Conforme
reportagem da revista "Veja", o ex-diretor de Abastecimento da
Petrobras, que se encontra preso, teria afirmado que ele foi procurado por um
então coordenador da campanha presidencial do PT, em 2010, com especial pedido
de colaboração para o comitê da candidata petista, no valor de R$ 2 milhões.
As
denúncias vazadas pela imprensa teriam sido feitas para a Justiça, no âmbito das
informações com vistas à obtenção do benefício da delação premiada - quando um
investigado colabora com a Justiça em troca de redução de eventual pena
condenatória. A investigação foi deflagrada no âmbito da operação Lava-Jato, da
Polícia Federal.
A
candidata petista à reeleição à Presidência da República não teve dúvida de classificar
como “factoide” a denúncia segundo a qual a sua campanha teria recebido,
recursos desviados da Petrobras, mediante facilitações de ex-diretores da
empresa. Na avaliação dela, trata-se de “Factoide
esse que a revista 'Veja' costuma colocar nas suas páginas nas vésperas da
eleição. A minha campanha tinha um tesoureiro, que é o ex-deputado José di
Filipi. Foi ele quem apresentou as minhas contas para o TSE (Tribunal Superior
Eleitoral), assinou-as, arrecadou,
prestou contas e teve as contas aprovadas. O resto é factoide pré-eleitoral”.
Na
verdade, factoide mesmo combina muito mais com a maneira leviana como o governo
tenta se antecipar aos resultados das apurações, para dar informações nada
consistentes, com a finalidade de amenizar o impacto do peso da denúncia contra
seus malfeitos, como nesse caso, que representa malversação de recursos
públicos destinados à campanha da candidata oficial e isso caracteriza crime
eleitoral, passível de punição aos envolvidos.
Como
se trata da constatação de tramoia engendrada por pessoas do governo, mais
precisamente da campanha dela, a candidata petista procura pôr panos quentes no
caso, para que o escândalo não reflita na sua pouco decente campanha, que já foi
capaz de trucidar, de forma nada republicana, a reputação da candidatura da
ex-senadora, com absurdas acusações que tiveram o condão de distorcer a
realidade dos fatos e jogá-la do patamar confortável para posição
desesperadora, a ponto de sequer ter condições de disputar o segundo turno
contra a própria candidata petista.
O
caso em comento não se trata nada de factoide, mas sim de revelação sobre fatos
verídicos e incontestáveis, que serão facilmente comprováveis com a devida
investigação, que nunca são facilitadas nos meandros do governo, que tudo blinda
para não haver apuração de nada, a exemplo das CPIs da Petrobras do Congresso
Nacional, que foram instaladas há meses, mas se encontram absolutamente
paradas, justamente para que os podres e as sujeiras não venham à tona antes da
eleição, porquanto seus resultados seriam capazes de detonar a candidatura
petista.
É
inacreditável como ainda têm pessoas insensatas que acreditam na seriedade
desse governo e defendem suas práticas deletérias ao interesse nacional e ao
respeito aos princípios da ética, moralidade, legalidade e transparência na administração
pública.
Quando se
trata de acusação grave contra o governo, com força capaz de evidenciar a desmoralização
dos princípios da seriedade e da dignidade que devem imperar nas atividades
político-administrativas, a candidata oficial simplesmente reduz a importância
do fato a simples episódio e ainda o classifica como mero "factoide",
como se a transformação de uma irregularidade, por incompetência dos órgãos de
controle e fiscalização, tivesse o condão de reparar as notórias ilegalidades e
também como se a opinião pública não tivesse a mínima capacidade de avaliação
sobre a significância das fraudes com recursos públicos.
Não há
dúvida de que a defesa do indefensável somente evidencia a falta de dignidade
na gestão dos recursos públicos, os quais deveriam ser aplicados sob a rígida
observância às normas da administração orçamentária e financeira.
Agora,
não deixa de ser estranho que ainda tenha eleitor que considere normal essa
forma de aplicação do dinheiro dos bestas dos contribuintes, em total desvio de
finalidades, os quais aceitam passivamente explicações inverossímeis sobre a
verdade dos fatos.
Acredita-se
que nem nas republiquetas os governos utilizam verbas públicas para o custeio
de campanhas eleitorais, porque isso significa tão somente falta de dignidade
da gestão pública, por faltarem recursos para a realização de programas
essenciais.
Certamente
que, com essa mentalidade de desvio de finalidade, o país nunca terá condições
de ser respeitado como nação séria e digna, eis que seus exemplos são de
envergonhar qualquer administração medíocre, que tem a capacidade de considerar
como factoide assunto de extrema importância para legitimar o uso do dinheiro
dos cidadãos. Diante desse fato lamentável, é recomendável que haja, no país,
verdadeiro choque de moralização nas atividades político-administrativas, para
que as futuras gerações possam viver no país digno e respeitado, pela seriedade
e decência ínsitas dos representantes da sociedade, responsáveis pela
dignificação dos princípios fundamentais da democracia e da administração
pública. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 02 de outubro de 2014
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