quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Repudiáveis censuras

Os programas eleitorais dos presidenciáveis tucano e petista veicularam, no rádio, trechos em que um lado acusa o outro de intimidar a imprensa, contrariando visceralmente os objetivos específicos da propaganda eleitoral, ou seja, nesse programa, somente deveria lugar para o detalhamento dos projetos e das atividades de governo.
A propaganda do senador mineiro ressalta, com destaque, o que foi denominada de "lista negra" de jornalistas elaborada pelo PT, onde consta alusão a artigo da lavra do vice-presidente petista, publicado no site do PT em junho/2014, sob o título "a desmoralização dos pitbulls da grande mídia".
Na aludida lista o petista menciona nomes de jornalistas e blogueiros, na tentativa de intimidá-los a não fazerem apreciação sobre os fatos protagonizados por governos petistas, possivelmente por estes serem considerados imunes às críticas e às avaliações da sociedade, em completa contraposição aos saudáveis princípios democrático e da transparência.
Constitui verdadeiro absurdo alguém se julgar no direito de considerar os atos da administração pública acima de crítica, avaliação e ponderação, por não se admitir que eles nunca possam ultrapassar os limites da legitimidade.
Não fosse a diligente atuação da imprensa, provavelmente os escândalos sistêmicos e endêmicos de corrupções na administração pública não teriam sequer seguimento, quanto mais os resultados que teve o famigerado mensalão, cujos envolvidos, integrados por alguns líderes da cúpula petista, foram julgados pela Excelsa Corte de Justiça pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e corrupção passiva, com base nas robustas provas materiais, notadamente auditorias, perícias, depoimentos testemunhais e outras legalmente válidas.
Por sua vez, sem a imprensa, não teriam a estrondosa repercussão que estão tendo as indecentes e graves irregularidades e corrupções desencadeadas criminosamente na Petrobras, que tiveram o condão de dilapidar o patrimônio da empresa, com desvio de recursos para partidos políticos do governo e de outros da base de sua sustentação, por força das espúrias coalizões de governabilidade.
No programa do tucano, o comentarista político se refere à lista petista insinuando que "Se eu der a minha opinião completa sobre o que eu acho desta campanha de mentiras feita pelo PT, eles certamente vão me colocar na lista negra. Já fizeram uma com jornalistas e, para tentar intimidar a imprensa, publicaram no próprio site do PT", dando a entender que o partido governista não suporta ouvir críticas sobre a sua atuação, salvo se ela tiver por finalidade elogiá-la, fato que tem sido muito difícil na atualidade, ante as precariedades que rondam e infernizam a agremiação, notadamente no que refere às denúncias de corrupção e aos desastrosos desempenhos da economia, onde o Produto Interno Bruto evidencia que o crescimento do país se aproxima de zero, ou seja, nada de crescimento; descontroles das taxas de juros, da inflação, das contas públicas e das dívidas públicas; precariedades da prestação dos serviços públicos; falta de investimentos em obras de impacto; deficiência no funcionamento da máquina pública, em virtude do vergonhoso loteamento de ministérios e empresas públicas entre os partidos da base de sustentação do governo, em troca de alguns minutos no horário eleitoral; entre tantas deformidades administrativas, em evidente prejuízo ao interesse público, cujos contribuintes, mesmo diante das fragilidades da gestão do país, são compelidos ao ônus de pesados tributos.  
Já no programa da petista, as críticas se referem à forma como o tucano se relacionava com a imprensa quando governava Minas Gerais. Em reforço à acusação petista, foi colocada no ar entrevista da ex-presidente do Sindicato de Jornalistas do estado, que afirmou: "Tudo que desagradava ao governo Aécio era, assim, como no tempo da ditadura. Era um telefonema e o repórter, o jornalista, em qualquer posto, estava ameaçado de perder o seu emprego porque contrariou o desejo dos tucanos".
Em ambos os casos, os procedimentos são absolutamente são passíveis de condenação e repúdio pela sociedade, por haver neles clara intenção de calar a voz que age em nome do povo, denunciando os malfeitos e as falcatruas normalmente envolvendo a administração pública, como nos episódios mostrados nos programas eleitorais, que não deveriam tratar de matéria dessa natureza, caso os governantes e os homens públicos tivessem a sensibilidade e o bom senso de compreenderem a nobre missão de informar e de mostrar os casos fora da curva na gestão dos recursos públicos, ou seja, as irregularidades.
A troca de acusações sobre censuras e ameaças a jornalistas e blogueiros e as próprias medidas de repressão somente demonstram a necessidade de urgente evolução dos princípios de civilidade e de bom senso, uma vez que essa forma medíocre de se relacionar com a liberdade de expressão não condiz com os avanços e as conquistas da humanidade, que propiciaram às pessoas o usufruto do direito de se manifestar de forma ampla, geral e irrestrita, em harmonia com a modernidade atual, que acenam para o entendimento e o bom relacionamento entre os semelhantes, que devem se posicionar em perfeita harmonia com as boas condutas de plenas liberdades. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 15 de outubro de 2014

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