o contrário, como no caso em comento, com a revelação de que o controle interno da administração pública não tem recursos suficientes para cumprir, com eficiência, competência e dignidade, a sua missão constitucional e legal, permitindo maior incidência dos casos de corrupção e de irregularidades com recursos públicos.
A sociedade tem o dever cívico de avaliar, de forma
consciente e responsável, se convém que o país continue sendo administrado sob
permanente risco da incidência de irregularidades e corrupções, diante da
fragilidade dos controles de incumbência do Estado, que possibilita a persecução
de seguidos desvios de recursos públicos, quando o governo responsável será
capaz de estruturar a administração pública com mecanismos competentes de
controle e fiscalização, de modo a se evitar a dilapidação do patrimônio dos
brasileiros. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 06 de outubro de 2014
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