domingo, 19 de outubro de 2014

A indelével mácula

A candidata à reeleição petista reconheceu, finalmente, que houve desvio de recursos públicos da Petrobras, tende admitido que as propinas na estatal são realidade incontestável.  Ela sentenciou, em resposta a uma indagação de jornalista que “Se houve desvio, queremos de volta. Se houve, não. Houve, viu?! E concluiu dizendo mais que irá tomar "todas as medidas para ressarcir tudo e todos".
Até então, a petista negava que não havia essa da destinação, como propina, de valores de contratos da Petrobras, no percentual de 3% do total, para os partidos PT, PP e PMDB, que indicavam os operadores do indigno esquema de corrupção, que abasteceu o caixa da campanha da presidente em 2010, fato que é mais do que suficiente para macular o cargo de presidente da República, que ela ocupa.
Na verdade, a repentina mudança de tom sobre o desvio de recursos públicos da Petrobras teria ocorrido somente por causa da possível tentativa de reverter, na última semana de campanha, o quadro de descrédito e de desconfiança impregnado na candidatura oficial, cujos caciques petistas resistiam, como coerência ideológica, em reconhecer a crueldade e a atrocidade operadas no patrimônio da estatal, exatamente na malsinada gestão deletéria petista.
À toda evidência, trata-se de mais uma jogada de marqueteiro, meramente estratégica e maquiavélica, com a finalidade visivelmente eleitoreira, como forma de se pretender neutralizar as terríveis dificuldades que a presidenciável vem demonstrando para se desvencilhar dos justos ataques sobre corrupção no seu governo, em especial nos debates eleitorais, onde ela fica visivelmente incomodada em ter que encarar, perante os telespectadores ávidos, as fortes e precisas acusações sobre a banalização da corrupção no governo dela.
Para que a petista seja mais justa e coerente com este último discurso de admitir a patifaria no patrimônio da estatal, ela poderia aproveitar o ensejo para reconhecer os demais casos de corrupção no governo petista, em especial do famigerado mensalão, que ainda vem sendo contestado por ela e pela cúpula do partido dela, embora a Excelsa Corte de Justiça do país tenha chancelado o caso como vergonhosa quadrilha, que teria sido instalada para desviar recursos públicos para a compra de votos de inescrupulosos parlamentares.
Sem dúvida, o discurso se encaixa perfeitamente no clássico momento oportunista, por ser mais uma confissão eleitoreira da candidata petista, confirmando a sua falta de ética, por ter negado com insistência o ocorrido, mas, de forma inesperada, somente admitindo agora a roubalheira no seu governo depois de ter assumido implicitamente a existência de esculhambação na Petrobras a partir do momento que teria se aproveitado da revelação do ex-diretor da estatal de que um peessedebista ilustre teria sido beneficiado com propina da empresa, ao perceber, portanto, que teria caído na esparrela por ter acossado o candidato tucano sobre o assunto.
Em tese, a petista jamais teria reconhecido a grave culpa do seu governo pelas irregularidades na Petrobras se não houvesse a gigante e insuportável fritura do candidato da oposição sobre o affaire, que tem insistido, com muita propriedade, em afirmar que ladroagem aos cofres públicos significa crime grave, passível de punição aos envolvidos.
Contudo, a admissão da presidente sobre o propinoduto da Petrobras já vem tarde demais, porque a deformação administrativa já ultrapassou os muros do Palácio do Planalto há muito tempo e todo mundo sabe que esse governo foi incapaz de controlar a gestão dos recursos públicos também nas empresas estatais, permitindo que as corrupções fossem deflagradas sem surpresa e de forma quase sistêmica, contaminando a um só tempo o pulmão e o coração da administração pública, que foi afetada letalmente pela contaminação do pior câncer que os órgãos públicos podem sentir, que aquele causado pela instigante e nefasta corrupção, porque o mal atinge exatamente o ponto nevrálgico do funcionamento da máquina pública, uma vez que as fraudes com verbas públicas tiveram o condão de refletir na diminuição da já péssima prestação dos serviços públicos, além de contribuir para a drástica redução dos investimentos em obras públicas.
O candidato da oposição tem que ter a sabedoria de explorar, de forma estratégica, mais esse ponto fraco da petista que somente depois de relutar terrivelmente e na iminência de ficar defendendo o indefensável, resolveu reconhecer o que todos não tinham dúvida de que o governo dela fracassou redondamente também no controle das despesas públicas, quanto à verificação da efetividade e do atendimento das finalidades públicas, fato que mostra cabais despreparo gerencial e incapacidade de zelar com segurança e controle o enorme patrimônio do povo brasileiro.
O candidato tucano não pode, agora, arriar a bandeira que vem empunhando com relação às acusações sobre as bandalheiras na Petrobras e, de resto, na administração pública, em razão da súbita admissão do fato por sua opositora, sob pena de fragilizar seu discurso acerca da necessidade de urgente moralização dos princípios ético, de dignidade e de honestidade na gestão dos recursos públicos, que foram desprezados no atual governo, conforme ele próprio admite, na pessoa da principal autoridade do país, seu indiscutível erro, neste momento crucial da campanha eleitoral.
Importa lembrar que reconhecimento de incompetência gerencial não abona a existência de fragilidade dos sistemas de controle, acompanhamento e fiscalização sobre a aplicação dos recursos públicos, que já deveriam ter sido implantados, sob pena de muito proximamente, caso haja a continuidade do governo, surgirem novas irregularidades com gravidade, ante a persistência do despreparo e da incompetência quanto à gestão do patrimônio da sociedade.
Os brasileiros precisam perceber que a repentina mudança do pensamento presidencial sobre a rapinagem apenas na estatal petrolífera, porque outras tantas irregularidades ainda não foram reconhecidas, não passa de mais um golpe baixo protagonizado pela candidata petista, que não teve a humildade de reconhecer a gravidade da roubalheira tão logo os fatos foram denunciados e vieram à tona, o que mostra falta da dignidade que o homem público precisa ter para administrar o país como o Brasil, que é muito grande, compatível com verdadeiro continente, mas os governantes ainda não se conscientizaram sobre a dimensão da responsabilidade que precisam ter para não comprometer a credibilidade e a moralidade que são princípios fundamentais e inalienáveis do governante competente. Acorda, Brasil!
 
         ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
         Brasília, em 19 de outubro de 2014

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