O último programa político do PT foi pródigo em
ataques à oposição e ironia aos panelaços, na tentativa de sobrelevar as suas
qualidades de agremiação inigualável e de menosprezar as realizações dos
governos anteriores aos seus, exatamente quando, agora, as avaliações de seu desempenho
mostram à saciedade a posição de inferioridade da governança do país, que tanto
incomoda e martiriza quem sempre teve o rei na barriga, considerando-se o
suprassumo de todos os governos, dando a entender que estes sequer existiram de
verdade, tamanha a prepotência petista.
A
presidente da República disse que consegue suportar pressões e injustiças e o
antecessor dela afirmou que o pior momento do governo do PT ainda é melhor que
períodos de gestões anteriores.
Apesar de reconhecer erros, sem mencioná-los, o
partido ressalta, pasmem, que eles foram necessários para determinado momento,
mas, nesse ponto, foi apresentada a ridícula justificativa de que a crise não é
só no Brasil, ou seja, o país, no governo petista, tem direito a cometer falhas
exatamente porque outros países também erraram, como se houvesse o mínimo de
plausibilidade na alegação tão absurda e estrambótica como essa.
O programa chegou ao cúmulo da irracionalidade de
justificar os erros como “Um esforço
desse tamanho faz pressão nas contas públicas. Mas será que o governo errou ao
tentar de todas as maneiras evitar que a crise arrombasse a porta dos
brasileiros? Aqui para nós, não é melhor a gente não acertar em cheio tentando
fazer o bem do que errar feio fazendo o mal?”.
As afirmações constantes do parágrafo acima esboçam
argumentos esfarrapados quanto aos absurdos descontrole dos gastos públicos, como
se eles fossem necessários para se evitar mal pior, quando se sabe que a sua
prática extrapolou irremediavelmente os limites impostos pela Lei de
Responsabilidade Fiscal, sendo completamente descabida justificativa tão
simplista e desconexa como essa, que não faz o menor sentido, em termos
técnicos, uma vez que, na verdade, o governo gastou além dos recursos
existentes em caixa, em evidente ultrapassagem dos limites prudenciais, cujos
atos caracterizam crime de responsabilidade fiscal.
Chega a ser risível a legenda apelar ao povo para
que “Não se deixe enganar pelos que só
pensam em si mesmos”, quando foi exatamente o PT que enganou os brasileiros
depois que assumiu o poder. A partir de então, ele elegeu a perenidade no poder
como seu principal projeto político, tendo promovido as piores maldades com a
finalidade de mantê-los aos seus domínios, a exemplo das espúrias coalizões de
governabilidade, que foram implantadas mediante alianças com os políticos
execrados no passado pelo partido.
No desfecho da exposição, a legenda baixou o nível
do programa, ao ironizar os panelaços contra a presidente do país, ao afirmar
que “Nos últimos tempos, começaram a dar
uma nova utilidade às panelas. A gente não tem nada contra. Só queremos lembrar
que fomos o partido que mais encheu a panela dos brasileiros. Se tem gente que
se encheu de nós, paciência. Estamos dispostos a ouvir, corrigir, melhorar.
Mas, com as panelas, vamos continuar fazendo o que a gente mais sabe: enchê-las
de comida e de esperança. Esse é o panelaço que gostamos de fazer pelo Brasil”.
É
pena que a presidente do país afirme que consegue resistir às pressões e às
injustiças, porque, na verdade, as pressões sobre a petista são notórias e estão
sendo realizadas com muita frequência e intensidade, por serem oriundas de
causas bastante justas e indiscutivelmente nascidas, nutridas e desenvolvidas
no seio do governo e do PT, em clara demonstração da falta de governabilidade
do país, propiciando que a população se manifeste com maior clarividência para
patentear a real existência de insatisfação e desaprovação quanto aos desastrosos
rumos tomados pelas políticas públicas, quando a economia se desenvolve em
sentido contrário ao anseio da sociedade.
A
insatisfação contra o governo se justifica em razão da ineficiente execução das
políticas públicas, por ter permitido o descaminho da recessão, do desemprego,
da desindustrialização, da falta de investimentos, do agravamento das mazelas
da prestação dos serviços públicos e, enfim, da falta de perspectivas sobre a
retomada do desenvolvimento, porque isso tem sido a marca do governo totalmente
em dissonância com os parâmetros de eficiência e de competência, cuja
desarmonia da gestão governamental contribuiu para destrambelhar as estruturas
do Estado, por pura falta de condições gerenciais e administrativas, notadamente
no que diz respeito ao loteamento dos ministérios e das empresas estatais entre
os partidos da sua base de sustentação, em indecente troca de apoio político e
verdadeiro fisiologismo conhecido entre os cientistas políticos como o famoso
"toma lá, dá cá", que é nada mais nada menos do que a pior materialização
da indignidade na administração do país, justamente por contribuir para a sua
ineficiência e a prestação de serviços públicos de péssima qualidade.
No
que diz respeito às injustiças, parece que somente a presidente consegue
vislumbrar o difícil quadro de precariedade como sendo benéfico para a
população e que isso poderia ser visto como injusta avaliação de governo que simplesmente
se encontra na contramão da realidade brasileira.
Já
o líder-mor do partido se houve com a prepotência costumeira, ao menosprezar as
realizações dos governos anteriores ao do PT, quando compara o seu pior desempenho
como sendo igual ou superior ao de outros governos, fato que demonstra tremenda
falta de sensibilidade quanto às precisas avaliações da população, que o governo
petista é aprovado pelo quase desprezível percentual de 8% dos entrevistados, mas
a sua desaprovação é esmagadora, por superar os 70% das pessoas ouvidas, fato
que é mais do que suficiente para se concluir que a situação do país é muito
mais feia e grave do que o PT enxerga e transmite para seus seguidores, que
ainda acreditam nesse governo com histórico de incompetência, corrupção e
descrédito, à luz dos fatos concretos e verdadeiros.
Não
há dúvida de que faltou um pouco de humildade para os responsáveis pela
quebradeira do país reconhecer suas fragilidades, mesmo que momentaneamente,
porque isso faz parte de as pessoas com um pouco de racionalidade e de bom
senso puderem enxergar os fatos como eles são na realidade e procurarem mostrá-los
sem rodeios nem subterfúgios, mas não foi exatamente isso que aconteceu no
programa carregado de omissões e de inverdades.
O
povo precisa se conscientizar, com urgência, de que a mentalidade de poucos
políticos ainda se encontra bem distante da sensibilidade da população
brasileira, que agora tem tido a dignidade de expressar exatamente como os
fatos estão acontecendo, em que pese contrariar explicitamente a opinião de
quem se acha dono da razão e acima de tudo e de todos, como se os brasileiros
fossem incapazes do merecimento da dignidade de se manifestar contra o que se
encontra fora dos padrões da normalidade, da racionalidade, da civilidade e do
bom senso. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 12 de agosto
de 2015
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