domingo, 16 de agosto de 2015

Em defesa de irregularidades?

A Presidência da República montou verdadeira tropa de choque para fazer defesa das pedaladas fiscais e isso vem mobilizando tanto o Executivo como o Legislativo, principalmente com suas forças de proteção no Senado Federal.
A tese central da defesa do governo é que as pedaladas não são nenhuma novidade, porque elas já ocorriam em outros governos, mesmo que em intensidade menor, fato esse lembrado de forma enfática para sensibilizar a opinião pública, no sentido de tentar recuperar a sua confiança para reverter a difícil e delicada situação desfavorável na análise do Tribunal de Contas da União, onde há forte tendência de rejeição das contas do governo, em princípio, por ampla maioria.
É inacreditável que o governo seja capaz de constituir tropa de choque para defender irregularidades cometidas pela presidente do país com a finalidade de se beneficiar eleitoralmente, na última campanha da reeleição, porque isso não condiz com os princípios da legalidade e da dignidade que devem imperar na execução dos recursos públicos, cujas manobras somente se harmonizam com as tiranias próprias das republiquetas, onde o ordenamento jurídico não passa de peça de ficção e as regras constitucionais e legais são ignoradas sem o menor pudor, com o beneplácito da sociedade, que ainda aplaude e defende a insanidade da classe política dominante, em nome de interesses igualmente escusos e questionáveis.
À toda evidência, governo que fica menosprezando as imposições legais e constitucionais, como é o caso das pedaladas fiscais, não tem condição de merecer, em país sério, responsável e competente, nenhuma aprovação, quanto mais os míseros 7,7%, porque estão em apreciação os princípios da dignidade e da responsabilidade no desempenho de suas funções institucionais de zelar incondicionalmente pelo rigoroso cumprimento do regramento jurídico do país, quanto mais em se tratando que isso faz parte do juramento de posse do presidente, prestado ostensivamente diante da nação.
A quebra de compromisso constitucional prestado pelo governo deveria merecer o imediato afastamento do titular, porque isso implica a quebra da dignidade da liturgia do cargo mais importante do país e do modelo de responsabilidade como cidadão que tem o dever de servir de inspiração para todos os brasileiros.
Nenhum governo pode ser exercido por quem não consegue ser fiel aos seus compromissos perante a nação, convindo se ressaltar que as irregularidades ínsitas nas pedaladas fiscais tiveram o condão de maquiar as contas do governo, com o que foi possível a candidata oficial atravessar a campanha eleitoral sob a imagem de boa gestora, cujas contas se mantinham estritamente equilibradas, porém sob o artifício do adiamento do pagamento das obrigações constitucionais de despesas, sempre contabilizadas "rigorosamente" em conformidade com os limites impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal, conquanto isso apenas representasse mero engodo, para enganar parcela significativa dos tolos dos brasileiros, que acreditaram cegamente nessa gigantesca farsa.
Enquanto a “lei de Gerson” continuar sendo aplicada por pessoas inescrupulosas, evidentemente com o propósito de tirar vantagem ilícita da situação, o Brasil há de ser nação politicamente desmoralizada, desacreditada e sem condições de conquistar a confiança da opinião das comunidades nacional e internacional, justamente pelos seguidos exemplos de manobras destinadas a manipular tudo, inclusive as contas públicas, que foram deliberadamente arranjadas contabilmente para demonstrar situação que não refletia à realidade dos fatos, ou seja, o governo precisava, nas circunstâncias, mostrar a saúde de suas contas fazendo uso de artifício que feria, em substância, as normas constitucionais e legais de regência, embora isso caracterize crime de responsabilidade, que é gastar além da disponibilidade financeira.
Os brasileiros precisam se conscientizar que a dignidade do povo pode e deve ser medido pelo comportamento institucional e funcional de seus governantes, que são, em princípio, seus fiéis representantes na forma da Carta Magna, os quais têm o dever de dar bons exemplos de honorabilidade e de nobreza, como forma de aperfeiçoamento dos princípios maiores de civilidade.
          Como em nenhum país do mundo é crível se tentar defender a legitimidade de atos indiscutivelmente irregulares e antiéticos, a exemplo das pedaladas fiscais, que tiveram por objetivos a maquiagem de resultados em benefício da candidata oficial, os brasileiros têm o dever cívico de repudiar e condenar os aludidos atos, que deveriam ter sido evitados pelo governo, à luz dos princípios da honestidade, transparência, legalidade e dignidade, como demonstração de grandeza no sentido da preservação da licitude que deve sempre imperar nas atividades e nos procedimentos da incumbência constitucional e legal da administração do país. Acorda, Brasil!  
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 16 de agosto de 2015

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