"Trata-se de um pássaro de bela plumagem e
cores fulgurantes que voa sobre as cabeças, incitando a agarrá-lo. Quando
alguém ergue as mãos e o pega, só fica nas mãos um montão de excremento."
Sergio Ramírez, notável escritor nicaraguense
Diante
da montanha de denúncias de corrupção na Petrobras, objeto das investigações da
Operação Lava-Jato, que vem revelando intermináveis podridões nos porões da
estatal, que levou de roldão a credibilidade da administração do país, o
ex-presidente da República petista divulgou, tempos atrás, vídeo na internet,
no qual afirma que uma das lições deixadas pela última eleição foi que "o povo quer mais ética", tendo
aconselhado a presidente petista a assimilar o recado das urnas e "continuar" o combate à corrupção,
se quiser fazer mandato "histórico".
No
vídeo, o petista afirma que "A lição
que ficou foi a seguinte: o povo quer mais democracia, mais participação, mais
esperança, mais ética. O povo quer ser mais ouvido e continuar sonhando. Essa é
a mensagem que a presidenta Dilma deve assimilar do resultado eleitoral e fazer
do seu mandato um mandato histórico. Ou seja, o povo está mais exigente, o povo
quer mais".
Amparados
em resultados de pesquisas qualitativas, os petistas estão cientes de que as
seguidas denúncias de corrupção envolvendo o governo e o PT são as principais
causas do antipetismo que tomou conta dos brasileiros, motivando a iniciativa
de discurso apropriado para reverter este quadro.
Além
do dever de "continuar" a política de combate à corrupção, o petista
entende que também é importante a transparência das ações do governo, para
investigar e punir os responsáveis por desvios de dinheiros públicos.
O
ex-presidente pede também que a sua sucessora dialogue com a sociedade, por
considerar que a falta de disposição dela para conversar com os políticos,
movimentos sociais e empresários foi um dos principais alvos de suas críticas
no primeiro mandato da presidente.
Ele
asseverou que "Nós devemos conversar
sempre com o povo no sentido de fazer com que nada seja escondido. Continuar a
política forte de combate à corrupção onde toda e qualquer coisa deve ser dita
e tem que ser dita porque um governo não pode esconder nada".
O
petista ressaltou que hoje, com a ampliação do acesso à internet, grande parte
da população tem mais acesso às informações sobre o que acontece nos governos e
nos partidos políticos, possibilitando maior conhecimento sobre a atuação e o
desempeno da gestão pública, ou seja, "O
povo está sabendo mais das coisas, está acompanhando mais o processo de
desenvolvimento de um governo ou de um partido político", disse ele.
À
toda evidência, as palavras do principal líder petista não passam de gritos no
vácuo, de afirmações ao vento, justamente por serem meras afirmações da boca
para fora, considerando que, na prática, as ações do governo não existem com
relação ao combate à corrupção, à punição aos corruptos e muito menos à conexão
dele com absolutamente ninguém, para tratar da governança do país, como
pretendido pelo cacique petista.
De
igual modo é a continuidade da falta de transparência sobre as ações da
administração do país, que, como é mais do que notório, o governo gasta
montanhas de recursos em marketing e publicidade com o absoluto propósito de
promover a imagem da presidente, porquanto as políticas públicas permanecem
esvaindo em precariedades quanto à prestação dos serviços públicos, padecendo
da falta de qualidade e pior ainda da efetividade, à vista da completa
insatisfação do povo, que não suporta tanto descaso com relação à priorização
das ações do governo para solucionar as mazelas que grassam no país.
Por
seu turno chega a ser risível a expressão do petista de que "Nós devemos conversar sempre com o povo no
sentido de fazer com que nada seja escondido...”, porque isso contradiz o
modelo adotado na campanha eleitoral, quando foram omitidos do eleitorado o
resultado do estudo elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), pertinente à evolução da miséria extrema, e tantas informações de
governo que teriam sido prejudiciais à candidata oficial, sob a fajuta e injustificável
alegação de que a legislação eleitoral proibia a divulgação de dados que
pudessem favorecer candidatos.
Na
atual conjuntura, é completamente impossível se imaginar em algum êxito da
administração do país, quando o governo pensa em consegui-lo tão somente com o
emprego do entendimento e da aproximação com a sociedade organizada, sem
esboçar o mínimo de esforço no sentido de mudança da sua mentalidade quanto aos
métodos ultrapassados e retrógrados de imobilismo das estruturas do Estado, a
exemplo do arraigado fisiologismo na administração pública, em que os
ministérios e as empresas públicas, em quantidade injustificável, são loteados
aos aliados da coalizão de governabilidade, em troca de apoio político, sem o
menor critério pertinente ao mérito administrativo.
Não é verdadeiro
que o povo quer mais ética, porque ele ressente mesmo é da existência dela, pois
a falta de ética tem sido, infelizmente, a marca registrada de muitos políticos
que cresceram na vida pública justamente menosprezando o princípio ético, o
qual somente tem o devido valor quando o povo se conscientiza sobre a sua
importância para o aprimoramento do princípio democrático.
Também não
é que o povo queira mais democracia, porque a democracia plena é a aspiração de
nação livre e independente, que não se harmoniza com a falta de ética dos maus
políticos, quando, para eles, a verdadeira ética somente é invocada para
possível socorro às suas conveniências políticas, como parece ser o caso,
agora, das lideranças petistas, que veem o distanciamento de seu partido do
povo exatamente em razão da perda do princípio da ética.
Na
atualidade, nem mesmo quem teria votado na presidente brasileira estaria satisfeito
com o desempenho dela, à vista dos resultados das pesquisas, que mostram o alto
nível de desaprovação do governo, em percentual superior a 70% dos
entrevistados, graças à sua incapacidade para administrar o país e a
inconsistência do princípio ético.
A verdade
é que parcela significativa dos eleitores que votaram na oposição desaprova a
forma como o país vem sendo administrado, por não corresponder aos parâmetros
desejáveis de ética, transparência, moralidade e eficiência, notadamente na
condução das políticas econômicas, na prestação dos serviços públicos, no
combate à corrupção, ante a fragilidade dos controles e da fiscalização na
aplicação dos recursos públicos, para a qual não há a mínima preocupação com as
prioridades que devem imperar nos governos cônscios de suas responsabilidades
perante o povo.
Espera-se
que os brasileiros, no âmbito de sua responsabilidade cívica, sejam capazes de
entender, com a máxima urgência, que a inobservância dos princípios da ética, transparência, moralidade
e eficiência são extremamente prejudiciais à consecução dos objetivos
essenciais à satisfação das necessidades da população, ante as dificuldades na
condução das ações de incumbência constitucional do Estado, notadamente das políticas
econômicas, que se mostram prenhe de frustrações com os terríveis indicadores a
indicar tendência de forte recessão, com reflexos no desenvolvimento do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 02 de agosto de 2015
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