sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Factoide ou fato comprovável?

Conforme reportagem da revista "Veja", o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, que se encontra preso, teria afirmado que ele foi procurado por um então coordenador da campanha presidencial do PT, em 2010, com especial pedido de colaboração para o comitê da candidata petista, no valor de R$ 2 milhões.
As denúncias vazadas pela imprensa teriam sido feitas para a Justiça, no âmbito das informações com vistas à obtenção do benefício da delação premiada - quando um investigado colabora com a Justiça em troca de redução de eventual pena condenatória. A investigação foi deflagrada no âmbito da operação Lava-Jato, da Polícia Federal.
A candidata petista à reeleição à Presidência da República não teve dúvida de classificar como “factoide” a denúncia segundo a qual a sua campanha teria recebido, recursos desviados da Petrobras, mediante facilitações de ex-diretores da empresa. Na avaliação dela, trata-se de “Factoide esse que a revista 'Veja' costuma colocar nas suas páginas nas vésperas da eleição. A minha campanha tinha um tesoureiro, que é o ex-deputado José di Filipi. Foi ele quem apresentou as minhas contas para o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), assinou-as, arrecadou, prestou contas e teve as contas aprovadas. O resto é factoide pré-eleitoral”.
Na verdade, factoide mesmo combina muito mais com a maneira leviana como o governo tenta se antecipar aos resultados das apurações, para dar informações nada consistentes, com a finalidade de amenizar o impacto do peso da denúncia contra seus malfeitos, como nesse caso, que representa malversação de recursos públicos destinados à campanha da candidata oficial e isso caracteriza crime eleitoral, passível de punição aos envolvidos.
Como se trata da constatação de tramoia engendrada por pessoas do governo, mais precisamente da campanha dela, a candidata petista procura pôr panos quentes no caso, para que o escândalo não reflita na sua pouco decente campanha, que já foi capaz de trucidar, de forma nada republicana, a reputação da candidatura da ex-senadora, com absurdas acusações que tiveram o condão de distorcer a realidade dos fatos e jogá-la do patamar confortável para posição desesperadora, a ponto de sequer ter condições de disputar o segundo turno contra a própria candidata petista. 
O caso em comento não se trata nada de factoide, mas sim de revelação sobre fatos verídicos e incontestáveis, que serão facilmente comprováveis com a devida investigação, que nunca são facilitadas nos meandros do governo, que tudo blinda para não haver apuração de nada, a exemplo das CPIs da Petrobras do Congresso Nacional, que foram instaladas há meses, mas se encontram absolutamente paradas, justamente para que os podres e as sujeiras não venham à tona antes da eleição, porquanto seus resultados seriam capazes de detonar a candidatura petista.
É inacreditável como ainda têm pessoas insensatas que acreditam na seriedade desse governo e defendem suas práticas deletérias ao interesse nacional e ao respeito aos princípios da ética, moralidade, legalidade e transparência na administração pública.
Quando se trata de acusação grave contra o governo, com força capaz de evidenciar a desmoralização dos princípios da seriedade e da dignidade que devem imperar nas atividades político-administrativas, a candidata oficial simplesmente reduz a importância do fato a simples episódio e ainda o classifica como mero "factoide", como se a transformação de uma irregularidade, por incompetência dos órgãos de controle e fiscalização, tivesse o condão de reparar as notórias ilegalidades e também como se a opinião pública não tivesse a mínima capacidade de avaliação sobre a significância das fraudes com recursos públicos.
Não há dúvida de que a defesa do indefensável somente evidencia a falta de dignidade na gestão dos recursos públicos, os quais deveriam ser aplicados sob a rígida observância às normas da administração orçamentária e financeira.
Agora, não deixa de ser estranho que ainda tenha eleitor que considere normal essa forma de aplicação do dinheiro dos bestas dos contribuintes, em total desvio de finalidades, os quais aceitam passivamente explicações inverossímeis sobre a verdade dos fatos.
Acredita-se que nem nas republiquetas os governos utilizam verbas públicas para o custeio de campanhas eleitorais, porque isso significa tão somente falta de dignidade da gestão pública, por faltarem recursos para a realização de programas essenciais.
Certamente que, com essa mentalidade de desvio de finalidade, o país nunca terá condições de ser respeitado como nação séria e digna, eis que seus exemplos são de envergonhar qualquer administração medíocre, que tem a capacidade de considerar como factoide assunto de extrema importância para legitimar o uso do dinheiro dos cidadãos. Diante desse fato lamentável, é recomendável que haja, no país, verdadeiro choque de moralização nas atividades político-administrativas, para que as futuras gerações possam viver no país digno e respeitado, pela seriedade e decência ínsitas dos representantes da sociedade, responsáveis pela dignificação dos princípios fundamentais da democracia e da administração pública. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 02 de outubro de 2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário