segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Condenáveis jeitinhos

 
O governo vem utilizando, de longa data, a infalível e muito bem sucedida estratégia para conquistar apoio à sua base de sustentação no Congresso Nacional, com o fortíssimo argumento da distribuição de cargos nos ministérios e nas empresas estatais, que é fortalecida com os repasses de emendas parlamentares.
Com esses gestos que já se tornaram bastante conhecidos como vexaminoso jeitinho brasileiro do “toma lá, dá cá”, o governo vem conseguido driblar as crises de sustentabilidade e de falta de apoio dos congressistas.
Essa prática nada recomendável tem o condão de desmoralizar qualquer gestão pública, por envolver recursos e máquina públicos e também ser normalmente identificada como acenos de “diálogo” para a governabilidade questionável, que somente consegue emplacar seus projetos no Parlamento com o peso da influência de medidas nem sempre afinadas com os princípios originários da ética, moralidade, dignidade, legalidade e probidade, conceitos estes que se exigem primacialmente na administração de qualquer país com o mínimo de decência e seriedade.
É inadmissível que, em pleno século XXI, ainda existam povos, como os brasileiros, que ainda tenham a mentalidade absolutamente impregnada pela falta de consciência sobre a dignidade que deve haver na administração do país com as potencialidades e grandezas sociais e econômicas como o Brasil, que, por certo, já teria alcançado novos horizontes de modernidade e riqueza de seu povo caso os homens públicos tivessem o mínimo de sensibilidade sobre o real sentido dos princípios e objetivos saudáveis da administração pública.  
É indiscutível que o governo somente tem conseguido alguns acordos de convivências pacíficas e construtivas quando promove o loteamento de ministérios e empresas públicas entre os partidos aliados, na consolidação da lastimável troca de apoio envolvendo as agremiações, mediante a formalização do execrável fisiologismo de coalizão implementado com maior vigor na gestão petista, que consiste no espúrio apoio político fundamentado no indecente “toma lá, dá cá”.
Essa infeliz e recriminável prática se encontra muito bem banalizada na administração pública, que foi fomentada com o inchamento da quantidade de ministérios, chegando a atingir, pasmem, 39 pastas, justamente para a viabilização desse inescrupuloso sistema que deve existir somente no país tupiniquim, tendo como consequência a inevitável precariedade e deficiência da prestação dos serviços públicos, que são de péssima qualidade e não primam pelo rigor da observância, à luz dos ditames constitucionais, dos princípios da eficiência, competência e economicidade. 
No caso do presidente do PSD, a avaliação da petista teve o cuidado de perscrutar o encanto e o poder de aglutinação dele para mais de 80 deputados em novo bloco de aliados ao governo e ainda do seu pode de articulador competente, atributos estes que mereceram a titularidade de importante pasta na Esplanada dos Ministérios, fato que demonstra verve da petista em prestigiar muito bem as qualidades em proveito de seus interesses, embora nem sempre com o emprego de métodos afinados aos princípios da legalidade, como nesse caso da distribuição de cargos públicos, em troca de apoio político.
É lamentável que, mesmo diante da modernidade e dos avanços da humanidade, ainda exista governo de país considerado potência econômica mundial que, de forma ilegítima, utiliza sistematicamente a máquina e recursos públicos para solucionar as questões políticas e pessoais, como se isso não representasse ato administrativo indigno e recriminável, porquanto se trata de péssimo exemplo de governança, por nem sempre condizer com os princípios constitucionais da administração pública.
A acomodação de aliados políticos em ministérios e empresas estatais, como mera troca de apoio político, manifestadamente para satisfação de interesses pessoais ou partidários, representa verdadeira afronta à modernidade democrática e aos princípios da eficiência e meritocracia, por haver nisso nítida contribuição para o incremento da deficiência e decadência dos objetivos da administração pública, em clara dissonância com os permanentes anseios de desenvolvimento do país. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 03 de agosto de 2015

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