terça-feira, 11 de agosto de 2015

A marca da incompetência administrativa

O ministro da Fazenda pretende criar tributo federal sobre heranças, cuja medida já teria sido comunicada à presidente do país, sob o argumento de que é a melhor opção entre as medidas em estudo para a parcela mais rica da população dar sua contribuição ao ajuste fiscal.
Para tanto, ele determinou à Secretaria da Receita Federal estudos sobre os mecanismos legais e as alíquotas que poderão ser adotadas para a cobrança desse tributo, que depende do crivo do Congresso Nacional.
Até o momento, as iniciativas anunciadas pelo governo, na tentativa de estancar o rombo das contas públicas, tiveram por alvo o trabalhador de renda mais baixa, a exemplo da alteração das regras sobre a concessão do abono salarial, a concessão de pensão por morte do trabalhador, a rigidez sobre o controle do seguro defeso e a revisão da desoneração da folha de pagamentos de empresas.
Embora o novo imposto se harmonize com o pensamento do PT, por constituir avanço que irá ter abrangência, desta feita, sobre a classe mais rica, a taxação de heranças frustra a bancada do partido no Congresso Nacional, que tem discurso mais incisivo no sentido tributar grandes fortunas ou a distribuição de lucros e dividendos.
Uma senadora petista, que é defensora da tributação dos mais ricos, declarou: "Penso que é muito mais justo o imposto progressivo sobre grandes fortunas. Haveria um fato gerador anualmente, sem depender da morte do contribuinte".
Já outro senador petista deixou clara sua preferência pela taxação sobre lucros e dividendos, incluindo remessas ao exterior, uma vez que muitos empresários exercem funções executivas em suas companhias, mas, no lugar de receber salários, são remunerados sob a forma de distribuição de lucros.
A sanha arrecadadora do governo, ou seja, do Leão da Receita Federal nunca esteve com suas garras tão afiadas e sedentas para estrangular os contribuintes como agora, em razão de os técnicos terem a incumbência de se debruçarem sobre a tributação de grandes fortunas, heranças, lucros e dividendos e altas doações em dinheiro, que são praticamente isentas de impostos, embora o ministro da Fazenda não seja simpatizante de nenhuma dessas alternativas, por considerar que a sua aprovação mais prejudica do que ajuda a economia.
Não obstante, tendo em conta a necessidade de arrecadação e a pressão dos parlamentares petistas, que demonstram resistência a alguma alteração de direitos dos trabalhadores, o ministro da Fazenda cedeu e anuiu sobre a taxação de heranças.
Na concepção dele, a tributação sobre lucros e dividendos poderia ser vista como forma de punição, com poder de afugentar o capital estrangeiro produtivo investido no Brasil, tendo em vista que as subsidiárias das multinacionais mandam para suas matrizes lucros gerados aqui no país.
Não há a menor dúvida de que este país não tem o mínimo de sensibilidade e muito menos qualificação para compreender que a carga tributária tupiniquim já é uma das mais extorsivas do mundo, que onera impiedosamente o contribuinte, que é obrigado a pagar tributos além da sua capacidade contributiva, fato que enseja urgente reforma do sistema tributário, de modo que possa haver racionalidade e melhor equacionamento sobre a exigência tributária, que teria como contraposição a racionalização e o aperfeiçoamento da máquina pública, no sentido de se evitar desperdício, mediante a brusca redução dos gastos com descomunal quantidade de ministérios, empresas públicas e cargos comissionados, por não corresponderem às exigências de eficiência na prestação dos serviços públicos da sua incumbência constitucional e legal.
          Os homens públicos precisam se conscientizar de que Brasil tem que encontrar fórmula sadia, que não prejudique ainda mais o contribuinte, quando houver necessidade de se controlar e equilibrar as contas públicas, evitando-se o terrível constrangimento de se criar tributos como indispensável equilíbrio das contas do governo, que deve, sobretudo, antes, controlar os excessivos gastos e implantar eficientes controle e fiscalização sobre a execução dos recursos públicos, principalmente com medidas rígidas de combate à corrupção, que tem sido verdadeira praga causadora de enorme dilapidação do erário.
          É indiscutível que a incompetência administrativa permite se vislumbrar que é mais importante se criar tributo, para penalizar ainda mais o contribuinte, do que decidir pelo providencial corte de desperdícios na administração pública, mediante a diminuição pela metade do número de ministérios, com a extinção dos abomináveis cabides de empregos; a redução da quantidade de deputados, senadores e dos exagerados cargos do Parlamento; a eliminação de injustificáveis mordomias, regalias, vantagens, ajudas, auxílios, verbas diversas, nos três poderes da República; e, enfim, a implantação de nova mentalidade com relação à verdadeira finalidade das funções públicas, que devem satisfazer com exclusividade o interesse público, porquanto toda disposição em contrário a esse receituário tem a condenação dos brasileiros, responsáveis pela manutenção do atual falido Estado.
É aconselhável, à luz da sensatez e da racionalidade administrativa, que o governo, ao invés de cogitar pela criação de tributos, que, no caso, teriam por finalidade a cobertura de rombo gerado pelo costumeiro e irresponsável descontrole das contas públicas, quando se gasta muito mais do que se arrecada, dignasse, em sintonia com os padrões de administração que prima pela eficiência, austeridade, economicidade e responsabilidade quanto à gestão dos recursos públicos, pela promoção de reformas gerais das estruturas do Estado, em harmonia com a realidade social, econômica, política e administrativa do país. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 11 de agosto de 2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário