A
Justiça Federal do Paraná divulgou áudios dos depoimentos do ex-dirigente da Petrobras
e do doleiro que se encontram presos e celebraram acordos de delação premiada
para contarem a versão sobre o escândalo da corrupção com dinheiros da estatal,
conforme os fatos levantados pela Operação Lava Jato. Nos depoimentos, os
citados envolvidos nesse imbróglio confirmaram que propinas pagas por
empreiteiras abasteciam partidos governistas, em especial o PT, PMDB e PP.
Diante
desses fatos, a candidata petista à reeleição, demonstrando extrema indignação,
classificou como "muito estranho e
muito estarrecedor" a Justiça ter autorizado a divulgação para a imprensa
do teor dos aludidos depoimentos, em plena campanha eleitoral, que ela é uma
das principais interessadas.
A
presidenciável considerou "incorreto
divulgar parcialmente" o conteúdo dos depoimentos no momento de
efervescência da disputa ao Planalto, tendo destacado que foi ela quem demitiu o
ex-diretor, em 2012, e faz questão que as denúncias objeto dos depoimentos em
causa sejam investigadas com o devido "rigor".
A
petista disse que "Tive todo
interesse em ter acesso a isso (depoimentos do processo da Operação Lava
Jato) para tomar as medidas cabíveis.
Sei, por informação do Ministério Público Federal e do Supremo Tribunal
Federal, que essas informações ainda estão sob sigilo. Então, eu acho muito
estranho e muito estarrecedor que, no meio de uma campanha eleitoral, façam
esse tipo de divulgação".
A
presidente do país afirmou que "o
país todo foi surpreendido" com a divulgação dos depoimentos em apreço
à Justiça Federal, embora ela entenda que qualquer denúncia de corrupção deva
ser acompanhada de provas, porque a "impunidade
começa quando faz a acusação e na hora da prova ela não se mantém. Estou defendendo que, quando se acusar as
pessoas, é fundamental a prova estar bem feita, é fundamental que a Justiça
cuide deste processo. O que me faz achar muito questionável é o fato de se
apresentar parte da prova ou parte dos depoimentos".
Não
é correto se dizer que o país foi surpreendido com a divulgação dos mencionados
depoimentos, porque os fatos pertinentes às irregularidades e às fraudes nas
contratações da estatal petroleira já eram do conhecimento da sociedade, não
com os detalhes sobre a participação dos partidos governistas nos dinheiros
sujos desviados, que agora vieram a público.
As
colocações da candidata petista evidenciam mais uma estrondosa incoerência dela,
que, a par de reclamar e estrebuchar ante a divulgação dos depoimentos sobre a
alarmante corrupção na sua gestão, logo em seguida, se enche de entusiasmo para
dizer que faz questão que as denúncias sejam investigadas. Contudo, a sua
indignação se volta pesadamente sobre a citada divulgação, que não convém aos
seus planos de manter rígido controle sobre o sigilo com relação aos fatos
irregulares no seu governo, que, à toda evidência, não podem mais ficar sob o
domínio da burocracia da Justiça, porque isso não condiz com o salutar
princípio da transparência, que deve funcionar como forma de prestação de
contas à sociedade dos atos administrativos, que não pode deixar de primar com exclusividade
pela regularidade.
Enfim, a
presidente do país não se cansa de proclamar a sua indiscutível vocação para
mandar investigar os “malfeitos” no seu governo, ressaltando que nunca varreu sujeira
para debaixo do tapete. Todavia, esses atributos presidenciais têm o condão de
conspirar contra a gestão da petista, de forma mais depreciativa e degradante possíveis,
conquanto a comprovação de eficiência e de competência do administrador público
transparece exatamente pela inexistência de irregularidades e de corrupções,
não sendo necessário, por via de consequência, o despendimento de esforços
material e financeiro para se apurar irregularidades, cujos recursos seriam
aplicados em beneficio da sociedade.
No
Estado Democrático de Direito, é induvidoso que somente quem não tem
compromisso com a verdade, a correção e a legitimidade dos atos administrativos
podem se julgar no direito de considerar incorreta a divulgação dos depoimentos
em comento, em que pese o momento eleitoral, porque a transparência é exigência
fundamental em qualquer ocasião, importando apenas a satisfação dos interesses nacionais,
com embargo de causas pessoais e partidárias.
O certo é
que as corrupções que desviaram bastante dinheiro da Petrobras não somente
estarrecem e indignam a sociedade, mas, sobretudo, são capazes de desmoralizar
e desacreditar completamente a administração do país, que deveria ser afastada
durante o período das investigações, ante a evidente perda de credibilidade
moral e de confiança para comandar os altos negócios da nação.
Compete à
sociedade, no âmbito da sua responsabilidade cívica e patriótica, avaliar a
gravidade dos fatos relacionados com a corrupção sistêmica na Petrobras, de
modo a se exigir que os envolvidos nesse terrível episódio sejam punidos na forma da lei e que o país seja governado
por estadista com competência não para ficar permanentemente mandando apurar os
casos de corrupção na administração pública, mas sim para adotar efetivas
providências de controles, com vistas a se evitarem as constantes irregularidades
com recursos dos brasileiros. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 10 de outubro de 2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário