Os
programas eleitorais dos presidenciáveis tucano e petista veicularam, no rádio,
trechos em que um lado acusa o outro de intimidar a imprensa, contrariando visceralmente
os objetivos específicos da propaganda eleitoral, ou seja, nesse programa,
somente deveria lugar para o detalhamento dos projetos e das atividades de
governo.
A
propaganda do senador mineiro ressalta, com destaque, o que foi denominada de
"lista negra" de jornalistas elaborada pelo PT, onde consta alusão a artigo
da lavra do vice-presidente petista, publicado no site do PT em junho/2014, sob
o título "a desmoralização dos
pitbulls da grande mídia".
Na
aludida lista o petista menciona nomes de jornalistas e blogueiros, na
tentativa de intimidá-los a não fazerem apreciação sobre os fatos protagonizados
por governos petistas, possivelmente por estes serem considerados imunes às
críticas e às avaliações da sociedade, em completa contraposição aos saudáveis
princípios democrático e da transparência.
Constitui
verdadeiro absurdo alguém se julgar no direito de considerar os atos da administração
pública acima de crítica, avaliação e ponderação, por não se admitir que eles
nunca possam ultrapassar os limites da legitimidade.
Não
fosse a diligente atuação da imprensa, provavelmente os escândalos sistêmicos e
endêmicos de corrupções na administração pública não teriam sequer seguimento,
quanto mais os resultados que teve o famigerado mensalão, cujos envolvidos,
integrados por alguns líderes da cúpula petista, foram julgados pela Excelsa
Corte de Justiça pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro, corrupção ativa
e corrupção passiva, com base nas robustas provas materiais, notadamente
auditorias, perícias, depoimentos testemunhais e outras legalmente válidas.
Por
sua vez, sem a imprensa, não teriam a estrondosa repercussão que estão tendo as
indecentes e graves irregularidades e corrupções desencadeadas criminosamente na
Petrobras, que tiveram o condão de dilapidar o patrimônio da empresa, com
desvio de recursos para partidos políticos do governo e de outros da base de
sua sustentação, por força das espúrias coalizões de governabilidade.
No
programa do tucano, o comentarista político se refere à lista petista
insinuando que "Se eu der a minha
opinião completa sobre o que eu acho desta campanha de mentiras feita pelo PT,
eles certamente vão me colocar na lista negra. Já fizeram uma com jornalistas
e, para tentar intimidar a imprensa, publicaram no próprio site do PT",
dando a entender que o partido governista não suporta ouvir críticas sobre a
sua atuação, salvo se ela tiver por finalidade elogiá-la, fato que tem sido
muito difícil na atualidade, ante as precariedades que rondam e infernizam a
agremiação, notadamente no que refere às denúncias de corrupção e aos
desastrosos desempenhos da economia, onde o Produto Interno Bruto evidencia que
o crescimento do país se aproxima de zero, ou seja, nada de crescimento;
descontroles das taxas de juros, da inflação, das contas públicas e das dívidas
públicas; precariedades da prestação dos serviços públicos; falta de
investimentos em obras de impacto; deficiência no funcionamento da máquina
pública, em virtude do vergonhoso loteamento de ministérios e empresas públicas
entre os partidos da base de sustentação do governo, em troca de alguns minutos
no horário eleitoral; entre tantas deformidades administrativas, em evidente
prejuízo ao interesse público, cujos contribuintes, mesmo diante das
fragilidades da gestão do país, são compelidos ao ônus de pesados tributos.
Já
no programa da petista, as críticas se referem à forma como o tucano se
relacionava com a imprensa quando governava Minas Gerais. Em reforço à acusação
petista, foi colocada no ar entrevista da ex-presidente do Sindicato de Jornalistas
do estado, que afirmou: "Tudo que
desagradava ao governo Aécio era, assim, como no tempo da ditadura. Era um
telefonema e o repórter, o jornalista, em qualquer posto, estava ameaçado de
perder o seu emprego porque contrariou o desejo dos tucanos".
Em
ambos os casos, os procedimentos são absolutamente são passíveis de condenação e
repúdio pela sociedade, por haver neles clara intenção de calar a voz que age
em nome do povo, denunciando os malfeitos e as falcatruas normalmente
envolvendo a administração pública, como nos episódios mostrados nos programas
eleitorais, que não deveriam tratar de matéria dessa natureza, caso os
governantes e os homens públicos tivessem a sensibilidade e o bom senso de
compreenderem a nobre missão de informar e de mostrar os casos fora da curva na
gestão dos recursos públicos, ou seja, as irregularidades.
A troca
de acusações sobre censuras e ameaças a jornalistas e blogueiros e as próprias
medidas de repressão somente demonstram a necessidade de urgente evolução dos
princípios de civilidade e de bom senso, uma vez que essa forma medíocre de se
relacionar com a liberdade de expressão não condiz com os avanços e as
conquistas da humanidade, que propiciaram às pessoas o usufruto do direito de
se manifestar de forma ampla, geral e irrestrita, em harmonia com a modernidade
atual, que acenam para o entendimento e o bom relacionamento entre os
semelhantes, que devem se posicionar em perfeita harmonia com as boas condutas
de plenas liberdades. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 15 de outubro de 2014
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