quarta-feira, 12 de agosto de 2015

O panelaço da esperança?

O último programa político do PT foi pródigo em ataques à oposição e ironia aos panelaços, na tentativa de sobrelevar as suas qualidades de agremiação inigualável e de menosprezar as realizações dos governos anteriores aos seus, exatamente quando, agora, as avaliações de seu desempenho mostram à saciedade a posição de inferioridade da governança do país, que tanto incomoda e martiriza quem sempre teve o rei na barriga, considerando-se o suprassumo de todos os governos, dando a entender que estes sequer existiram de verdade, tamanha a prepotência petista.
          A presidente da República disse que consegue suportar pressões e injustiças e o antecessor dela afirmou que o pior momento do governo do PT ainda é melhor que períodos de gestões anteriores. 
Apesar de reconhecer erros, sem mencioná-los, o partido ressalta, pasmem, que eles foram necessários para determinado momento, mas, nesse ponto, foi apresentada a ridícula justificativa de que a crise não é só no Brasil, ou seja, o país, no governo petista, tem direito a cometer falhas exatamente porque outros países também erraram, como se houvesse o mínimo de plausibilidade na alegação tão absurda e estrambótica como essa.
O programa chegou ao cúmulo da irracionalidade de justificar os erros como “Um esforço desse tamanho faz pressão nas contas públicas. Mas será que o governo errou ao tentar de todas as maneiras evitar que a crise arrombasse a porta dos brasileiros? Aqui para nós, não é melhor a gente não acertar em cheio tentando fazer o bem do que errar feio fazendo o mal?”.
As afirmações constantes do parágrafo acima esboçam argumentos esfarrapados quanto aos absurdos descontrole dos gastos públicos, como se eles fossem necessários para se evitar mal pior, quando se sabe que a sua prática extrapolou irremediavelmente os limites impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal, sendo completamente descabida justificativa tão simplista e desconexa como essa, que não faz o menor sentido, em termos técnicos, uma vez que, na verdade, o governo gastou além dos recursos existentes em caixa, em evidente ultrapassagem dos limites prudenciais, cujos atos caracterizam crime de responsabilidade fiscal.
Chega a ser risível a legenda apelar ao povo para que “Não se deixe enganar pelos que só pensam em si mesmos”, quando foi exatamente o PT que enganou os brasileiros depois que assumiu o poder. A partir de então, ele elegeu a perenidade no poder como seu principal projeto político, tendo promovido as piores maldades com a finalidade de mantê-los aos seus domínios, a exemplo das espúrias coalizões de governabilidade, que foram implantadas mediante alianças com os políticos execrados no passado pelo partido.
No desfecho da exposição, a legenda baixou o nível do programa, ao ironizar os panelaços contra a presidente do país, ao afirmar que “Nos últimos tempos, começaram a dar uma nova utilidade às panelas. A gente não tem nada contra. Só queremos lembrar que fomos o partido que mais encheu a panela dos brasileiros. Se tem gente que se encheu de nós, paciência. Estamos dispostos a ouvir, corrigir, melhorar. Mas, com as panelas, vamos continuar fazendo o que a gente mais sabe: enchê-las de comida e de esperança. Esse é o panelaço que gostamos de fazer pelo Brasil”.
É pena que a presidente do país afirme que consegue resistir às pressões e às injustiças, porque, na verdade, as pressões sobre a petista são notórias e estão sendo realizadas com muita frequência e intensidade, por serem oriundas de causas bastante justas e indiscutivelmente nascidas, nutridas e desenvolvidas no seio do governo e do PT, em clara demonstração da falta de governabilidade do país, propiciando que a população se manifeste com maior clarividência para patentear a real existência de insatisfação e desaprovação quanto aos desastrosos rumos tomados pelas políticas públicas, quando a economia se desenvolve em sentido contrário ao anseio da sociedade.
A insatisfação contra o governo se justifica em razão da ineficiente execução das políticas públicas, por ter permitido o descaminho da recessão, do desemprego, da desindustrialização, da falta de investimentos, do agravamento das mazelas da prestação dos serviços públicos e, enfim, da falta de perspectivas sobre a retomada do desenvolvimento, porque isso tem sido a marca do governo totalmente em dissonância com os parâmetros de eficiência e de competência, cuja desarmonia da gestão governamental contribuiu para destrambelhar as estruturas do Estado, por pura falta de condições gerenciais e administrativas, notadamente no que diz respeito ao loteamento dos ministérios e das empresas estatais entre os partidos da sua base de sustentação, em indecente troca de apoio político e verdadeiro fisiologismo conhecido entre os cientistas políticos como o famoso "toma lá, dá cá", que é nada mais nada menos do que a pior materialização da indignidade na administração do país, justamente por contribuir para a sua ineficiência e a prestação de serviços públicos de péssima qualidade.
No que diz respeito às injustiças, parece que somente a presidente consegue vislumbrar o difícil quadro de precariedade como sendo benéfico para a população e que isso poderia ser visto como injusta avaliação de governo que simplesmente se encontra na contramão da realidade brasileira.
Já o líder-mor do partido se houve com a prepotência costumeira, ao menosprezar as realizações dos governos anteriores ao do PT, quando compara o seu pior desempenho como sendo igual ou superior ao de outros governos, fato que demonstra tremenda falta de sensibilidade quanto às precisas avaliações da população, que o governo petista é aprovado pelo quase desprezível percentual de 8% dos entrevistados, mas a sua desaprovação é esmagadora, por superar os 70% das pessoas ouvidas, fato que é mais do que suficiente para se concluir que a situação do país é muito mais feia e grave do que o PT enxerga e transmite para seus seguidores, que ainda acreditam nesse governo com histórico de incompetência, corrupção e descrédito, à luz dos fatos concretos e verdadeiros.
Não há dúvida de que faltou um pouco de humildade para os responsáveis pela quebradeira do país reconhecer suas fragilidades, mesmo que momentaneamente, porque isso faz parte de as pessoas com um pouco de racionalidade e de bom senso puderem enxergar os fatos como eles são na realidade e procurarem mostrá-los sem rodeios nem subterfúgios, mas não foi exatamente isso que aconteceu no programa carregado de omissões e de inverdades.
          O povo precisa se conscientizar, com urgência, de que a mentalidade de poucos políticos ainda se encontra bem distante da sensibilidade da população brasileira, que agora tem tido a dignidade de expressar exatamente como os fatos estão acontecendo, em que pese contrariar explicitamente a opinião de quem se acha dono da razão e acima de tudo e de todos, como se os brasileiros fossem incapazes do merecimento da dignidade de se manifestar contra o que se encontra fora dos padrões da normalidade, da racionalidade, da civilidade e do bom senso. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 12 de agosto de 2015

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